TURISMO

O drama dos turistas pernambucanos que não conseguem retornar de Portugal por conta do coronavírus

Passageiros surpreendidos por cancelamentos de voos reclamam de falta de assistência por parte da Embaixada e do Consulado do Brasil em Portugal. Escassez de alimento e de recursos financeiros aumentam a angústia de quem não consegue voltar para casa

Mona Lisa Dourado Vanessa Moura
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Mona Lisa Dourado
Vanessa Moura
Publicado em 18/03/2020 às 11:17 | Atualizado em 22/03/2020 às 19:30

Turistas pernambucanos que estão em Portugal, incluindo passageiros do navio de cruzeiro Soberano, da Pullmantur, enfrentam dias de falta de informação, orientação e apoio do governo brasileiro e das empresas de viagem. Segundo depoimentos enviados à reportagem do Jornal do Commercio, problemas como cancelamento de voos, fechamento de hotéis, escassez de alimento e a falta de assistência por parte da Embaixada e do Consulado do Brasil em Portugal estão deixando os turistas aflitos.

As centenas de passageiros brasileiros do Cruzeiro Soberano, que atracou na cidade espanhola de Cádiz no sábado (14), seguiram de ônibus até Lisboa, onde estão hospedados em hostels e hotéis. A pernambucana Anacarla Cursino, 46 anos, moradora do bairro de Tejipió, Zona Oeste do Recife, estava na embarcação e contou a dificuldade em comprar passagens de volta ao Brasil. “As passagens que compramos junto com o pacote do cruzeiro, seriam para o dia 27 de março, porque nós iríamos andar pela Europa, mas esse já tinha sido cancelado. Compramos novas passagens gastando mais de R$ 7 mil para um voo que sairia daqui de Portugal amanhã (19) às 10 horas da manhã, mas esse voo também foi cancelado.” Segundo Anacarla, só há voo disponível com destino ao Brasil a partir de abril, e com preços exorbitantes.

Sem o posicionamento da empresa CVC, que vendeu os pacotes, nem do governo, os turistas permanecem em busca de informações. Na terça-feira (17), grupos de brasileiros se deslocaram até o consulado em Lisboa para expor a situação e solicitar medidas de resolução. “Teve um grupo que foi na embaixada, mas da primeira vez não estavam recebendo as pessoas de forma presencial, só online. A gente está perdido em Portugal. Financeiramente, a gente já está com um gasto muito elevado, alimentos estão ficando escassos e no mercado só é permitido entrar uma pessoa por vez, o que resulta em filas enormes”, relatou Anacarla. 

Foto: Reprodução
Grupo de brasileiros se reúne na porta da Embaixada do Brasil em Portugal buscando por apoio, mas fica sem respostas - Foto: Reprodução

Já a baiana Arysa Souza, que esteve na embaixada e no consulado do Brasil em Portugal duas vezes, revelou em vídeo que, segundo o embaixador, a instituição não dispõe de recursos financeiros para auxiliar os cidadãos. "Ontem a gente esteve aqui na embaixada, não fomos recebidos, as portas estavam fechadas. Hoje pela manhã, a situação se repetiu, chegamos aqui num grupo grande de pessoas e a porta estava fechada novamente. Batemos na porta, tentamos interfonar, e depois de algum tempo fomos recebidos lá dentro (...) em seguida, chegou o embaixador do Brasil em Portugal, Dr. Carlos, que disse que a embaixada estava sem dinheiro e não tem como dar apoio pra gente agora", disse Arysa.

Segundo a turista, os dois órgãos jogam a responsabilidade da situação de um para o outro. "[O embaixador do Brasil em Portugal] disse que a responsabilidade não é da embaixada e sim do consulado, e quando a gente procura o consulado eles jogam a responsabilidade para a embaixada. A verdade é que a gente sai daqui hoje sem nenhuma notícia e nenhum apoio", relatou.

Suely Alves de Melo, moradora do bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife, tem 64 anos e também se encontra presa em Lisboa sem nenhuma previsão de retorno ao Brasil. A idosa, que é hipertensa e diabética, o que a coloca no grupo de risco da covid-19, teve seu voo de volta para casa cancelado sem qualquer providência da TAP no sentido de realocação de passagens. O hotel em que Suely e outros brasileiros estavam hospedados planeja finalizar as atividades nesta quarta-feira (18), o que deixará os turistas desabrigados na capital de Portugal. O país registra 448 casos confirmados do novo coronavírus. 

Ao ser questionado pela reportagem do JC nesta quarta-feira (18), o Itamaraty se limitou a responder com nota já anteriormente enviada à imprensa, sem esclarecimentos muito concretos. "Informamos que os Consulados e Embaixadas do Brasil em todo o mundo acompanham de perto a situação gerada por eventuais fechamentos de fronteiras por conta da pandemia de coronavírus, com especial atenção à situação dos turistas brasileiros. A situação dos brasileiros em Portugal está sendo acompanhada pelos Consulados do Brasil naquele país", diz a nota, que também informa não estarem fechados o Consulado e a Embaixada do Brasil em Portugal. De acordo com o documento, por conta "das restrições impostas pelas autoridades locais", em algumas vezes, foi "necessário adaptar o regime de trabalho, com horários especiais de atendimento ou teletrabalho".

