A China estendeu ontem os exercícios militares em Taiwan. A nova fase de manobras interrompeu o transporte marítimo e aéreo e aumentou os temores de que o período de tensões se prolongue. A decisão desafia os pedidos para que os chineses suspendam as operações ao redor da ilha, cuja soberania não é reconhecida por Pequim.
Os exercícios militares são uma resposta à viagem a Taiwan da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, na semana passada. As manobras, que começaram na quinta-feira, em seis zonas ao redor da ilha, deveriam ter terminado no domingo. Ontem, em comunicado, a China disse que continuaria a operação.
A visita de Pelosi, a primeira de uma autoridade americana de alto escalão a Taiwan desde 1997, foi considerada por Pequim uma violação de sua soberania. Além das operações militares, Pequim suspendeu a cooperação com os Estados Unidos em vários temas cruciais, incluindo a luta contra a mudança climática e questões de segurança.
MAIS MANOBRAS
O presidente da China, Xi Jinping, também anunciou manobras com munição real no Mar Amarelo, entre o continente e a Península Coreana, que vão até o dia 15. As operações, segundo a Marinha chinesa, ocorrerão na Baía de Haizhou, e navios ficarão proibidos de entrar por motivos de segurança.
Os chineses também iniciaram ontem exercícios militares no Mar de Bohai, por um mês, e emitiram alertas para que navios evitem a área durante horários específicos.
Diante do incremento da atividade militar chinesa nos últimos dias, o Exército taiwanês anunciou que fará dois testes com munição real na próxima semana, segundo o jornal South China Morning Post.
Ontem, o porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, disse que Pequim está realizando manobras normais.
A reunificação de Taiwan com a China é uma meta de Xi, que tentará obter mais um mandato como presidente da China no congresso do Partido Comunista, em novembro. O governo taiwanês critica as ameaças e acusa Pequim de criar uma crise deliberadamente. O Ministério da Defesa chinês tem mantido sua pressão diplomática. "A situação tensa no Estreito de Taiwan é inteiramente provocada e criada pelos EUA", disse o porta-voz do ministério, Wu Qian.
Outra ferramenta de batalha é a ofensiva de propaganda da China, destinada a minar a confiança de Taiwan, ao mesmo tempo que busca satisfazer o sentimento nacionalista no continente.
Depois que os exercícios militares começaram, na semana passada, a mídia estatal chinesa e alguns diplomatas compartilharam publicações e artigos destacando símbolos da cultura chinesa em cidades taiwanesas, o que, segundo eles, reforçaria a reivindicação de Pequim sobre a ilha.
No Twitter, a porta-voz da chancelaria da China, Hua Chunying, publicou mapas da capital taiwanesa, mostrando a localização de dezenas de restaurantes chineses. "Os paladares não enganam. Taiwan sempre fez parte da China. A criança perdida acabará voltando para casa", escreveu.
Segundo o jornal Financial Times, a campanha de propaganda tem jogado com a identidade nacional de Taiwan, além da história da migração chinesa e das ondas consecutivas de colonização.
BIDEN
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, expressou preocupação, mas disse que não espera uma escalada.
"Não estou preocupado, mas me inquieta que estejam fazendo tanto barulho. Mas não acho que vão fazer nada além do que estão fazendo".
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