Coronavírus

Ministro da Saúde argentino renuncia após escândalo das 'vacinas vip'

O presidente da Argentina, Alberto Fernandez, pediu a renúncia de seu ministro da Saúde, Gines Gonzalez, depois que se descobriu que pessoas próximas a ele haviam pulado a fila para a vacinação contra a covid-19

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AFP

Publicado em 19/02/2021 às 23:33
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O ministro da Saúde da Argentina, Ginés González García, renunciou ao cargo a pedido do presidente, Alberto Fernández, depois da revelação de que membros de seu entorno teriam recebido vacinas contra a covid-19 em seu gabinete, sem ter que esperar a vez como os demais argentinos.

"Respondendo a seu pedido expresso, apresento-lhe minha renúncia ao cargo de ministro da Saúde", escreveu González García nesta sexta-feira (19), em carta enviada ao presidente.

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Para substituí-lo foi nomeada a atual secretária de acesso à Saúde, Carla Vizzotti, uma especialista em medicina interna de 48 anos, informou a agência oficial de notícias Telam.

Vizzotti se destacou por ter conseguido a vacina russa contra a covid-19 Sputnik V para a Argentina, o primeiro país da América a aprová-la e utilizá-la.

González García, de 75 anos, e que já tinha estado à frente da pasta durante o governo de Néstor Kirchner (2003-2007), assumiu em dezembro de 2019 e teve que gerenciar toda a pandemia do coronavírus.

Sua gestão, marcada por altos e baixos, foi definitivamente maculada pelas vacinações "privilegiadas" na sede do Ministério da Saúde, reveladas no mesmo dia em que a cidade de Buenos Aires disponibilizou a solicitação de agendamentos online para a imunização de pessoas com mais de 80 anos a partir da próxima segunda-feira, sistema que entrou em colapso quase de imediato devido à enorme demanda.

Até agora, na Argentina, apenas os profissionais de saúde foram vacinados. Só na quarta-feira começou a vacinação para maiores de 70 anos na província de Buenos Aires.

O escândalo estourou depois que o jornalista Horacio Verbitsky disse nesta sexta na rádio que, graças à sua longa amizade com o ministro, conseguiu se vacinar em seu gabinete.

"Decidi me vacinar. Fui descobrir onde fazer isso. Liguei para meu velho amigo, Ginés González García, que conheci muito antes de ser ministro", contou Verbitsky.

O escândalo causou uma onda de reações nas redes sociais com a hashtag #vacunasvip (vacinas vip).

Além de Verbitsky, outras pessoas próximas ao governo se vacinaram no Ministério da Saúde, segundo a imprensa local.

Em sua carta de demissão, González García ressaltou que "as pessoas vacinadas pertencem aos grupos incluídos dentro da população alvo da campanha vigente", em alusão aos maiores de 70 anos.

Além da atuação como jornalista, Verbitsky, de 71 anos, também preside o Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS), dedicado aos direitos humanos.

Roberto Navarro, dono da Destape Radio, emissora em que Verbitsky fez a revelação, anunciou que cancelou suas colaborações. "É uma imoralidade que com 50 mil mortos hajam vacinados VIP. É imoral quem autorizou e quem foi vacinado", disse Navarro no Twitter.

Os funcionários do CELS também condenaram o fato. "Recebemos a notícia de que o presidente da nossa organização foi vacinado fora do sistema estabelecido, através de uma cadeia de favores e a título pessoal (...) A equipe do CELS rejeita esta ou qualquer outra ação ou privilégio", tuitaram.

A Argentina, com 44 milhões de habitantes, acumula mais de dois milhões de infecções pela covid-19 e ultrapassa as 51 mil mortes.

A vacinação começou no país no final de dezembro com a Sputnik V, do laboratório russo Gamaleya, mas o processo avança muito mais lentamente do que o previsto inicialmente, devido à escassez de doses.

O presidente Fernández e a vice-presidente Cristina Kirchner, ambos na casa dos 60 anos, foram vacinados diante das câmeras para transmitir confiança na vacina.

Até o momento, a Argentina recebeu 1,22 milhões de doses da Sputnik V e 580 mil da Covishield, vacina do Serum Institute of India, estas últimas chegadas na quarta-feira.

O plano de imunização argentino inclui, mais adiante, vacinas da aliança britânica Oxford/AstraZeneca e de outros contratos, inclusive por meio do mecanismo de cooperação internacional Covax, totalizando 62 milhões de doses até o fim do ano.

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