EUA incluem organização criminosa brasileira PCC em lista de sanções contra o narcotráfico
Alvos são do Brasil, China, México e Colômbia
Assolados por um recorde de mortes por overdose, os Estados Unidos reforçam seu arsenal contra o narcotráfico, apontando para 25 alvos em Brasil, China, México e Colômbia, agora que as redes de comando se tornaram difusas e os opioides sintéticos causam estragos. Lista inclui o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Frente aos mais de 100 mil americanos mortos de overdose nos 12 meses anteriores a abril de 2021, o presidente Joe Biden "toma medidas decisivas para detectar, desbaratar e reduzir o poder das organizações criminosas transnacionais e proteger o povo americano", diz um documento transmitido por funcionários do governo.
As medidas constam de dois decretos. Um deles estabelece um novo organismo, o Conselho dos Estados Unidos para o Crime Organizado (USCTOC, na sigla em inglês), que será integrado por representantes de diversos organismos governamentais.
O outro impõe um regime de sanções mais amplas contra os atores internacionais do narcotráfico, que poderão ter congelados seus ativos nos Estados Unidos, impedi-los de entrar no país e de realizar certas transações.
Entre os sancionados estão pessoas que traficam fentanil e os precursores químicos necessários para produzi-lo, como metanfetaminas, cocaína e heroína, assim como organizações que Washington considera uma ameaça.
Em virtude deste novo regime de sanções, o Departamento do Tesouro anunciou nesta quarta 25 alvos (10 pessoas e 15 organizações) entre os quais estão alguns novos, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), do Brasil, e os mexicanos Los Rojos e Guerreros Unidos, bem como quatro sociedades e um narcotraficante chineses.
A medida também inclui 17 pessoas e entidades já sancionadas.
PCC entre os sancionados
O Primeiro Comando da Capital (PCC), um dos grupos do crime organizado mais poderosos, negocia sobretudo com drogas, mas também está envolvido em lavagem de dinheiro, extorsão e homicídios por encomenda. Opera na América do Sul e suas redes chegam a Estados Unidos, Europa, África e Ásia, segundo Washington.
Os Estados Unidos acusam Los Rojos, grupo surgido da Organização Beltrán Leyva (BLO), de cometer atos violentos e enviar drogas ao país.
O Guerreros Unidos (GU), outro grupo cindido da BLO, colabora com a organização mexicana Cartel de Jalisco Nova Geração, com a qual compartilha redes e modo de transporte para fazer a droga chegar aos Estados Unidos e repatriar os lucros, garante.
Washington também aponta ao chinês Chuen Fat Yip, acusado de comandar o tráfico de drogas sintéticas no país asiático e nos Estados Unidos, e quatro empresas: Wuhan Yuancheng Gongchuang Technology, Shanghai Fast-Fine Chemicals, Hebei Huanhao Biotechnology e Hebei Atun Trading.
"É muito simples, muitas das matérias-primas para a fabricação de opioides sintéticos vêm da China. E era importante transmitir uma mensagem forte", explicou um alto funcionário do governo americano que pediu para ter sua identidade em sigilo.
Entre os 17 já sancionados desde 1995 e 1999, aos quais também será aplicado o novo regime, estão: o Cartel de Jalisco Nova Geração (CJNG), o Cartel de Sinaloa, a Organização Beltrán Leyva, o Cartel do Golfo, o Cartel de Juárez, Los Zetas, La Familia Michoacana (LFM), Nemesio Oseguera Cervantes (aliás El Mencho), Ismael Zambada García ('El Mayo'), Fausto Isidro Meza Flores ('Chapito Isidro'), Miguel Treviño Morales, Omar Treviño Morales e líderes da facção do Cartel de Sinaloa, como os irmãos Iván Archivaldo Guzmán Salazar ('Chapito') e Jesús Alfredo Guzmán Salazar ('El Alfredillo') e seu meio-irmão, Ovidio Guzmán López ('El Ratón').
Também estão incluídos os colombianos Clã do Golfo e Dairo Antonio Úsuga David ('Otoniel').
Washington dá uma atenção em particular aos opioides sintéticos, que "custaram a vida de dezenas de milhares de americanos e têm tido um impacto negativo na economia dos Estados Unidos", assegura um funcionário governamental que pediu o anonimato.
O objetivo de Biden é modernizar a luta contra as organizações do narcotráfico para adaptá-la aos desafios do século XXI.
"No passado, estas organizações geralmente tinham estruturas mais hierárquicas no estilo da máfia, com líderes e cadeias de comando claramente identificados, mas se tornaram cada vez mais difusas e descentralizadas", afirmam funcionários do governo.
E as pessoas que facilitam suas atividades "frequentemente nem mesmo estão associadas informalmente com os líderes das redes do narcotráfico", acrescentam.
O tráfico de drogas hoje não depende mais de cultivos, nem requer grandes superfícies, mas se baseia em substâncias sintéticas e precursores químicos, e os cartéis operam de forma mais descentralizada, dificultando a capacidade de punir os narcotraficantes, admite.
As novas ferramentas apontam a qualquer estrangeiro envolvido no narcotráfico, independentemente de estar ou não vinculado a um líder ou cartel, e contra todos os que conscientemente receberem bens derivados destas atividades.
A guerra contra as drogas é um tema recorrente nos Estados Unidos há décadas, com resultados desiguais frente a um negócio que movimenta bilhões de dólares.