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Make para pele negra: o que falta ao mercado?

Publicado em 26/07/2020 às 6:00
VERNER BRENAN/DIVULGAÇÃO
modelo negra - FOTO: VERNER BRENAN/DIVULGAÇÃO
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Quando a cantora barbadense Rihanna lançou a marca Fenty Beauty, em 2017, causou uma rebuliço no mercado de maquiagem. Pela primeira vez, mulheres de culturas sub-representadas e pouco atendidas eram destaque em uma campanha de beleza com prestígio global. A grife entendeu não só a diversidade de cores de pele, mas, principalmente, os inúmeros subtons que há. E a marca chegou para preencher uma lacuna especialmente em produtos para peles negras. Rihanna se mostrou muito firme com a ideia de que ninguém deveria ficar de fora com sua visão de "beleza para todos".

A marca, infelizmente, não está disponível para venda no Brasil, embora rumores de que ela está para chegar tenham surgido no início do mês. Mas levantou a discussão sobre a necessidade de as grifes brasileiras e importadas seguirem o mesmo caminho. Por aqui, mulheres negras ainda sentem dificuldade em encontrar uma oferta maior de subtons (amarelados, avermelhados, azulados...). A maquiadora paulista Daniela Damata (2) acredita que há um empenho na indústria em atender uma gama maior de mulheres, embora considere lento. "Entender sobre essas tonalidades e pesquisar sobre isso talvez seja o que ainda falta. Mas eu sinto uma preocupação, sim. A gente ainda não entende se isso é genuíno ou só uma questão de hipe", diz. A pernambucana Alice Galhardo (3) ainda sente, no entanto, uma escassez no mercado. "Hoje em dia, eu vejo uma variedade muito maior, mas ainda não é o que a gente precisa. As tonalidades são escassas", conta.

Se por um lado o avanço da indústria de cosméticos vem crescendo nesse aspecto, ainda falta pensar na questão como um todo. "Ter corretivo correspondente com a base, o pó solto, o pó compacto, as cores de iluminador, blush, batom, gloss, até delineadores coloridos que também funcionem em pele negra. Sinto que falta a indústria pensar que as mulheres negras usam tudo de maquiagem", explica Daniela.

Uma das maiores queixas das mulheres negras com relação aos produtos para a pele, como bases, corretivos e pós, é a ineficácia das marcas no desenvolvimento e pigmentação dos produtos. O resultado é uma gama de maquiagens que acabam por deixar a pele acinzentada. "Principalmente nas marcas mais baratas. Marcas como MAC, Laura Mercier, Dior, Lancome, as de luxo, já conseguem desenvolver um número maior de tonalidades para pessoas negras. Por aqui, falta ainda entender essas tonalidades para poder encontrar cores específicas e reais para pele negra", explica Dani. Alice Galhardo esclarece que é fundamental, antes de mais nada, que a mulher entenda bem qual é o seu tom de pele. "Isso conta muito em como o produto reage na pele."

Aqui no Brasil, marcas como Negra Rosa, Divas Black e Da Minha Cor foram criadas para atender especificamente a pele da mulher negra e surgiram já preenchendo essa lacuna. São empresas pequenas, mas que entenderam a deficiência do mercado e conseguiram desenvolver esses produtos levando em consideração a variação de subtons. "Óbvio que têm a limitação de serem pequenas e, por isso, não conseguem atingir tantas pessoas como uma empresa grande. Ainda falta incentivo para as marcas de afro-empreendedores", comenta.

Para além da oferta de produtos, quando falamos em comunicação, em fazer com que esses produtos cheguem até as mulheres negras ou mesmo que elas sintam-se incluídas no pensamento global, por aqui ainda nota-se timidez. "O que vejo no Brasil é que a gente ainda está no formato cota. Então, sempre vai ter uma negra, uma ruiva, uma branca, uma asiática e a gente ainda está nesse padrão de 'se é para falar de diversidade a gente coloca uma pessoa negra do meio e pronto'. Representatividade é importante mas tem uma relação direta com proporcionalidade; 50% das pessoas no Brasil se declaram negras", opina. (A.P.)

AUGUSTO MARTINS/DIVULGAÇÃO
Dani Damata é especialista em pele negra - FOTO:AUGUSTO MARTINS/DIVULGAÇÃO
LUCAS SOARES/DIVULGAÇÃO
Alice Galhardo - FOTO:LUCAS SOARES/DIVULGAÇÃO

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