Em se tratando de fé, não são poucos os que lhe negam o caráter racional por acharem que raciocina-se sobre a crença, mas não sobre a fé, a qual é adquirida à medida em que se evolui. Ao adotar tal concepção muitas pessoas confundem emoção com fé. A emoção não esclarecida pela razão pode levar ao fanatismo, ou à "fé cega", que é a negação da própria fé.
Nesse contexto, Emmanuel, mentor espiritual de Chico Xavier, em seu livro "Vinha de Luz", cap 40, afirma que "[...] a conquista da crença edificante não é serviço de menor esforço". "[...] A maioria das pessoas admite que a fé constitua milagrosa auréola doada a alguns espíritos privilegiados pelo favor divino". [...] "A sublime virtude é construção do mundo interior, em cujo desdobramento cada aprendiz funciona como orientador, engenheiro e operário de si mesmo". (EMMANUEL, 1952, VDL, p. 91/92).
Diz ele, em "O Consolador", que "Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza [...] que ultrapassou o âmbito da crença religiosa [...]", e aduz que "[...] conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer 'eu creio', mas afirmar 'eu sei' [...]. (EMMANUEL, 1941, CSL, p. 120/121).
Já, no Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, Allan Kardec definiu a fé espírita fundamentada na observação dos fatos, na lógica e na razão, não tendo nenhum sentido uma fé contemplativa capaz de levar as pessoas à imobilidade, no aguardo de providências de Deus em seu favor. Aduz que a fé não se impõe nem se prescreve e para crer é preciso compreender; "A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa e qualquer pessoa a pode possuí-la; a criatura então crê porque tem certeza e ninguém tem certeza senão porque compreendeu". E conclui: "Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão em todas as épocas da Humanidade". (KARDEC, [1864], 2013, ESE, p. 253/259).
Por sua vez, Jesus, nossa referência maior, exemplificou, de forma pioneira, a fé raciocinada ao instigar a todos a pensar, refletir, utilizar a razão e o entendimento.
Merece destaque também o notável trabalho do psiquiatra Augusto Cury, que se debruçando criticamente "sobre o maior desafio da Ciência", e pretendendo entender "Quem foi Cristo", publicou a obra "Análise da Inteligência de Cristo" (5 vol.), da qual extraímos: "Jesus não discorria sobre uma fé, sem inteligência. "[...] Para o Mestre, primeiro se deveria exercer a capacidade de pensar e refletir, antes de crer, depois vinha o crer sem duvidar." (CURY, 1999, 1º vol., p. 18).
Finalmente, vamos aprender com o magistrado e dedicado estudioso espírita, Haroldo Dutra Dias, que ao ser inquirido qual conduta adotar diante desse bombardeio de informações sobre a "quarentena do Covid", opinou que é prudente usar a fé raciocinada, que é a do bom senso, do equilíbrio, que escuta longamente, observa com vagar, raciocina bastante, e só depois tira conclusões.
José Edson F. Mendonça trabalha há 40 anos no Instituto Espírita Gabriel Delanne, Campo Grande - Recife/PE.
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