Acuado por acusações de sonegação fiscal, pela pesada conta de 205 mil mortes no país devido à pandemia de covid-19 e por questões raciais - além de aproveitar o caráter mais conciliador e sossegado do democrata Joe Biden - , o presidente Donald Trump teve a clara estratégia de partir para o ataque no primeiro debate da campanha presidencial americana, realizado na noite desta terça-feira (29), na cidade de Cleveland, Estado de Ohio.
>> Brasil entra no primeiro debate Trump x Biden por causa das queimadas na Amazônia e no Pantanal
Por vários momentos o republicano ignorou a orientação para que a fala do oponente não fosse interrompida e mesmo atropelou as falas do moderador, o jornalista Chris Wallace. Biden, por sua vez, não procedeu da mesma forma. "Você assinou um termo para não interromper o adversário. Respeite", reclamou Wallace. Ficou a impressão de que o republicano adotou o "ataque é a melhor defesa".
Sempre que confrontado, o republicano respondia com comparações ao governo Obama, de quem Joe Biden foi vice-presidente. Seja na questão racial, no tratamento à covid (comparou com as mortes da Gripe Suína) ou na economia.
- Trump promete vacina de covid-19 'para todos os americanos' até abril
- Na ONU, Trump reitera críticas à China sobre pandemia e política ambiental
- Trump indica Amy Coney Barrett para Suprema Corte dos EUA
- Trump volta a dizer que democratas tentam fraudar eleição nos Estados Unidos
- Às vésperas do primeiro debate, Biden mantém vantagem sobre Trump em duas pesquisas eleitorais
O primeiro cumprimento entre os dois foi cordial. Não houve aperto de mãos devido à pandemia. A primeira questão foi sobre a indicação da juíza conservadora Amy Comey Barrett para a o lugar da recém-falecida ministra Ruth Bader Ginsberg, de perfil progressista, na Suprema Corte. "Nós ganhamos a eleição. Eleições têm consequências. Temos uma boa pessoa, respeitada em todos os sentidos. Além disso temos tempo, inclusive depois da eleição, para essa indicação".
Biden discordou. "A gente deveria esperar o resultado da eleição. A indicada (Amy Comey Barrett) parece ser uma boa pessoa, mas acredita, por exemplo que o Care Act (plano de socorro relativo à pandemia) é inconstitucional".
Como não poderia ser diferente, a pandemia foi um dos temas que mais esquentou o debate. "Foram 205 mil mortes no turno dele", alfinetou Joe Biden. "Tivemos 20% das mortes no mundo e sabe o que é ele disse? Que era o que era. Foi o que foi porque você (apontando) é o que é. Ele nunca teve um plano, tinha informações sobre a seriedade da situação e não falou, segundo ele mesmo, para não causar pânico".
Para responder, Trump adotou um de seus lemas. "A culpa é da China. Disseram para que eu não fechasse o país, porque seria xenofóbico ou racista. Você disse para não fechar e eu fechei. Muitos democratas, pessoas que não estão do meu lado, disseram que eu fiz um ótimo trabalho. Fizemos respiradores e estamos a semanas de uma vacina, menos pessoas estão morrendo. Você nunca teria feito que eu fiz".
Joe Biden questionou o fato de Trump estar fazendo grandes comícios sem distanciamento social ou uso de máscaras. O republicano rebateu dizendo que "muitas pessoas querem me ouvir, não tem problema". O democrata então falou: "você está sendo irresponsável, não sabe o que é acordar e ver uma cadeira vazia porque uma pessoa na sua família morreu de covid"
As mortes de George Floyd e Breonna Taylor, ambos negros e que falecerem em casos de violência policial, foram usadas para falar da questão racial que sacode o país. Biden lembrou que, após a morte de Floyd, Trump teria mandado dispersar um protesto pacífico em frente à Casa Branca com forças de segurança. "Esse homem não quer unir, apenas dividir. Trump, por sua vez, afirmou que defende a lei e a ordem. "Você não consegue sequer dizer a palavra ´policia´ porque vai perder seus apoiadores da esquerda radical".
Chris Wallace perguntou a Biden porque ele, como democrata, não tinha falado com o governador democrata do estado do Oregon para parar a violência que ocorreu no mês passado em Portland. "Não tenho cargo, sou apenas um ex-vice-presidente". O mediador questionou Trump sobre se ele condenaria supremacistas brancos. "Claro. Mas eu só vejo violência vindo da esquerda".
Joe Biden então emendou com uma das mais forte frase do debate. "Sob o governo desse homem ficamos mais pobres, mais fracos, mais doentes e mais divididos".
Trump foi perguntado sobre a sonegação de impostos e disse apenas que pagou "milhões de dólares" nos anos de 2016 e 2017. O republicano também foi questionado sobre porque não deu alternativa ao plano de universalização dos serviços de saúde criado na gestão Obama, o "Obamacare". "Quero que os americanos paguem menos por uma boa saúde". "Ele não tem plano para a saúde, como não tem para nada mais", respondeu Biden.
Brasil entrou no debate
Ao criticar a política ambiental do presidente Trump, Biden disse que, se eleito, organizaria doação de 20 bilhões de dólares ao Brasil para proteger as árvores e ameaçou impor sanções econômicas caso o país não controle a situação.
"No Brasil, as florestas estão sendo destruídas", afirmou Biden. Ele prometeu, se eleito, reunir fundos para enviar ao Brasil e disse que apresentaria a ajuda da seguinte maneira: "Aqui estão 20 bilhões de dólares, parem de destruir a floresta. Se não pararem, haverá consequências significativas". O governo federal não foi citado diretamente e o presidente norte-americano não comentou a fala.
Comentários