E se, um dia, o amado de tua alma vier te visitar? Ó tamanha ventura que a nada se pode comparar! E se, um dia, aquele por quem tua alma mais aspira, vier dizer-te, inesperadamente, que tu és de todas as realidades criadas, a que mais lhe é cara, a que mais alegra o seu ser...
E se, um dia, o amado de tua alma vier te visitar, ó grande ventura! Como descrever o que comparado a nada pode ser e jamais será? Tu sentirás, por algum momento, um indescritível sentimento de seres, desde sempre, amado, sem que encontres, em ti mesmo, razão que explique tamanha alegria, qual seja, a de seres pelo próprio amor preferido e, desde sempre, amado.
Por outro lado, tua alma experimentará um sentimento de profunda nudez ao perceber que aquele que te ama, é, ao mesmo tempo, o onipotente e a suprema humildade, pleno de amor em expressões e gestos jamais a ti revelados em nenhum momento.
Experimentarás a vergonha de seres como és e, os teus atos ganharão uma dimensão para muito mais além do que já tenha sido pensado por tua mente ou sentido em teu coração. A enormidade do nada que tu és, frente ao infinito do amor incriado deixar-te-á num tal estado, que, se não for por sua graça, tu não te manterás mais vivo.
Se, um dia, o amor, o amor incriado, o amado de tua alma vier te visitar - ó grande ventura, ó grande acontecimento! – experimentarás, por longos dias o desejar estar lá, ainda precisando estar do lado de cá e uma grande solidão, em forma de sofrimento, o mais pungente, a dor de toda dor, jamais sentida por ser vivo em nenhum momento; pois, a tua alma desejaria, novamente, estar com aquele que sempre te amou - e, jamais como ele, criatura alguma te amará – junto com o sentimento de voltar a tê-lo contigo novamente.
Contudo, não está em ti determinar se isso, outra vez, acontecerá. Passarás os teus dias nessa grande tensão: o desejo de que já estejas com o amado e, ao mesmo tempo, de sentir-te limitado, vivendo o previsível ou o imprevisível do agora e sofrendo por coisas tão pequenas, limites da tua humana condição.
Se, um dia, o amado de tua alma vier te visitar, pede-lhe que te conceda, ao menos, a graça de suportares sua ausência; pois, não seria possível, depois de ter experimentado, tão profundamente, seu convívio, continuar a querer estar vivo, sem desejar já se passar para o outro lado. Pede ao amado de tua alma que te conceda a graça de jamais deixares de amar aqueles que são os seus preferidos, aqueles que de tudo são desprovidos, exatamente, esses por quem menos tu tens olhado.
Que o amado de tua alma faça-se reconhecido no rosto sujo e esquecido que te interpela e aí tu encontrarás ao menos um consolo, sabendo que amarás os seus amados.
Um dia qualquer, como já aconteceu da vez primeira, o amado de tua alma, novamente, poderá te visitar e, diferentemente da primeira vez, com olhar brando e misericordioso ELE te olhará mais intensamente, a fim de que possas experimentar a grandeza que existe no ser de quem ama e só por amor deixa-se conduzir até se passar, por definitivo, para o lado de lá.
Sim! Porque, em definitivo, grande parte tua já não viveria mais do lado de cá. Somente por amor aos seus amados é que tu ainda suportarias a ausência do amado, sem que esperasses, quis te visitar um certo dia.
"Um só é o Maior; o outro, sempre o menor. O tom vem pelo sol menor; mas a regência é em Sol Maior. Sou o menor; ele, é o maior. Em mim, por ser menor, surge o que aponta onde está Ele, o Maior"
Padre Airton Freire é fundador e presidente da Fundação Terra - www.fundacaoterra.org.br
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