Jubileu 2025, vivência eclesial
Sob o olhar cristão, tudo que diz respeito à vida humana, à realidade social e à natureza pode ser lido com as luzes da transcendência divina

DOM GENIVAL SARAIVA
Sob o olhar cristão, tudo que diz respeito à vida humana, à realidade social e à natureza pode ser lido com as luzes da transcendência divina e com as lentes da ciência, no tempo e no contexto em que acontecem. Nada acontece por acaso, cabendo à pessoa usar sua inteligência para compreender fenômenos humanos, sociais, naturais, materiais sob a ótica da revelação, para os que creem, e da ciência, para quem crê e para quem não crê.
O ato de crer está na esfera do divino, do espiritual, do religioso; quem recorre à ciência procura identificar o porquê de tudo, valendo-se, racionalmente, de investigações, de pesquisas e de outras vias. Convém reafirmar, com segurança, que não há oposição, contraposição entre fé e ciência. Conteúdos de fé como, por exemplo, a transubstanciação do pão no Corpo e do vinho no Sangue de Cristo, na celebração da Santa Missa, não são compreendidos pela relação de causa e efeito que é, precisamente, o modus operandi da ciência.
O conhecimento da ciência não alcança esse fenômeno, por estar na esfera da transcendência, mas também não tem argumentos fundamentados para negá-lo. Em que consiste a transcendência? “a tradição judaico-cristã e islâmica está baseada na noção de um Deus transcendente, ou seja, uma entidade primeira e separada da matéria que foi responsável por criar a matéria. Para o cristianismo, porém, a figura de Jesus Cristo é a personificação imanente do Deus transcendente.”
O Jubileu de 2025, instituído pelo Papa Francisco através da Bula Spes non confundit – a esperança não engana’ (Rm 5, 5), celebra os 2025 anos do nascimento de Jesus Cristo, o Deus que se humanizou, que assumiu a condição humana em tudo, exceto no pecado. (cf Hb 4,15-16) Esse evento, em si, não é um ato objeto da fé cristã, mas, como se lê na Bula pontifícia, faz parte da História da Igreja. A ciência reconhece Jesus como marco divisor da história. “A vida de cada pessoa se divide exatamente como se divide a história universal; ‘antes de Cristo’ e ‘depois de Cristo’.” Por conseguinte, sob o ângulo da ciência, Jesus é visto e lido pela história, como muitas pessoas, através dos tempos.
A respeito do Jubileu de 2025, – “a esperança não engana” –, escreve o Papa: “Sob o sinal da esperança, o apóstolo Paulo infunde coragem à comunidade cristã de Roma. A esperança é também a mensagem central do próximo Jubileu, que, segundo uma antiga tradição, o Papa proclama de vinte e cinco em vinte e cinco anos. Penso em todos os peregrinos de esperança, que chegarão a Roma para viver o Ano Santo e em quantos, não podendo vir à Cidade dos apóstolos Pedro e Paulo, vão celebrá-lo nas Igrejas particulares. [...] Que o Jubileu seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança! A Palavra de Deus ajuda-nos a encontrar as razões para isso. Deixemo-nos guiar pelo que o apóstolo Paulo escreve precisamente aos cristãos de Roma.” O Papa Francisco determinou que o calendário do Jubileu de 2025 seja vivido em Roma e nas Dioceses do mundo católico, com efetiva observância de eventos e datas: “Sustentado por tão longa tradição e certo de que este Ano Jubilar poderá ser, para toda a Igreja, uma intensa experiência de graça e de esperança”....
A essa altura do ano litúrgico, com a linguagem própria do Advento, é muito apropriado lançar-se um olhar retrospectivo sobre a vivência celebrativa e pastoral das comunidades, em vista da confirmação/manutenção de tudo que foi realizado, positivamente, ou, se for o caso, assumir a atitude corajosa e responsável de “mudar o que deve ser mudado”, no processo da evangelização. Com efeito, enxergar horizontes de esperança faz parte missão profética da Igreja. As atividades e eventos programados para 2025, necessariamente, devem conter iluminações, luzes, ações e orações que assegurem aos fiéis, “peregrinos da esperança”, o cultivo da espiritualidade do Jubileu de 2025, diante das penumbras da caminhada cotidiana.
Dom Genival Saraiva é bispo Emérito de Palmares-PE