SENTENÇA

Justiça dos EUA anula condenação de adolescente negro executado há mais de 90 anos

Alexander McClay Williams foi executado quando tinha 16 anos por um crime que não cometeu

Imagem do autor
Cadastrado por

JC

Publicado em 17/06/2022 às 21:38 | Atualizado em 17/06/2022 às 22:10
Notícia
X

Da AFP

A justiça chega tarde demais para Alexander McClay Williams, executado há 91 anos, quando tinha 16 anos, por um crime que não cometeu. Um juiz da Filadélfia declarou a sentença "nolle prosequi", oficialmente retirando todas as acusações contra este jovem negro acusado de homicídio.

Os esforços de Sam Lemon, bisneto de seu advogado de defesa, William H. Ridley, o primeiro negro a ingressar na Ordem dos Advogados do Condado de Delaware, tornaram possível esta revisão da história judicial americana.

A retirada das acusações contra Williams "é um reconhecimento de que as acusações contra ele nunca deveriam ter ocorrido", disse o promotor Jack Stollsteimer em comunicado datado de 13 de junho.

"Infelizmente, não podemos desfazer o passado. Não podemos reescrever a história para apagar os erros hediondos de nossos antepassados. No entanto, quando, como neste caso, a justiça pode ser feita reconhecendo publicamente nosso erro, devemos aproveitar essa oportunidade", afirmou o promotor, que espera que com esta decisão, tanto a família do jovem como o seu advogado “possam ficar em paz”.

Williams, que frequentou o internato para meninos Glen Mills para pagar sua culpa de criminoso, foi considerado culpado e condenado à morte em 27 de fevereiro de 1931 pelo assassinato da enfermeira (branca) Vida Robare, 34, na casa que este ocupava no recinto do centro.

O corpo sem vida foi encontrado por seu ex-marido Fred Robare, também funcionário da escola e de quem se divorciou devido à sua "extrema crueldade", o que foi ignorado pelos investigadores, que nunca o consideraram suspeito.

E isso apesar do fato de que havia impressões digitais de uma mão ensanguentada de um adulto na porta da cena do crime. Dois especialistas em impressões digitais as examinaram, mas nunca ficou claro a quem pertenciam.

Falta de provas contra McClay Williams

O réu foi o jovem Williams, que nos 17 dias entre sua prisão e a nomeação de um defensor público, assinou três confissões diferentes e foi interrogado cinco vezes sem a presença de um advogado ou familiar.

O jovem acabou "confessando" o crime apesar de não haver testemunhas ou provas que o envolvessem diretamente.

O advogado de defesa, que recebeu US$ 10 em despesas pelo tribunal (cerca de US$ 173 em dólares de hoje), teve apenas 74 dias para montar uma defesa, sem recursos para contratar investigadores ou especialistas.

O júri do julgamento, que durou menos de dois dias, foi composto exclusivamente por brancos, que levaram menos de quatro horas para estabelecer sua culpa.

Nunca houve recurso contra a decisão

“Estou feliz que tenha terminado do jeito que deveria desde o começo”, disse sua irmã Susie Wiliam-Carter ao The Inquirer.

"Queríamos que fosse anulado, porque sabíamos que ele era inocente, e agora queremos que o mundo inteiro também saiba", acrescenta esta senhora de 92 anos, única sobrevivente dos irmãos do mais jovem executado no estado da Pensilvânia.

Em 2017, seguindo os esforços de Sam Lemon e seu advogado Robert Keller, o processo de Williams foi eliminado.

"Acreditamos que é do interesse da justiça e da defesa da integridade de nossos tribunais fazer o que estiver ao nosso alcance para remediar esse erro", já que os direitos do jovem "foram irremediavelmente violados".

Outro homem, Kevin Strickland, foi recentemente absolvido depois de passar 43 anos atrás das grades por um crime que não cometeu.

Tags

Autor