EUA

Facebook e Instagram bloqueiam contas ligadas ao movimento QAnon

Os seguidores da teoria QAnon acreditam que um informante anônimo do alto escalão do governo, de codinome Q, trabalha heroicamente para expor uma conspiração anti-Trump

AFP
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Publicado em 07/10/2020 às 10:18 | Atualizado em 07/10/2020 às 10:20
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Seguidores da teoria da conspiração QAnon protestam contra suposto tráfico de crianças na Califórnia, Estados Unidos - FOTO: KYLE GRILLOT/AFP

O Facebook anunciou nesta terça-feira (6) o bloqueio de todas as contas ligadas ao movimento conspiracionista QAnon, tanto na rede social, quanto em sua comunidade de compartilhamento de imagens, o Instagram. A medida acelera os esforços da empresa de reprimir campanhas de desinformação, algumas endossadas pelo presidente Donald Trump, semanas antes das eleições presidenciais de 3 de novembro.

"Nós vamos remover quaisquer Páginas do Facebook, Grupos e contas no Instagram representando o QAnon, mesmo que não contenham conteúdo violento", anunciou o gigante das redes sociais em uma postagem em seu blog.

As ações, tanto do Facebook, quanto do Instagram, visaram contas vinculadas a "grupos anarquistas 'offline' que apoiam atos violentos em meio a protestos, organizações de milícias com sede nos Estados Unidos e QAnon", informou a plataforma na postagem.

Em agosto, o Facebook havia eliminado centenas de grupos vinculados à teoria da conspiração de extrema direita QAnon e impôs restrições a cerca de outras 2.000 como parte de uma ofensiva contra um aumento da violência.

O Facebook informou ter endurecido seu bloqueio ao QAnon após notar que, apesar de eliminar publicações que promoviam a violência diretamente, as mensagens dos seguidores do movimento foram adaptadas para evitar as restrições. Por exemplo, o QAnon usou a plataforma para afirmar que certos grupos iniciaram incêndios florestais que devastaram a costa oeste, desviando a atenção da polícia e dos bombeiros.

"As mensagens do QAnon mudam muito rapidamente e vemos que as redes de seguidores criam uma audiência com uma mensagem e depois mudam rapidamente para outra", informou o Facebook. "Nosso objetivo é combater isto de forma mais efetiva com esta atualização que fortalece e expande nossos esforços contra o movimento de teoria conspiratória", acrescentou.

A rede social já proíbe conteúdos que incitam a violência e organizações que a promovem.

Os teóricos da conspiração do QAnon têm usado páginas e grupos públicos e privados no Facebook para difundir "desinformação, racismo e incitação à violência apenas velada", segundo a Liga Antidifamação.

A teoria da conspiração, popular entre diferentes grupos de extrema direita, sustenta que há uma elite global que opera como uma força controladora por trás de governos, bancos e outras instituições.

Em julho, o Twitter tomou medidas enérgicas contra o QAnon quando o grupo aumentou seu alcance na corrente principal da política americana. A partir de uma publicação anônima de 2017, que alega exploração infantil e conspirações estatais, o movimento sem líderes ganhou um lugar no fluxo do Twitter de Trump. No ano passado, o FBI informou em um relatório que o QAnon era um dos vários movimentos que poderiam impulsionar "tanto grupos quanto extremistas individuais a realizar atos criminosos ou violentos".

O que é o movimento QAnon?

Os seguidores da teoria QAnon acreditam que um informante anônimo do alto escalão do governo, de codinome Q, trabalha heroicamente para expor uma conspiração anti-Trump cujos responsáveis, de alguma forma, estariam administrando uma rede satânica pedófila internacional que trafica crianças e controla o mundo. A teoria afirma que os Estados Unidos são governados por forças ocultas, as quais buscam estabelecer uma "nova ordem mundial". Apenas o presidente Donald Trump, que nunca negou abertamente os QAnons, poderia derrubá-los.

Q tem um número crescente de seguidores on-line e na vida real, inclusive entre o público que vai torcer por Trump em comícios e outros eventos. Uma apoiadora republicana do QAnon, Marjorie Taylor Greene, está prestes a ser eleita para a Câmara dos Representantes. Trump, que elogiou amplamente Marjorie, não faz nada para conter a febre Q. "Está ganhando popularidade", disse o presidente com aprovação no mês passado. "Eles gostam muito de mim."

O governante também mergulha no abismo das teorias da conspiração, falando em sabotadores vestidos de preto, "sombras tenebrosas" e se dizendo vítima de golpe de Estado ou pesquisas distorcidas. A última narrativa do republicano, candidato à reeleição, diz respeito a um avião cheio de agitadores que teria sido enviado para atrapalhar a convenção do seu partido em Washington na semana passada.

"Alguém embarcou em um avião de uma certa cidade e o avião estava quase lotado de provocadores vestindo esses uniformes escuros, uniformes pretos", disse ao canal Fox News na última segunda-feira. No dia seguinte, falou com repórteres sobre um "avião inteiro cheio de saqueadores, anarquistas e agitadores", e acrescentou: "Vou ver se consigo para vocês essa informação." Não o fez.

Na mesma entrevista para a Fox, Trump disse que o ex-vice-presidente Joe Biden, seu rival democrata na disputa eleitoral e que lidera muitas das pesquisas, é um fantoche controlado por "pessoas de quem nunca se ouviu falar, pessoas que estão nas sombras". "Parece uma teoria da conspiração", disse a repórter da Fox, Laura Ingraham. "São pessoas de quem você nunca ouviu falar", repetiu Trump.

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