Estados Unidos culpam Irã por paralisação das negociações nucleares
Secretário de Estado dos EUA advertiu que não permitirá que seu adversário prolongue as negociações enquanto continua avançando seu programa nuclear
Os Estados Unidos criticaram o Irã nesta sexta-feira (3), declarando que as negociações sobre o programa nuclear iraniano entre o país islâmico e as potências mundiais foram adiadas porque Teerã "não parece estar falando sério" sobre seu retorno à mesa.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, advertiu que Washington não permitirá que seu adversário prolongue as negociações enquanto continua avançando seu programa nuclear, e que colocará em prática "outras opções" se a diplomacia falhar.
A repreensão veio após os diplomatas interromperem a sétima rodada de negociações internacionais sobre o acordo de 2015 que visa conter o programa nuclear do Irã, com os Estados Unidos e participantes europeus expressando preocupação após cinco dias de diálogo.
"O que vimos nos últimos dias é que, a esta altura, o Irã não parece estar falando sério sobre fazer o que for necessário para voltar a cumprir o acordo, então encerramos esta rodada de negociações em Viena", declarou Blinken em uma conferência virtual de líderes mundiais.
"Mas a janela é muito, muito estreita, porque o que não é aceitável e o que não permitiremos é que o Irã tente prolongar esse processo enquanto segue avançando inexoravelmente na construção de seu programa" nuclear, continuou.
A avaliação de Blinken foi apoiada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, cuja porta-voz, Jen Psaki, observou que "progresso" foi feito nas primeiras seis rodadas, mas que "a abordagem do Irã nesta semana, infelizmente, não foi tentar resolver os problemas restantes".
A secretária de imprensa destacou que o Irã "iniciou esta nova rodada de negociações com uma nova rodada de provocações nucleares", informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"O tempo está se esgotando"
Além disso, Psaki responsabilizou o governo de Donald Trump, que antecedeu Biden, por ter retirado unilateralmente os Estados Unidos do acordo firmado em 2015.
Trump restabeleceu as sanções econômicas contra Teerã e, em retaliação, o Irã quebrou progressivamente seus compromissos nucleares.
Essa retirada, disse Psaki, levou a uma "expansão dramática e sem precedentes do programa nuclear do Irã".
Biden afirmou que quer retomar o acordo, inicialmente assinado pelo Irã e pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China, além da Alemanha.
"Teerã está retrocedendo em quase todos os compromissos que foram difíceis de alcançar" durante a primeira rodada de negociações entre abril e junho, lamentaram os diplomatas de Reino Unido, França a Alemanha, o chamado grupo E3.
Os três criticaram o Irã por dar "um passo atrás" e porque "as propostas não podem oferecer base para negociações, não é possível avançar".
Contudo, o embaixador chinês Wang Qun, mostrando-se menos pessimista, garantiu que "todas as partes concordaram em fazer uma pequena pausa para receber instruções. Isso é natural e necessário e esperamos que dê um novo ímpeto às negociações".
As delegações retornam às suas respectivas capitais neste fim de semana e as negociações serão retomadas "na próxima semana para ver se essas diferenças podem ser superadas ou não", acrescentaram os diplomatas.
Apesar desses comentários negativos e do pouco tempo, os diplomatas europeus dizem que estão "totalmente comprometidos em encontrar uma solução diplomática".
Mas "o tempo está se esgotando", insistiram.
Advertência de Washington
Na quinta-feira (2), os Estados Unidos enviaram um alerta incisivo ao Teerã.
"O que o Irã não pode fazer é manter o status de desenvolvimento de seu programa nuclear enquanto não se envolve" nas negociações, disse o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken.
No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense pediu aos Estados Unidos que encerrassem imediatamente as negociações com o Irã.
Em junho, os negociadores tinham concluído a primeira fase de negociações com um tom positivo, dizendo que estavam "perto" de um acordo, mas a perspectiva mudou com chegada ao poder do presidente iraniano ultraconservador Ebrahim Raissi.
O acordo de 2015, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), contemplava suspender algumas sanções econômicas contra o Irã em troca de limites estritos ao seu programa nuclear.
Na quinta-feira, Ali Bagheri, o principal negociador de Teerã, relatou que seu país fez duas propostas para tentar salvar o acordo.
A primeira "resume a visão da República Islâmica sobre o levantamento das sanções e a segunda se refere às atividades nucleares do Irã", disse ele.
"A partir de agora, a outra parte deve examinar esses documentos e se preparar para negociar com o Irã com base nos textos apresentados”, insistiu.
O desafio é grande: salvar o acordo internacional de 2015 que pretende evitar que o Irã adquira uma bomba atômica.