O volante Rithely entrou na Justiça do Trabalho com uma ação contra o Sport cobrando quase R$ 21 milhões de pagamentos atrasados, encargos trabalhistas e multas rescisórias. O jogador está afastado do elenco principal do Leão desde a volta do futebol após paralisação de três meses por causa da pandemia do novo coronavírus. O Jornal do Commercio e Blog do Torcedor teve acesso ao número do processo que corre em segredo desde o início do mês de julho. Em nota oficial, o jogador revelou todos os problemas e ainda lamentou o não cumprimento do acordo realizado com o clube rubro-negro para voltar no começo deste ano.
"Tentei de todas as formas resolver a situação, tentei conversar com o presidente (Milton Bivar), mas nunca tive uma resposta, parcelei todos meus salários em atraso em 60 vezes, em 5 anos, e mesmo assim, o clube não pagou nenhuma parcela e continuei sem receber meus salários", afirmou o volante.
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Emprestado ao Internacional em 2018 e 2019, Rithely detalhou todos os débitos no pronunciamento. Quando chegou no clube gaúcho e foi diagnosticado com uma lesão no tornozelo, o volante disse que não recebeu os salários de agosto a setembro, 13º salário e direitos de imagens de agosto a setembro. Quantias essas que deveriam ter sido pagas pelo Sport conforme estabelecido em contrato durante o período de recuperação. No ano seguinte, passou os 12 meses sem receber os direitos de imagem, também acordados, mesmo não vestindo a camisa rubro-negra.
Após o fim do vínculo com o Colorado e tendo contrato junto ao Sport até o final de 2022, Rithely voltou ao Sport e precisou negociar os débitos dos anos anteriores. Em nota, ele disse que aceitou receber os 14 meses de direitos de imagem e seis meses de salários atrasados dividido em 60 parcelas durante cinco anos. Além disso, contou que concedeu seis meses para o Leão iniciar o pagamento do acordo. Porém, garantiu que nenhuma parcela foi paga.
Ainda referente a esta temporada, Rithely ressaltou que não recebeu os salários de fevereiro a junho e nem os direitos de imagem neste período. Apenas foi efetuado o pagamento do salário e direito de imagem do mês de janeiro e parte do vencimento mensal de fevereiro.
"Neste momento, são 11 meses de salários em atraso, 13º salários de 2017 e 2018 em atraso, 12 meses sem depósitos do FGTS, duas férias em atraso, 20 meses do direito de imagem em atraso, cinco parcelas das luvas em atraso, e, mais grave que tudo isso, estou proibido de exercer minha profissão, de trabalhar e treinar junto com meus companheiros", escreveu o jogador.
Após orientação de um dirigente do clube, que não teve o nome revelado pelo jogador, Rithely também declarou que estava treinando em separado desde o dia 30 de junho com três pratas da casa. Segundo apuração, os trabalhos estavam acontecendo na Ilha do Retiro sob orientação de um preparador físico das categorias de base e os demais atletas eram o lateral-direito Everthon, o meia Pablo Pardal e o atacante Pedro Maranhão.
Questionado sobre a situação do volante, nessa segunda-feira, em entrevista à Rádio Jornal, o presidente Milton Bivar evitou entrar em detalhes sobre o assunto. "Olha, o caso de Rithely não estou autorizado a falar sobre esse problema. Talvez seja o problema mais sério que a gente tenha", disse.
O pagamento não uniforme dos salários e direitos de imagem dos jogadores do Sport já havia sido revelado pelo Jornal do Commercio e Blog do Torcedor. Situação que foi comprovada com as ações trabalhistas do zagueiro Cleberson e os volantes Rithely e Jean Patrick.
"Permanecem meu respeito, amor, carinho e admiração pelo clube e pela torcida. Mas a relação ficou insustentável, sem sequer ter uma única posição ou conversa oficial com o clube, e como mantenho o sustento de minha família exclusivamente com meu trabalho, fui obrigado a lutar pelos meus direitos", reiterou Rithely. Os advogados do volante são os mesmos do atacante Pedro Maranhão, que também entrou na Justiça contra o Sport.
A reportagem do JC e Blog questionou o departamento jurídico do Sport, mas não obteve resposta sobre o assunto até o fechamento desta matéria.
CONFIRA NA ÍNTEGRA A NOTA DE RITHELY
Antes que venha a ser especulado os motivos da minha saída do Sport Club do Recife, resolvi expor todos os motivos que me levaram a ingressar com o pedido judicial de rescisão do meu Contrato de Trabalho. Desde 2011 sou atleta deste grande clube, o maior do Nordeste, um dos maiores do país. Clube que aprendi a amar, torcida apaixonante, que me fazia emocionar sempre que entrava em campo. Sempre foi meu maior orgulho vestir essa camisa e entrar na Ilha do Retiro com este manto.
Porém, no final de 2017 a situação começou a mudar. Em 15/10/2017, durante partida contra o Atlético Mineiro, levei um pisão no tornozelo esquerdo. Após a partida, realizei uma série de exames específicos, e sempre me foi dito que não era nada, que era uma simples entorse no tornozelo. Mesmo com dores, sempre honrando o Sport, continuei entrando em campo e fazendo o meu melhor.
