Culpa: Razão e emoção

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JC

Publicado em 26/11/2023 às 0:00
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OTÁVIO PEREIRA DE OLIVEIRA

O que é a culpa senão uma inconsistência da razão obliterada pela emoção. Ela é mais que uma sensação de desconforto que nos leva ao desequilíbrio e à inequívoca realidade, muitas vezes distorcidas, pela falta de compreensão do momento que se viveu ou das atitudes intempestivas tomadas.
Observando o comportamento humano e as suas relações com o próximo, encontramos de um modo geral três formas mais evidentes. A primeira se caracteriza pelo uso da agressividade como se espelhasse no outro o resultado de suas frustrações. Buscando eliminar o que lhe incomoda, o ser procura destruir o espelho em que se vê refletido. Essa violência vai desde a calúnia, a maledicência, a agressão física, podendo levar o outro até a morte. Entretanto, destruído o “espelho”, o sentimento que lhe abrasa não diminui.
Esse tipo de resposta vai desde o sentimento de culpa individual até as expressões coletivas, tais como perseguição daqueles que pensam de forma diferente; que tenham formação cultural de estrutura diferente da sua; entre outros. O que pode despertar conteúdos atávicos, que emanando do profundo da alma se manifestam, como se levasse o indivíduo a experiências de encarnações passadas.
A segunda, mais comum, é a ação do indivíduo contra si mesmo, como um processo de autopunição. Mergulhado nas suas frustrações, não encontra respostas plausíveis para o que sente naquele momento existencial. Há uma tendência à introspecção, nada alentadora, onde obnubilado em suas respostas afetivas busca encontrar-se. E por não reconhecer este lugar, porque nunca existiu, atenta contra si mesmo. Nesta situação, encontramos a destinação às depressões, às síndromes de pânico e outras patologias psicológicas. Entretanto, nestes momentos, a memória espiritual não se manifesta, uma vez que perdido no momento existencial se esquece de sua origem divina e daí a fé perde o seu espaço.
A outra forma é a de “deixe a vida me levar, vida leva eu”, que conduz o indivíduo a uma forma letárgica de existir. E é essa usurpadora das motivações existenciais, que por extensão tira também a compreensão da destinação espiritual.
Os processos psicológicos, psiquiátricos quando buscados, aliviam a ação dos sintomas. Muitos recorrem a crendices populares tentando encontrar alguém capaz de milagrosamente lhe tirar deste estado afetivo doloroso. De um modo geral, Deus não se encontra imerso nestes processos. Quando se recorre a Ele é na busca de alívio imediato.
Mas, no evoluir das religiões, Deus, através de Jesus, nos coloca diante de um manancial de recursos, que nos mostra de onde viemos, onde nós estamos e para onde iremos.
Encontra-se no Cristianismo, as respostas necessárias. Muito embora a pureza deste Cristianismo estivesse conspuscarda às alegorias a ele imputadas pelas ameaças de um inferno e as benesses de um céu. Os séculos passaram e o Cristianismo distorcido ganhou espaço. Lutas sangrentas foram travadas para que ele fosse implantado no mundo. A mesma violência que fora usada contra Jesus e seus apóstolos, quando perseguidos, foi usada por aqueles que se diziam possuidores da verdade. Entre elas tivemos as Cruzadas que com sangue buscavam libertar a “terra santa” e a noite escura e tenebrosa da inquisição, que com a agressividade exacerbada buscavam implantar pela força, os ensinamentos e a vivência de Jesus.
No triste momento em que o sangue humano corria pelas sarjetas das ruas de Paris. Primeiro pela sangrenta revolução francesa, onde ela mesma se alimentou do sacrifício dos seus próprios líderes. A seguir pela retomada do governo por Napoleão. E neste momento de agonia humana nasce Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais tarde Allan Kardec. Os anos passam e aquele menino é mandado a estudar na Suíça, sob a guarda moral e intelectual de Pestalozzi. Ele cresce, amadurece e volta a sua casa francesa. Depois de muitas experiências e observações, se vê nomeado pela espiritualidade, como o Codificador.
Ouvindo e lendo as comunicações dos Espíritos, traz a lume um Cristianismo diferente, aquele primitivo, sem alegorias sem rituais, mas na sua essência moral e espiritual. Onde, através de uma lógica inquestionável, nos traz a possibilidade de entendermos quem somos e o que fazemos neste mundo de Provas e Expiações.
Este pequeno preâmbulo histórico se fez necessário para que possamos entender o que se passa e como se constrói o pensamento e sentimento do Ser humano neste mundo. E é estudando e praticando aquilo do qual nós não podemos mais alegar ignorância, que podemos entender a dor, o sofrimento, a humildade, a solidariedade.
Pensemos agora no Sentimento de Culpa e suas consequências. Esquadrinhando a Codificação, poderíamos reduzir se isso fosse possível e chegarmos a uma palavra simples, mas de dimensões bastante significativa: a Obsessão. Muitos são os conceitos, vamos repetir alguns deles para que possamos compreender um pouco mais a violência, a agressividade, a depressão, a síndrome de pânico e outras patologias que assolam a humanidade. “É o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas (...).”, diz Kardec. “A obsessão é virose de vasta gênese, muito desconhecida entre os estudiosos da saúde física e mental. Suas sutilezas e variedades de manifestações têm ângulos e complexidades muito difíceis de serem detectadas pelos homens, em face das suas dificuldades de penetrar-lhe nas profundezas geradoras do problema”, destaca Divaldo Pereira Franco, em psicografia do Espírito Manoel Philomeno de Miranda.
"Consequência nefasta de conúbio entre corações facínoras, negadores da Bondade Divina. Cruel mecanismo depurador, herança malévola de incautos, que submetem à escravidão dos sentidos, por reles prazer de um dia”, revela o Espírito Yvonne A. Pereira, em “As Obsessões e Suas Máscaras”.
A Doutrina Espírita que repassou os ensinamentos de Jesus e codificou passando pelo crivo da razão e da lógica nos leva, através da imortalidade da alma, a um lugar que só poderia ser entendido pela reencarnação das almas dos que “morreram”.
Quando entendemos o processo encarnação/desencarnação/reencarnação é que podemos acessar algumas das informações que permaneciam obscuras e muitas vezes recolhidas no plano do misterioso. Fica mais fácil clarificar muitos dos comportamentos que ficavam na ordem do inexplicável.
Retomando a ideia da frustração que pode levar o indivíduo a comportamentos agressivos, ansiosos e seus desdobramentos, podemos agora mostrar que a alma é imortal e que a pluralidade lhe determina diferentes formas existenciais. E que a Justiça Divina sempre é praticada através da responsabilidade que cada um há de exercer segundo cada uma das existências anteriores.
Não “há fogo do inferno”, e aqui cabe um diálogo estabelecido entre dois policiais num filme, a saber; um dos policiais dizia: -” Estou vivendo num inferno”.” O outro lhe pergunta: - “Você sabe o que é o inferno? E acrescenta: - “O inferno é inconsistência da razão”. Apenas uma frase dita numa conversa que parecia mais um desabafo, entretanto, há uma profundidade neste diálogo. Quando encontramos no Livro dos Espíritos, numa de suas perguntas feitas pelo Codificador: Onde ficam escritas as Leis Morais? A lei divina é eterna, imutável (como o próprio Deus), perfeita, igual para todos, inscrita na consciência dos homens e revelada em todos os tempos (de acordo com a capacidade e compreensão dos homens).

Otávio Pereira de Oliveira é trabalhador voluntário da Federação Espírita Pernambucana (FEP)

 

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