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O que está acontecendo no Afeganistão? O que é o Talibã? Quem lidera o grupo? Entenda

Confira abaixo detalhes do que está ocorrendo no país do Oriente Médio

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AFP

Publicado em 15/08/2021 às 17:25
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O Talibã, que neste domingo (15) entrou na capital afegã Cabul enquanto o presidente Ashraf Ghani deixava o país, governou entre 1996 e 2001, impondo uma interpretação rigorosa da Sharia (lei muçulmana). Em 1994, o movimento do Talibã, ou "estudantes de religião", apareceu no Afeganistão, um país devastado pela guerra contra os soviéticos (1979-1989) e enfrentando uma luta fratricida entre mujahedines desde a queda do regime comunista em Cabul, em 1992.

Formados nas madrasas (escolas corânicas) do vizinho Paquistão, onde esse grupo de islâmicos sunitas encontrou refúgio durante o conflito com os soviéticos, os talibãs eram liderados pelo misterioso mulá Mohamad Omar, que morreu em 2003. O mulá Akhtar Mansur o sucedeu e foi assassinado em 2016 no Paquistão. Atualmente, o Talibã é liderado por Haibatullah Akhundzada, enquanto o mulá Abdul Ghani Baradar, co-fundador do movimento, chefia a ala política.

Como a maioria da população afegã, são essencialmente pashtuns, o grupo étnico que dominou o país quase ininterruptamente por dois séculos. Os talibãs prometeram restaurar a ordem e a justiça, e cresceram rapidamente graças ao apoio do Paquistão e à aprovação tácita dos Estados Unidos.

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Em outubro de 1994, tomaram Kandahar, a antiga capital real, com pouca ou nenhuma luta.Dotados de um arsenal militar e de um grande espólio de guerra que lhes permitia subornar comandantes locais, realizaram uma série de conquistas territoriais até que em 27 de setembro de 1996 tomaram Cabul. Eles então expulsaram o presidente Burhanuddin Rabbani e executaram publicamente o ex-presidente comunista Najibullah.

O comandante Ahmed Shah Masud, herói da resistência anti-soviética, retirou-se para o vale do Panchir, ao norte de Cabul, de onde organizou a oposição armada. Ele foi assassinado pela rede extremista Al-Qaeda em 9 de setembro de 2001. Uma vez no poder, o Talibã impôs uma lei islâmica estrita que proibia jogos, música, fotos ou televisão, entre outros. As mulheres não podiam mais trabalhar e as escolas para meninas foram fechadas. As penas que os insurgentes ordenavam incluíam cortar as mãos de ladrões, executar assassinos em público, esmagar homossexuais sob uma parede de tijolos ou apedrejar mulheres adúlteras.

Em março de 2001, a destruição com dinamite dos budas gigantes de Bamiyan (centro) gerou uma onda de protestos internacionais. A sede do poder mudou para Kandahar, onde o mulá Omar vivia recluso em uma casa construída pelo líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. O território do Talibã (que chegou a controlar até 90% do Afeganistão) tornou-se um santuário para extremistas islâmicos de todo o mundo, que vinham treinar, principalmente os da Al-Qaeda.

Após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, perpetrados pela Al-Qaeda, e a recusa do regime Talibã em entregar Bin Laden, Washington e seus aliados da OTAN lançaram uma ampla operação militar no país em 7 de outubro do mesmo ano. Em 6 de dezembro, o regime do Talibã capitulou. Seus líderes fugiram junto com os da Al-Qaeda para o sul e leste do país e também para o Paquistão. Ataques e emboscadas contra as forças armadas ocidentais se multiplicaram.

A missão de combate da Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) da OTAN, que terminou no final de 2014, foi substituída por uma missão de formação, aconselhamento e assistência denominada Apoio Resoluto. As forças de segurança afegãs passaram a lutar sozinhas contra o Talibã e outros grupos insurgentes, com o apoio da Força Aérea dos EUA.

Em julho de 2015, o Paquistão sediou as primeiras discussões diretas, apoiadas por Washington e Pequim, entre o governo afegão e o Talibã, mas o diálogo não avançou. Ao mesmo tempo, foi criada a filial afegã do grupo Estado Islâmico, rival do Talibã, que assumiu a responsabilidade por uma série de ataques. Em meados de 2018, os americanos e o Talibã iniciaram negociações silenciosas em Doha, que foram interrompidas várias vezes após ataques a tropas americanas.