Como todos sabem, em Março de 2018 o Sport recebeu uma ótima proposta do SC Internacional e decidiu me emprestar. Ao chegar no SC Internacional e efetuar os exames médicos, foi diagnosticado que a lesão ocorrida em 15/10/2017 era grave, necessitando de cirurgia, que ocorreu no começo de Abril de 2018. Passei toda aquela temporada fora dos gramados, me recuperando da cirurgia.
Durante este período, ficou contratualmente estabelecido que o Sport deveria continuar arcando com minha remuneração mensal. Porém não recebi os salários de Agosto à Dezembro e também o 13º salário de 2018, e também os Direitos de Imagem de Agosto e Setembro de 2018.
Em 2019, enquanto estava emprestado ao SC Internacional, meus salários eram pagos por eles e meu Direito de Imagem era pago pelo Sport, conforme Contrato de Empréstimo. Durante o ano inteiro de 2019, nenhum Direito de Imagem foi pago. Foram 12 meses sem receber do Sport.
Retornei ao Sport em Janeiro de 2020, quando já haviam 6 meses de salários em atraso e 14 meses sem pagamento dos Direitos de Imagem. Por amar o clube, demonstrando meu interesse em ficar e continuar meu Contrato até o fim (até 2022), aceitei parcelar todos os valores atrasados (6 meses de salários e 14 meses de Direito de Imagem) em 60 parcelas, em 5 anos. Concedi ainda um prazo de 6 meses para que o Sport pagasse os débitos antigos. Porém, sequer foram pagas as duas primeiras parcelas desse acordo.
E mesmo assim, continuei a me dedicar ao máximo em campo, e vinha sendo titular até a suspensão dos Campeonatos em virtude da pandemia. E mesmo assim, em 2020, recebi apenas o salário de Janeiro e parte de Fevereiro, e o Direito de Imagem de Janeiro. Não recebi o restante de Fevereiro, Março, Abril, Maio e Junho, nem salário, nem Direito de Imagem.
Durante a pandemia, segui a risca todas as recomendações do Departamento de Futebol, efetuando treinos diários, que eram repassados a todos nós atletas. No começo de Junho fomos informados que nossa reapresentação seria em 15/06/2020.
Estava ansioso pelo retorno, quando na véspera da reapresentação, recebi ligação de um Dirigente do Clube, dizendo que não era para eu me reapresentar, que minha reapresentação seria somente em 30/06/2020. Não entendi os motivos, vez que todo elenco se reapresentaria no dia seguinte.
Quando me reapresentei em 30/06/2020, fui colocado para treinar em separado, junto com outros 3 atletas recém promovidos da categoria de base, treinando em locais e horários distintos dos demais atletas profissionais. Naquele dia, o Presidente do clube concedeu entrevista, dizendo que eu havia faltado ao treino. Mas eu estava lá. Por mensagens de whatsapp (anexadas ao processo), questionei qual era a intenção dele ao dizer o que não era verdade.
Continuo treinando em separado, porém, após muita reflexão, decidi entrar com o pedido de rescisão do meu contrato. Neste momento, são 11 meses de Salários em atraso, 13º salários de 2017 e 2018 em atraso, 12 meses sem depósitos do FGTS, 2 férias em atraso, 20 meses do Direito de Imagem em atraso, 5 parcelas das luvas em atraso, e, mais grave que tudo isso, estou proibido de exercer minha profissão, de trabalhar e treinar junto com meus companheiros.
Tentei de todas as formas resolver a situação, tentei conversar com o Presidente mas nunca tive uma resposta, parcelei todos meus salários em atraso em 60 vezes, em 5 anos, e mesmo assim, o clube não pagou nenhuma parcela e continuei sem receber meus salários.
Permanecem meu respeito, amor, carinho e admiração pelo clube e pela torcida. Mas a relação ficou insustentável, sem sequer ter uma única posição ou conversa oficial com o clube, e como mantenho o sustento de minha família exclusivamente com meu trabalho, fui obrigado a lutar pelos meus direitos.
Atenciosamente,
Rithely
DÉBITO DOS DIREITOS ECONÔMICOS
O Sport ainda precisa lidar com outro débito envolvendo o volante Rithely. Na volta do jogador neste ano, o Leão ainda precisou negociar com os empresários dele a compra de 50% dos direitos econômicos, em 2017, que não foi paga. Débito de cerca de R$ 7,5 milhões que estava sendo cobrado na Justiça pelas empresas JRP Marketing Esportivo e Luppi Participações.
Inicialmente, no fim de janeiro, o Sport chegou a divulgar que tinha obtido o investidor que pagaria a dívida em troca de uma permuta de divulgação da marca na camisa rubro-negra. Mas, posteriormente, em documentos vazados na internet, foi revelado que o acerto bancaria apenas R$ 1 milhão do débito e os outros R$ 4 milhões seriam parcelados em 40 vezes (R$ 100 mil cada) a partir do dia 20 do mês passado.
Tratativa essa no valor total de R$ 5 milhões apenas com a JRP Marketing Esportivo. Restando ainda acertar mais R$ 2 milhões com a Luppi Participações. Sendo assim outa dívida, além do cobrado por Rithely na Justiça desde o começo de julho. O primeira passagem do volante no Sport durou de 2011 até 2022.
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