GESTANTE ESTÁ NO LIMITE DO TEMPO PARA VIAJAR

Grávida de 6 meses, a fisioterapeuta Marina Cavalcanti, 31, ao lado da filha pequena e do marido, tinha Lisboa como último destino antes de regressar ao Recife após passar dois anos e meio morando na Irlanda. Mesmo integrando um grupo de prioridade, ela teve a passagem cancelada pela TAP no dia do voo, na terça-feira (17). As opções apresentadas pela companhia eram esperar a remarcação da passagem após o dia 15 de abril ou receber um voucher com o valor para ser utilizado depois.

"Se eu ficasse esperando até 15 de abril, eu já estaria nas 29 semanas de gestação. É mais complicado porque as companhias aéreas começam a exigir exames que comprovem que está tudo bem com o bebê, exigem cartas de médicos que acompanham o pré-natal e eu não tenho acompanhamento aqui", explicou.

A solução encontrada foi comprar novas passagens, no mesmo dia, para esta quarta-feira (18), mas não deu certo. "Nós tivemos, exclusivamente, o apoio da família na compra de novas passagens, de aproximadamente R$ 16 mil, à tarde. À noite, soubemos do cancelamento", disse. Agora, a esperança é conseguir embarcar no domingo (22).

TAP CANCELA VOOS PARA O RECIFE

A companhia aérea portuguesa TAP informou através da sua assessoria de imprensa no Brasil que cancelou a partir desta quarta-feira (18) os voos entre Lisboa e o Recife. Em todo o Brasil, a empresa só continuará operando para o Rio de Janeiro e São Paulo.

A decisão decorre de determinação do governo português na noite da terça (17) após o fechamento das fronteiras da União Europeia. “A partir das 24 horas de amanhã (quarta-feira, 18), estarão suspensos todos os voos internacionais para fora do espaço da União Europeia (UE) e de fora do espaço da UE para qualquer país da UE”, disse o primeiro-ministro português, António Costa. “As únicas exceções são os países extracomunitários onde há grandes comunidades portuguesas. Manteremos as ligações aéreas para os países de língua oficial portuguesa. No caso concreto do Brasil, as rotas são restringidas a Lisboa–Rio de Janeiro e Lisboa–São Paulo, ficando suspensos os voos para destinos turísticos", finaliza o premier.

Segundo a TAP, as rotas para as capitais carioca e paulista serão reforçadas para tentar trazer os brasileiros para casa, mas a companhia ainda não definiu o plano de contingência.

Até então, neste mês de março, a companhia contava com um voo direto diário (ida e volta) entre o Recife e Lisboa, em média, com capacidade para 298 passageiros. A empresa ainda não quantificou o número de clientes que já tinham passagens compradas e precisarão ser realocados nos próximos dias. 

A orientação é que os passageiros entrem no site para fazer a alteração de acordo com a disponibilidade de voos. "Quem tem passagem na mão para o dia deve ir ao aeroporto, para que a TAP tome as providências. Os demais devem tentar o site prioritariamente e, em seguida, o call center", diz o assessor da empresa no Brasil, Adriano Araújo. 

A TAP também anunciou que não cobrará taxas aos clientes que têm viagens marcadas até o dia 31 de maio e optarem por emitir um voucher não reembolsável com 100% do valor pago para utilizar em um período de até um ano para qualquer destino da companhia. A alteração pode ser feita de forma automática online no site https://myb.flytap.com. Outra alternativa é já remarcar a viagem para qualquer destino até 31 de dezembro de 2020. 

Para voos com data posterior ao 31 de maio de 2020, a companhia orienta a aguardar a evolução da pandemia do coronavírus e voltar a verificar as políticas da empresa quando a viagem estiver mais próxima. 

CODESHARE DA AZUL 

A Azul Linhas Aéreas também tem voos em codeshare com a TAP entre o Recife e Lisboa. Apesar do cancelamento da rota, de acordo com a assessoria de imprensa da empresa, os passageiros que compraram os bilhetes com a Azul poderão ser reacomodados nos voos de Lisboa com destino ao aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). Mas isso só poderá ser feito até o domingo (22/3), quando a companhia suspenderá a operação internacional completamente.

A empresa ainda não contabilizou quantos brasileiros, e pernambucanos especificamente, precisará trazer de volta ao Brasil até lá. 

Para quem tem voos para outras datas até 30 de setembro, sejam nacionais ou internacionais, a Azul permitirá a remarcação sem custos. 

POSIÇÃO DA CVC

Em nota enviada à imprensa, a CVC diz que “o cruzeiro em questão é da companhia marítima Pullmantur, responsável pelo itinerário do navio Soberano, que teve sua rota alterada, devido às restrições das autoridades portuguesas. A agência de viagens CVC tem acompanhado de perto e atuado de forma ativa nas remarcações e embarques de passageiros para o retorno ao Brasil, independentemente do destino em que se encontram. Esse trabalho está sendo realizado em cooperação com as companhias parceiras, com o objetivo de atender nossos clientes com brevidade e segurança, considerando o cenário de reduções de voos internacionais e restrições de trânsito impostos por diversos governos ao redor do mundo”.

A reportagem não conseguiu contato com a Pullmantur na Espanha. 

A Embaixada e o Consulado do Brasil em Portugal também foram procurados pela reportagem do JC para prestar esclarecimentos, mas não se pronunciaram. 

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Prevenção

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

  • Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1. 

Pandemia

Na quarta-feira (11), a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo coronavírus (covid-19) como uma pandemia. Uma doença infecciosa é considerada uma pandemia quando sua disseminação sai do controle e se espalha por uma região geográfica ou mesmo por todo o planeta, afetando uma grande quantidade de pessoas. Mais de 118 mil pessoas foram infectadas em 114 países. Ao todo, mais de 4.300 mortes foram registradas.

Coronavírus pelo mundo

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