Em 29 de fevereiro de 2020, Washington assinou um acordo histórico com o Talibã, que previa a retirada de soldados estrangeiros em troca de garantias de segurança e a abertura de negociações entre os insurgentes e o governo afegão. Em 6 de julho de 2021, os militares dos EUA anunciaram que sua retirada estava "mais de 90% concluída".

Fuga do presidente

O presidente Ashraf Ghani fugiu, entregando efetivamente o poder ao Talibã, que chegou a Cabul, símbolo de sua vitória militar, em apenas 10 dias. O movimento radical islâmico está a um passo do retornar ao poder 20 anos depois de ser derrubado por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos por sua recusa em entregar o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, após os ataques de 11 de setembro de 2001.

No início da noite, o ex-vice-presidente Abdullah Abdullah anunciou que o presidente Ashraf Ghani havia "deixado" o país. Esta partida conclui a derrota das últimas semanas, após sete anos no poder durante os quais não conseguiu reconstruir o país. "O ex-presidente deixou o Afeganistão, deixando o povo nesta situação. Ele prestará contas a Deus e o povo o julgará", disse Abdullah, também chefe do Conselho Superior para a Reconciliação Nacional.

Segundo Ghani, "incontáveis patriotas seriam martirizados e a cidade de Cabul seria destruída" se ele permanecesse no poder. "O Talibã venceu ... e agora é responsável pela honra, propriedade e autopreservação de seus compatriotas", disse ele em um comunicado postado no Facebook. "Agora eles enfrentam um novo teste histórico. Ou preservam o nome e a honra do Afeganistão ou dão prioridade a outros lugares e redes", acrescentou. Ghani não indicou para onde tinha ido, mas o grupo de imprensa afegão Tolo News indicou que ele pode ter ido para o Tadjiquistão.

Confira abaixo algumas perguntas e respostas para entender a situação atual do Afeganistão:

Qual é a estratégia do Talibã?

O Talibã nunca escondeu o que quer: a ressurreição completa de seu emirado islâmico que governou o Afeganistão entre 1996 e 2001.

Muitas análises foram realizadas para determinar exatamente como atingiriam seu objetivo: por meio do diálogo, da força, ou com uma combinação de ambos.

No final, sua estratégia militar provou ser suficiente: aplacar as forças do governo com vários ataques a vários alvos em todo país.

Para isso, primeiro negociaram a saída de tropas americanas e estrangeiras do território afegão, por meio de um acordo com os Estados Unidos, país cansado após mais de 20 anos de guerra. Também prometeram não atacar alvos americanos em troca de sua retirada.

Parte do acordo também significou que Washington pressionou o governo afegão a libertar milhares de prisioneiros talibãs. A maioria deles voltou imediatamente às fileiras insurgentes.

 

O que aconteceu com o Exército afegão?

Sem dúvida, haverá livros publicados e palestras proferidas durante anos, senão décadas, sobre este assunto: o que exatamente deu errado com as forças de segurança afegãs?

A corrupção, a falta de vontade de lutar e o vácuo criado pela saída dos Estados Unidos provavelmente tiveram um papel na queda do Exército afegão.

Durante anos, o governo dos EUA emitiu relatórios, detalhando um grande número de casos de corrupção nas forças de segurança afegãs.

Os comandantes rotineiramente ficavam com o dinheiro reservado para suas tropas, vendiam armas no mercado paralelo e mentiam sobre o número de soldados em suas fileiras.

As forças afegãs também dependiam totalmente do poder aéreo americano, da logística aos ataques, além da manutenção das aeronaves.

E, para piorar as coisas, as forças de segurança afegãs nunca tiveram liderança efetiva e importante.

Eram liderados por civis no palácio presidencial com pouca experiência militar, ou ignorados por generais veteranos que pareciam mais envolvidos em lutas políticas mesquinhas do que na grande guerra que estava por vir.

As unidades de comando que os Estados Unidos treinaram eram a esperança, mas não bastaram.

 

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