A vida de Jana Lima mudou completamente em pouco mais de um mês, período em que ela foi surpreendida com o diagnóstico de câncer e precisou amputar a perna esquerda. No primeiro momento, a promotora de eventos não quis aceitar a amputação, mas foi convencida pelo médico que o procedimento poderia oferecer muitas possibilidades, além de eliminar maior risco do desenvolvimento da doença. Jana aceitou seu destino. Fez uma amputação transtibial. Perdeu parte da perna, mas ganhou oportunidade para reconstruir sua jornada e realizar sonhos.
Hoje Jana recebe uma rede de apoio que passa por familiares, amigos e anjos que surgiram com o intuito simples de ajudar. Entre eles estão o médico oncologista Marcelo Souza, do Hospital do Câncer de Pernambuco, o treinador Ismael Marques e o lateral-direito do Sport, Patric.
Superando o diagnóstico
Jana tem 32 anos e trabalha como promotora de eventos. Ela sempre gostou de praticar atividades físicas. Começou a correr, mas um desconforto no pé não permitia que ela evoluísse no esporte. Testou pedalar e gostou. "Eu sentia uma coisa estranha no pé há um ano e não sabia o que era. Então parei de correr e comecei a andar de bicicleta. Além disso, marquei médico e fiz uma ultrassom no começo do ano para tentar resolver as dores. O resultado colocou em dúvida se era fibroma ou neuroma. Então precisei fazer uma ressonância para ter mais certeza sobre o diagnóstico", disse.
O problema é que a pandemia do novo coronavírus atrapalhou os planos de Jana, que também estava sem plano de saúde para tentar agilizar o processo. Ela acabou adiando tudo até setembro, mês em que fez sua última corrida. "Foi bom durante a corrida, mas quando cheguei em casa não conseguia colocar o pé no chão", falou. Ela fez a ressonância e descobriu que tinha um tumor. O diagnóstico de câncer veio no dia 21 de outubro. O médico confirmou que seria necessário fazer uma cirurgia para amputar os três últimos dedos e parte do pé.
Sem querer acreditar no destino, Jana procurou segunda opinião e conheceu doutor Marcelo Souza, do Hospital do Câncer de Pernambuco. "Eu não aceitava a amputação. Estava arrasada. Mas ele também explicou que a amputação transtibial seria a melhor solução. Em outro caso as células cancerígenas poderiam permanecer. Ele me explicou com tanta atenção que aceitei e no dia 5 de novembro fiz o procedimento", relatou.
Mudança de vida e rede de apoio
Desde a amputação a vida de Jana foi preenchia com muito apoio, carinho e afeto. As amigas promoveram a campanha "Pernoca Nova para Jana" e fizeram uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro para comprar uma prótese e garantir a reabilitação com fisioterapia. Mais de 300 pessoas já ajudaram. O lateral-direito do Sport Patric também conheceu a história de Jana e vai apoiá-la na reconstrução de sua vida. "Do meu lado esquerdo está Patric, capitão do Sport, um cara incrível, que se propôs a entrar na minha causa sem nem me conhecer. Independente de torcida", escreveu Jana, alvirrubra, após sua primeira consulta na clínica de fisioterapia.
O sonho é se tornar paratleta e iniciar uma carreira como empresária, gerenciando o próprio negócio.
"Só coisa boa aconteceu comigo depois da cirurgia. Eu pensava que nunca mais iria fazer o que gosto, que é correr e pedalar, mas hoje observo uma vida com muitas possibilidades e sem limites. Aprendi isso com uma amiga que também é amputada, Malu", disse Jana, que continuou sobre sua transformação. "Hoje eu me sinto mais forte. Antes eu chorava com tudo e hoje eu consigo ter forças para seguir e passar essa força para quem eu amo. Eu me vi morta quando recebi a notícia, mas decidi receber a doença como um desafio e pensei: 'eu não vou ser vencida. eu vou vencer essa doença'", disse.
O treinador Ismael Marques, responsável pela equipe de paradesporto da Universidade Federal de Pernambuco, explicou que a prática esportiva ajuda no processo de adaptação após mudança causada por acidente ou doença, como é o caso de Jana.
"A história dela me interessou muito no sentido de querer ajudar. Porque geralmente quando as pessoas sofrem um acidente, uma doença, e precisam se amputadas, elas passam por um período de luto e meu intuito é não deixarem elas entrarem em depressão nesse período de luto. A atividade física ajuda a descobrir novas possibilidades de viver a vida. Porque elas vão ter uma mudança de vida, vão conhecer a vida da pessoa com deficiência que é agora uma realidade. O esporte ajuda na transformação, ajuda no processo", explicou o treinador.
A prática regular de esportes ajuda readaptação do equilíbrio corporal, readaptação da marcha porque há uma nova forma de se locomover. "A locomoção vai ser diferente, atividade esportiva vai ser diferente. Mas os exercícios físicos ajudam no processo de readaptação da caminhada e da corrida. Além de oferecer oportunidade para o surgimento de uma grande atleta", finalizou Marques.
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