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Estados Unidos culpam Irã por paralisação das negociações nucleares

Secretário de Estado dos EUA advertiu que não permitirá que seu adversário prolongue as negociações enquanto continua avançando seu programa nuclear

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AFP

Publicado em 03/12/2021 às 23:17 | Atualizado em 04/12/2021 às 4:20
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Os Estados Unidos criticaram o Irã nesta sexta-feira (3), declarando que as negociações sobre o programa nuclear iraniano entre o país islâmico e as potências mundiais foram adiadas porque Teerã "não parece estar falando sério" sobre seu retorno à mesa.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, advertiu que Washington não permitirá que seu adversário prolongue as negociações enquanto continua avançando seu programa nuclear, e que colocará em prática "outras opções" se a diplomacia falhar.

A repreensão veio após os diplomatas interromperem a sétima rodada de negociações internacionais sobre o acordo de 2015 que visa conter o programa nuclear do Irã, com os Estados Unidos e participantes europeus expressando preocupação após cinco dias de diálogo.

"O que vimos nos últimos dias é que, a esta altura, o Irã não parece estar falando sério sobre fazer o que for necessário para voltar a cumprir o acordo, então encerramos esta rodada de negociações em Viena", declarou Blinken em uma conferência virtual de líderes mundiais.

"Mas a janela é muito, muito estreita, porque o que não é aceitável e o que não permitiremos é que o Irã tente prolongar esse processo enquanto segue avançando inexoravelmente na construção de seu programa" nuclear, continuou.

A avaliação de Blinken foi apoiada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, cuja porta-voz, Jen Psaki, observou que "progresso" foi feito nas primeiras seis rodadas, mas que "a abordagem do Irã nesta semana, infelizmente, não foi tentar resolver os problemas restantes".

A secretária de imprensa destacou que o Irã "iniciou esta nova rodada de negociações com uma nova rodada de provocações nucleares", informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

"O tempo está se esgotando"

Além disso, Psaki responsabilizou o governo de Donald Trump, que antecedeu Biden, por ter retirado unilateralmente os Estados Unidos do acordo firmado em 2015.

Trump restabeleceu as sanções econômicas contra Teerã e, em retaliação, o Irã quebrou progressivamente seus compromissos nucleares.

Essa retirada, disse Psaki, levou a uma "expansão dramática e sem precedentes do programa nuclear do Irã".

Biden afirmou que quer retomar o acordo, inicialmente assinado pelo Irã e pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China, além da Alemanha.

"Teerã está retrocedendo em quase todos os compromissos que foram difíceis de alcançar" durante a primeira rodada de negociações entre abril e junho, lamentaram os diplomatas de Reino Unido, França a Alemanha, o chamado grupo E3.

Os três criticaram o Irã por dar "um passo atrás" e porque "as propostas não podem oferecer base para negociações, não é possível avançar".

Contudo, o embaixador chinês Wang Qun, mostrando-se menos pessimista, garantiu que "todas as partes concordaram em fazer uma pequena pausa para receber instruções. Isso é natural e necessário e esperamos que dê um novo ímpeto às negociações".

As delegações retornam às suas respectivas capitais neste fim de semana e as negociações serão retomadas "na próxima semana para ver se essas diferenças podem ser superadas ou não", acrescentaram os diplomatas.

Apesar desses comentários negativos e do pouco tempo, os diplomatas europeus dizem que estão "totalmente comprometidos em encontrar uma solução diplomática".

Mas "o tempo está se esgotando", insistiram.

Advertência de Washington

Na quinta-feira (2), os Estados Unidos enviaram um alerta incisivo ao Teerã.

"O que o Irã não pode fazer é manter o status de desenvolvimento de seu programa nuclear enquanto não se envolve" nas negociações, disse o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken.

No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense pediu aos Estados Unidos que encerrassem imediatamente as negociações com o Irã.

Em junho, os negociadores tinham concluído a primeira fase de negociações com um tom positivo, dizendo que estavam "perto" de um acordo, mas a perspectiva mudou com chegada ao poder do presidente iraniano ultraconservador Ebrahim Raissi.

O acordo de 2015, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), contemplava suspender algumas sanções econômicas contra o Irã em troca de limites estritos ao seu programa nuclear.

Na quinta-feira, Ali Bagheri, o principal negociador de Teerã, relatou que seu país fez duas propostas para tentar salvar o acordo.

A primeira "resume a visão da República Islâmica sobre o levantamento das sanções e a segunda se refere às atividades nucleares do Irã", disse ele.

"A partir de agora, a outra parte deve examinar esses documentos e se preparar para negociar com o Irã com base nos textos apresentados”, insistiu.

O desafio é grande: salvar o acordo internacional de 2015 que pretende evitar que o Irã adquira uma bomba atômica.

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