Por que precisamos relembrar o holocausto?

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Publicado em 12/02/2023 às 0:00

PROFESSOR JÁDER TACHILSKY

A história nos traz lições que precisam ser absorvidas, refletidas e trabalhadas para que as novas gerações não venham a sofrer pelos mesmos erros cometidos no passado. O genocídio perpetrado pelo nazismo contra o povo judeu e contra outros segmentos, conhecido como Holocausto, insere-se nessa condição.
Um país em crise, economia combalida, a busca de bodes expiatórios, discursos de ódio, foram o caldo necessário para a instalação de um regime supremacista no coração da Europa.
Um discurso bem construído, independente de falsas premissas, é capaz de mobilizar uma população, ávida por encontrar culpados e em busca de soluções mágicas.
Talvez fosse a Alemanha o país onde os judeus estivessem mais integrados em toda a Europa. Eram professores, cientistas, artistas, funcionários públicos. Durante a primeira guerra mundial mostraram-se extremamente leais à sua pátria. Muitos oficiais judeus foram condecorados como heróis naquela ocasião.
Com a chegada do partido nazista ao poder na Alemanha, foram implantadas leis discriminatórias que cada vez mais segregava os judeus do restante da sociedade.
O nazismo proclamava o conceito da raça pura ariana. Que haveria no mundo raças superiores e inferiores. Que tais raças inferiores contaminavam às demais e que precisavam ser alijadas desse convívio.
Com a eclosão da segunda guerra mundial, à medida que países eram invadidos pelo exército alemão, a população judaica era confinada em bairros, denominados guetos. Passavam a viver em condições sub-humanas, com ingesta baixíssima de alimentos, eclosão de doenças e epidemias.
Na sequência, eram levados como gado, em trens, para campos de concentração e extermínio. Os mais aptos realizavam trabalho escravo para suprir a máquina de guerra nazista. Os inaptos, assassinados em câmaras de gás.
Nesse processo, cerca de seis milhões de judeus foram exterminados, dentre os quais um milhão e meio de crianças. Não porque estivessem em guerra. Simplesmente por sua certidão de nascimento judaica. Bastava que algum dos pais ou algum dos avós fosse identificado como judeu para que estivesse deliberada sua condenação à morte.
O objetivo proclamado por Hitler era a chamada “solução final”, eliminar os judeus da face da terra.
Durante o período da guerra, muitos judeus buscaram inutilmente asilo em outros países. Via de regra encontraram as portas fechadas.
No entanto, registramos inúmeros exemplos de pessoas que se arriscaram para ajudar a salvar milhares de vidas. Essas pessoas são reconhecidas no Memorial do Holocausto, em Jerusalém, como “Justos entre as Nações”.
Cabe destacar os diplomatas brasileiros, Aracy de Carvalho e Luiz Martins de Souza Dantas, que, transgredindo as orientações oficiais salvaram a vida de inúmeros judeus assegurando vistos para que viessem para o Brasil, escapando da morte certa na Europa.
Durante esse triste capítulo da história, a resistência judaica emergiu de diversas formas. Cabe destacar a valorosa luta no gueto de Varsóvia, quando combatentes judeus, desprovidos de qualquer estrutura, enfrentaram por semanas o poderoso exército alemão.
O dia 27 de janeiro foi instituído pela ONU como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Nessa data houve a libertação do campo de concentração de Auschwitz pelas tropas soviéticas. É fundamental relembrar esses terríveis fatos para servir como aprendizado. Para que não permitamos que se repitam.
Infelizmente, ainda nos defrontamos, mundo afora, com discursos de ódio, intolerância, segregação. Os ecos das vozes das vítimas bradam em nossos ouvidos. Precisamos educar nossas crianças para compreender que todos os seres humanos são providos de igual dignidade. Isso independe de sua etnia, crença, convicções. Só a educação para a paz e o respeito à diversidade será capaz de construir um mundo melhor para as futuras gerações.

Jáder Tachlitsky, economista, é professor de Cultura Judaica e História Judaica é Coordenador de Comunicação da Federação Israelita de Pernambuco

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