Estudante de medicina pernambucano recebe primeira dose da Sputnik V, na Rússia: "é para valer e para todas as pessoas"
Em entrevista ao Passando a Limpo desta sexta-feira (8), o pernambucano André Vieira, que estuda medicina e mora na Rússia há três anos, relatou sua experiência após ter sido imunizado
A Rússia começou a vacinar profissionais de saúde, assistentes sociais e professores contra a covid-19 em 5 de dezembro do ano passado. Agora, no entanto, o restante da população também está sendo imunizado. Em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, desta sexta-feira (8), o pernambucano André Vieira, que estuda medicina e mora na Rússia há três anos, relatou sua experiência após ter sido vacinado com a Sputnik V.
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"A vacina foi aplicada hoje pela manhã, em uma Policlínica da cidade, não só pra mim, mas para os outros 250 voluntários. Todos eles das mais variadas idades e profissões", contou. De acordo com o estudante, mesmo estando enquadrado como profissional da saúde, ele foi imunizado como cidadão comum. "Embora nas filas eles estivessem perguntando quem é profissional de saúde ou da educação, como a maioria não fazia parte dessas duas classes de profissões, fomos vacinados por ordem de chegada mesmo", completou.
Segundo anúncio feito no sábado (2) pelo ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, mais de 800 mil pessoas já foram vacinadas contra o novo coronavírus, com a Sputnik V e com a EpiVacCorona, imunizantes produzidos no país. Além disso, o político afirmou que mais de 1,5 milhão de doses das vacinas já foram enviadas para diferentes regiões do território russo.
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Na cidade de André, por exemplo, 250 pessoas estão sendo vacinadas por dia. "Na Policlínica da minha cidade estão sendo vacinadas 250 pessoas por dia, com prioridade para aqueles que já receberam a primeira dose. Mas, agora, acima de qualquer experimento, [a vacina] é pra valer e para todas as pessoas", disse o pernambucano.
Dentre as recomendações após a agulhada estão a proibição do consumo de álcool, da prática de exercícios físicos de qualquer tipo de intensidade e idas a saunas, por três dias. Além disso, a população tem sido orientada a ligar para um número de telefone nos três primeiros dias e relatar a experiência após a imunização. "Todas as pessoas estão sendo orientadas para que elas tenham um acompanhamento dos tipos de reação que venham a apresentar", explicou o estudante.
Um dos efeitos colaterais pós vacinação, informado previamente segundo André Vieira, pode ser a dormência no local de aplicação do imunizante. Por conta disso, o estudante escolheu receber a primeira dose da vacina russa no braço direito, já que é canhoto. "Eu dei primeiro o braço direito porque eu escrevo com a mão esquerda, é a minha mão de melhor coordenação motora."
Veja imagem:
Eficácia
Com eficácia de 91,4% contra o coronavírus, segundo informaram o Fundo Russo de Investimento Direto e o Centro Nacional Gamaleya em 14 de dezembro de 2020, a Sputnik atingiu o ponto de controle com 78 pessoas infectadas pelo vírus, entre 26 mil voluntários, na fase 3 de testes.
Apesar disso, o governo Jair Bolsonaro não incluiu a Rússia, desenvolvedora da Sputnik V, na MP que tem objetivo de facilitar a compra de vacinas contra o novo coronavírus. A medida pode comprometer a importação de 2 milhões de doses do imunizante ao Brasil, que seria feita ainda em janeiro.
Também em entrevista ao Passando à Limpo desta sexta, a enfermeira e pós-doutora em epidemiologia Ethel Maciel, mostrou-se otimista com a vacina russa apesar das desconfianças a respeito do imunizante. "Eu não vi nenhuma reação mais crítica da Sputnik, que exigisse uma intervenção médica por causa da gravidade. É uma excelente notícia, já que a eficácia da vacina é muito boa", disse.
A especialista explicou ainda que, por conta das vacinas aprovadas terem caráter emergencial, nem todas as respostas foram dadas ainda. Por exemplo, não se sabe exatamente o tempo de imunização que cada uma garante. "Vamos saber tudo isso ao longo desse ano".
Ela esclarece também que os imunizantes foram desenvolvidos com rapidez nunca antes vista na história da humanidade porque há anos diversos laboratórios já pesquisavam como desenvolver vacinas para outros tipos de coronavírus, e que, em uma pandemia, o processo também é acelerado. "Esses laboratórios precisaram fazer algumas modificações, mas a base dessas pesquisas já existia. A gente conseguiu testar muito rápido porque estamos no meio de uma pandemia. Na fase 3, precisa ter pessoas que estejam sob o risco de se infectarem, de entrar em contato com o vírus. Se não estivéssemos em uma pandemia, talvez demoraríamos 5 ou 10 anos para ter 40 mil pessoas que entrassem em contato com o vírus", completou.