Compulsando alguns memoráveis diálogos de Jesus com seus apóstolos, consubstanciados no livro Boa Nova, no qual seu autor, Humberto de Campos, nos toca profundamente nos enchendo de grande emoção e entusiasmo ao abordar a questão da Fidelidade a Deus.
O poeta maranhense, com beleza e maestria impar, ilumina a sublime narração discorrendo sobre aquele colóquio eivado de sabedoria: - Uma luz imorredoura salta aos nossos olhos nos chamando a atenção; embevecidos por inolvidável claridade emanada pelo Mestre, um dos filhos de Zebedeu lança um questionamento, indagando qual a primeira qualidade a cultivar no coração, para que nos sintamos plenamente identificados com a grandeza espiritual da tarefa?
- Acima de todas as coisas, é preciso ser fiel a Deus, respondeu o Messias. A pequena assembleia parecia altamente enlevada e satisfeita, mas, André, inquiriu: - Mestre, nestes últimos dias, tenho-me sentido doente e receio não poder trabalhar como os demais companheiros, como poderei ser fiel a Deus, estando enfermo?
Com ênfase, responde Jesus, que nos dias de calma, é fácil provar-se fidelidade e confiança, porém, não se prova dedicação, verdadeiramente, senão nas horas tormentosas, em que tudo parece contrariar e perecer, aduzindo: - André, se algum dia teus olhos se fecharem para a luz da Terra, serve a Deus com a tua palavra e com os ouvidos; se ficares mudo, toma, assim mesmo, a charrua, valendo-te das tuas mãos.
Ainda que ficasses privado dos olhos e da palavra, das mãos e dos pés, poderias servir a Deus com a paciência e a coragem, porque a virtude é o verbo dessa fidelidade que nos conduzirá ao amor dos amores!
O grupo dos apóstolos calara-se, impressionado, ante aquelas recomendações. O luar esplendia sobre as águas silenciosas. O mais leve ruído não traía o silêncio augusto da hora. André chorava de emoção, enquanto os outros observavam a figura do Cristo, iluminada pelos clarões da Lua, deixando entrever um amoroso sorriso. Então, todos, impulsionados por soberana força interior, disseram, quase a um só tempo: - Senhor, seremos fiéis!
Jesus continuou a sorrir, como quem sabia a intensidade da luta a ser travada e conhecia a fragilidade das promessas humanas. Entretanto, do coração dos apóstolos jamais se apagou a lembrança daquela noite luminosa de Cafarnaum, aurelada pelo ensinamento divino. Humilhados e perseguidos, crucificados na dor e esfolados vivos, souberam ser fiéis, através de todas as vicissitudes da Natureza, e, transformando suas angústias e seus trabalhos num cântico de glorificação, sob a eterna inspiração do Mestre, renovaram a face do mundo.
Outrossim, segundo o notável filósofo, escritor, professor e conferencista brasileiro, Huberto Rohden (1893-1981), viver com fé é manter essa sintonia com Deus, essa comunhão, tanto pela consciência como pela vivência.
Desse modo, a fidelidade deve ser estendida aos propósitos da nossa missão, envidando os melhores esforços cotidianos para nos manter fiéis aos compromissos de regeneração assumidos, desempenhando-os com dedicação, esmero e zelo; assim, estaremos colaborando efetivamente para a melhoria das condições de vida de todos, a partir de nós.
José Edson F. Mendonça presta colaboração ao movimento espírita, como palestrante e membro do Instituto Espírita Gabriel Delanne, rua São Caetano, 220, Campo Grande - Recife/PE
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