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Emmanuel Macron ou o impossível debate eleitoral na França

Macron esperou até o último momento para entrar na disputa eleitoral. Em uma "Carta aos Franceses", anunciou na quinta-feira sua esperada candidatura, mas precisou: "Não poderei fazer campanha como gostaria devido ao contexto"

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AFP

Publicado em 10/03/2022 às 11:41 | Atualizado em 14/03/2022 às 17:05
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A um mês da eleição presidencial na França, o grande favorito, o atual chefe de Estado Emmanuel Macron, se esconde atrás da guerra na Ucrânia para evitar o debate com seus rivais, apesar de colocar em risco a legitimidade de suas eventuais reformas em um segundo mandato.

"Não irei debater com os outros candidatos antes do primeiro turno. Nenhum presidente em exercício que se apresentou à reeleição o fez", afirmou na segunda-feira Macron a um jornalista da televisão LCI durante o seu primeiro ato eleitoral.

Macron esperou até o último momento para entrar na disputa eleitoral. Em uma "Carta aos Franceses", anunciou na quinta-feira sua esperada candidatura, mas precisou: "Não poderei fazer campanha como gostaria devido ao contexto".

A conjuntura internacional o beneficia. As intenções de voto no centrista disparou nas pesquisas desde o início da ofensiva russa na Ucrânia, que reforça ainda mais a sua imagem de mandatário e de chefe das Forças Armadas.

Nesta quinta-feira, Macron voltará a atrair os olhares, ao receber no Palácio de Versalhes os governantes da União Europeia (UE) para uma cúpula de dois dias sobre como proteger o bloco das consequências da guerra na Ucrânia.

"No primeiro turno, Macron se beneficia do 'efeito bandeira'", constatou na terça-feira o instituto de pesquisa Elabe: a pesquisa mais recente mostra o presidente com 33,5% das intenções de voto, quase 20 pontos à frente do segundo colocado.

"Os franceses estão preocupados. Buscam figuras protetoras", indicou à AFP Pascal Perrineau, analista político na Sciences Po, que frisa, porém, que o "antimacronismo" e o desejo de avaliar seu mandato "seguem presentes".

Segundo a pesquisa, a líder da ultradireita Marine Le Pen obteria 15%, seguida de Jean-Luc Mélenchon (13%, esquerda radical), Éric Zemmour (11%, extrema-direita) e Valérie Pécresse (10,5%, direita). Macron também ganharia o segundo turno.

Seus apoiadores defendem que um debate entre os 12 candidatos se converteria em uma "batalha campal" contra Macron, que não teria tempo para responder a todos, e que o chefe de Estado prefere debater diretamente com os franceses.

À semelhança de seu início de campanha, segunda-feira, em Poissy, a 24 quilômetros de Paris. Durante uma "reunião" com 200 habitantes, o presidente evocou o "sufocante" contexto internacional com o "regresso da guerra à Europa".

Contudo, este primeiro ato apresentado como um debate com os cidadãos não convenceu os seus rivais nem aos observadores, que viram de outra forma, em palavras de Le Pen, como "uma discussão cuidadosamente preparada de antemão".

A reunião de Poissy não representou "nenhum risco para o presidente", analisou, na rádio Europe 1, o comentarista político Nicolas Beytout, para quem se tratou de um comício: público entregue, aplausos a cada resposta, etc.

"Se não há um debate sobre as grandes opções para os próximos cinco anos e Emmanuel Macron vence, a situação vai ser potencialmente muito perigosa para ele", advertiu, no diário Le Monde, Brice Teinturier, analista político no Ipsos.

Teinturier explicou na LCI que "quando devem se tomar decisões sobre uma série de medidas econômicas, sociais (...), vai haver franceses que digam: Não o vi durante a campanha eleitoral, não se votou democraticamente".

A advertência sobre a legitimidade não é banal. A primeira metade do mandato de Macron esteve marcada pelos protestos, como o dos "coletes amarelos" contra suas reformas e suas políticas sociais e econômicas.

O surgimento da pandemia de coronavírus sufocou os protestos, porém o obrigou a recuar temporariamente na impopular reforma da previdência, uma de suas grandes promessas e que afirmou que pretende retomar caso seja reeleito em abril.

"No programa de Emmanuel Macron vai estar a proposta de adiar progressivamente a idade de aposentadoria para os 65 anos", sinalizou o porta-voz do governo, Gabriel Attal. "Vamos ter que trabalhar mais", acrescentou à rádio RTL.

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