Ao mesmo tempo em que a Califórnia reabre sua economia, o número de casos locais aumentou de forma alarmante em um estado que havia sido elogiado por sua gestão da pandemia.
E os jovens agora estão entre os mais afetados.
"O vírus não tira férias de verão... Deve-se levar essa pandemia a sério", disse o governador Gavin Newsom nesta sexta-feira (26), em um novo apelo para que as pessoas mantenham o distanciamento social e que acatem o uso de máscaras, que são obrigatórias desde a última semana.
Um total de 200.461 pessoas contraíram o vírus desde março, das quais 5.812 morreram.
Nesta terça houve um recorde de registros diários, 7.149, e na última quinta havia chegado a 4.890.
A Califórnia é um em cerca de 30 estados que enfrentam aumento no número de casos. Texas e Flórida, fortemente a favor da reabertura, ordenaram restrições como o fechamento de bares e a proibição de vender álcool.
A Califórnia, quinta economia do mundo com uma população de 40 milhões de habitantes, foi o primeiro a ordenar um confinamento geral no final de março, e colocou muita ênfase no aumento dos testes, algo considerado importante para lidar com a pandemia.
Até a presente data o estado fez 3,4 milhões de testes, com uma média diária de 100.000 exames.
O aumento dos testes explica o aumento de casos? Sim, em parte, mas outros fatores entram, de acordo com especialistas.
"O fato de também estarmos vendo um aumento no número de internações significa que há mais transmissões", ressaltou o Dr. Lee Riley, epidemiologista da Universidade da Califórnia, Berkeley.
Segundo o governador Newsom, o número de pacientes hospitalizados com a COVID-19 aumentou 32% nas últimas duas semanas, chegando a 4.240 pacientes.
É difícil determinar uma causa precisa para o aumento, embora tudo aponte para um relaxamento do comportamento, principalmente entre os mais jovens.
"Egoísta"
A norma oficial ainda proíbe membros de famílias diferentes de se encontrarem no mesmo espaço fechado. Porém, com a reabertura gradual da economia, que inclui restaurantes e academias, os californianos já tinham começado a se reunir novamente para aniversários, churrascos, passeios e saídas para a praia.
"Não sou ingênuo, as pessoas estão se aglomerando e isso aumenta a contaminação", explica Newsom.
"Temos que reconhecer que é o nosso comportamento que impulsiona esses números, e que estamos colocando vidas em risco", acrescentou.
As estatísticas mostram que 57% dos infectados são latinos, que representam 39% da população. A maioria dos pacientes (56%) tem entre 18 e 49 anos de idade.
"Eles são jovens e se sentem invencíveis, mas com todo o respeito, é egoísta pensar assim", alerta o governador californiano.
Barbara Ferrer, diretora de Saúde do condado de Los Angeles, área onde há mais casos, lembra que embora os jovens "não sejam os que mais correm risco com a doença, são os que mais podem espalhá-la".
Outro fator que pode explicar o aumento dos contágios são os protestos após a morte de George Floyd, que reuniu dezenas de milhares de pessoas por longas horas, muitas vezes sem o distanciamento correto.
"É muito provável, com o aumento que estamos vendo, que haja pessoas (infectadas) que possam ter estado no meio de alguma multidão durante os protestos", ressalta Ferrer.
Até o momento, o governador não demonstrou intenção de recuar e ampliar o confinamento.
Anthony Fauci, o especialista da área de Saúde mais respeitado durante a pandemia no país, concorda.
"Não acho que o estado da Califórnia esteja fazendo algo errado, isso tem a ver com a reação das pessoas ao processo de reabertura", disse ele nesta semana.
Por sua vez, Anne Rimoin, epidemiologista e especialista em Saúde Pública pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), prevê que "teremos muitos casos e muito mais mortes caso não tomemos cuidado".
"Se não houver distanciamento, uso de máscara, se abrir muito cedo, perceberá um aumento no número de casos e isso não é difícil de compreender", finalizou.
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