'Já chega de violência', diz Biden em Nova York
Acusado de passividade pela oposição republicana, Biden precisa mostrar aos americanos que quer deter a onda de violência
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu um basta, nesta quinta-feira (3), em Nova York, à violência das armas que abala todo o país, em um encontro com o prefeito da cidade, impactada por vários homicídios, entre eles os de dois policiais.
Acusado de passividade pela oposição republicana, Biden precisa mostrar aos americanos que quer deter a onda de violência, um assunto delicado, a poucos meses das eleições legislativas de meio de mandato no Congresso.
"Já chega! Pois sabemos que podemos fazer algo contra isso", disse Biden diante de dezenas de autoridades da cidade e do estado de Nova York, reunidos na sede do departamento de polícia a convite do novo prefeito Eric Adams, partidário da linha dura contra a criminalidade, mas combinada com a adoção de programas sociais para preveni-la.
Até agora, ao menos 64 menores foram feridos com armas de fogo este ano no país, enquanto 26 perderam suas vidas, lembrou Biden, que chegou a Nova York acompanhado do procurador-geral Merrick Garland.
Contudo, para além das estatísticas, a enorme presença de policiais nesta quarta-feira e na última sexta, durante os enterros de dois agentes assassinados no Harlem, que mostraram o descontentamento que existe em suas fileiras, é o que tem pressionado Eric Adams, um ex-policial afro-americano, e Biden.
Em linha com o programa apresentado por Adams na semana passada, baseado na "intervenção e na prevenção", o plano de Biden é injetar dinheiro nas cidades e estados para que haja mais polícia nas ruas e programas para prevenir a violência em nível comunitário, além de mais leis para combater o tráfico de armas.
Segundo o presidente, não se trata de "abandonar as ruas" ou "retirar recursos da polícia", mas de "dar-lhes ferramentas, formação, fundos, que sejam parceiros, protetores" porque "a comunidade precisa disso".
Biden pediu ao Congresso 300 milhões de dólares para a polícia local e 200 milhões para programas de intervenção. "O Congresso deve fazer seu trabalho e aprovar o orçamento", declarou.
Enquanto isso, o mais urgente para o presidente democrata, cuja popularidade está em baixa, é "combater o fluxo de armas", em particular as "armas fantasmas" que podem ser compradas em partes e montadas em casa e que não têm número de série, portanto, não existem oficialmente.
"Hoje estamos realizando uma estratégia integral para combater o crime em cidades como Nova York, Filadélfia, Atlanta, San Francisco e muitas outras", disse o presidente, que é criticado pela ala mais à esquerda de seu partido e pela oposição republicana.
Terror interno
Por sua vez, o novo prefeito de Nova York defendeu uma resposta como a do "11 de setembro contra o terror interno" que abala sua cidade e o resto do país.
Até agora, os crimes graves em Nova York aumentaram 38% este ano, com picos na maioria das principais áreas urbanas. Um estudo divulgado em janeiro pelo Conselho de Justiça Criminal mostrou que o número de homicídios aumentou 5% em 22 cidades em 2021, na comparação com 2020, e 44%, em relação a 2019.
Sejam os roubos de carros na capital Washington ou os saques violentos em grandes armazéns de San Francisco, os noticiários revelam uma imagem lúgubre de um país que luta para recuperar o equilíbrio após os efeitos devastadores da pandemia de covid-19.
Especialistas vinculam a onda de crimes - que não altera o fato de que as cidades americanas são, em geral, mais seguras hoje do que nas décadas de 1980 e 1990 - à crise social decorrente da pandemia, assim como ao impacto, nas forças da ordem, de uma série de detenções desastrosas, nas quais cidadãos negros foram assassinados, ou gravemente feridos.
A culpa recai, no entanto, cada vez mais sobre Biden. Segundo uma pesquisa ABC/Ipsos divulgada na semana passada, 69% dos americanos desaprovam as políticas de Biden sobre violência armada, e 64%, sua forma de lidar com a criminalidade.
Entre direita e esquerda
Biden está sob pressão não apenas da direita, que o acusa de ser fraco no combate à criminalidade, mas também da esquerda, que quer reformas e até o fim de departamentos de polícia, na esteira do movimento 'Black Lives Matter'.
Na expectativa para retomar o controle do Congresso nas eleições de meio de mandato que acontecem em novembro, os republicanos consideram que culpar Biden e os democratas por "retirar os recursos da polícia" vai dar-lhes crédito.
Associar-se a Adams, no entanto, pode dar ao presidente democrata a chance de mostrar que ele pode ficar no meio-termo entre seus partidários e os críticos de direita, com a esperança de que sua política tenha resultados tangíveis nas ruas da maior cidade dos EUA, que precisa reativar a economia e o turismo após a crise da covid-19.