Retirada

Trump anuncia saída de tratado que visa evitar guerra nuclear com a Rússia e gera tensão internacional

Tratado de Céus abertos foi assinado com a Rússia e outros trinta países

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Publicado em 21/05/2020 às 16:57 | Atualizado em 21/05/2020 às 17:22
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Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - FOTO: DOUG MILLS/ POOL/AFP

O presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (21) a retirada dos Estados Unidos do Tratado de Céus Abertos, assinado com a Rússia e outros trinta países, depois de acusar Moscou de violar os termos do acordo.

"A Rússia não aderiu ao tratado", disse Trump a repórteres. "Até que eles adiram, nos retiramos" do acordo, que permite verificar as movimentações militares e as medidas de controle de armas dos países signatários.

Este é o terceiro acordo de controle de armas do qual Trump decide retirar seu país desde o início de seu governo. Segundo o jornal The New York Times, Trump planeja informar Moscou na sexta-feira (22) de sua saída do pacto, assinado há 18 anos entre as duas potências e outros 32 países, principalmente membros da Otan.

Embaixadores dos países-membros da Otan foram convocados para uma reunião de urgência nesta sexta-feira após o anúncio de Trump.

"A reunião foi convocada para a tarde de sexta-feira" para analisar as consequências da decisão anunciada pelo presidente Donald Trump, informou um diplomata à AFP. A saída dos Estados Unidos do tratado deverá ser efetivada em seis meses, acrescentou a fonte.

O acordo, firmado para melhorar a transparência e a confiança entre as partes, permite aos signatários realizar um número determinado de voos de reconhecimento por ano e com apenas um breve aviso. A ideia é de que quanto mais exércitos rivais se tornem conhecidos, menor a chance de conflito entre eles. Mas as partes também usam os voos para examinar as vulnerabilidades de seus oponentes.

Moscou: um "golpe" para a segurança europeia

Jonathan Hoffman, porta-voz do Pentágono, disse que a Rússia "viola descaradamente suas obrigações" relacionadas ao pacto. "Moscou executa o tratado de uma maneira que contribui para ameaças militares contra os Estados Unidos e nossos aliados e parceiros", afirmou.

Hoffman citou a recusa da Rússia em permitir voos sobre áreas onde Washington acredita que Moscou esteja desenvolvendo armas nucleares de médio alcance, incluindo a cidade de Kaliningrado, no Mar Báltico, e perto da fronteira Rússia-Geórgia.

No ano passado, Moscou também bloqueou voos para inspecionar exercícios militares russos, normalmente permitidos sob o pacto.

Segundo o The New York Times, Trump ficou incomodado com um sobrevoo russo a campo de golfe em Bedminster, Nova Jersey, há três anos. "Nesta era de grande competição pelo poder, buscamos acordos que beneficiem todas as partes e que incluam parceiros que cumpram com responsabilidade suas obrigações", afirmou Hoffman.

O Times acrescentou que a saída deste pacto pode ser um precedente para Washington também se retirar do Novo Tratado START, que limita o número de mísseis nucleares que os Estados Unidos e a Rússia podem implantar.

Desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2017, Trump retirou-se de outros dois pactos importantes de controle de armas: o Plano de Ação Conjunto Global de 2015, para impedir o Irã de avançar em seu programa de armas nucleares; e o Tratado das Forças Nucleares de Alcance Intermediário de 1988, firmado com a Rússia.

Para Moscou, a decisão americana foi um "golpe" para a segurança europeia. "A retirada dos Estados Unidos desse tratado significa um golpe não apenas para a segurança europeia, mas também para os instrumentos militares de proteção e segurança dos próprios aliados dos Estados Unidos", disse o vice-ministro da Relações Exteriores da Rússia Alexandre Grouchko, citado por agências de imprensa locais.

"Não é um tratado bilateral, mas multilateral. E uma decisão tão brusca afetará os interesses de todos os participantes, sem exceção", acrescentou Grouchko.

"Nada impediu uma discussão mais aprofundada sobre questões técnicas que os Estados Unidos estão apresentando hoje, como, por exemplo, violações da Rússia", acrescentou, acusando Washington de ter eliminado um "instrumento que serviu aos interesses da manutenção da paz e da segurança na Europa nos últimos 20 anos".

 

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