REI CHARLES

MORRE A RAINHA ELIZABETH: veja quem é Charles, próximo rei do Reino Unido após morte da rainha Elizabeth II

Filho mais velho e sucessor da monarca, o príncipe Charles, 73 anos, já é considerado rei desde o momento da morte

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Amanda Azevedo

Publicado em 08/09/2022 às 15:43 | Atualizado em 08/09/2022 às 18:03
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Com Estadão Conteúdo e AFP

Em atualização

A rainha Elizabeth II, a monarca com o reinado mais longo da história britânica, morreu aos 96 anos, nesta quinta-feira (8).

Filho mais velho e sucessor da monarca, o príncipe Charles, já é considerado rei desde o momento da morte.

Aos 73 anos (nasceu em 14 de novembro de 1948), o até agora príncipe de Gales chegou ao trono como o monarca britânico mais velho - o segundo foi William IV, que tinha 64 anos quando se tornou rei, em 1831.


Já detentor de uma pensão de aposentadoria de pouco mais de 100 libras esterlinas - que doava a uma organização beneficente para pessoas idosas - e do passe de transporte público gratuito, Charles chega ao trono com uma reputação de ser mais intrometido politicamente que sua mãe, afeito a causas que vão da agricultura orgânica à arquitetura neoclássica, passando pela pobreza juvenil.

JANE BARLOW / POOL / AFP
Com a morte da rainha Elizabeth, Charles, seu filho, torna-se rei - JANE BARLOW / POOL / AFP

Terminando uma espera recorde na história da monarquia britânica, ele se tornou rei automaticamente após a morte de sua mãe, de acordo com a velha máxima latina "Rex nunquam moritur" (o rei nunca morre).

O novo rei britânico, até agora conhecido como príncipe Charles, vai adotar o nome de Charles III, anunciou nesta quinta-feira (8) Clarence House.

"Ele poderia surpreender e usar outro de seus nomes, como fez seu bisavô em 1901", disse à AFP Bob Morris, autor de vários livros sobre o futuro da monarquia no Reino Unido.

A sua coroação, uma cerimônia única na Europa, deverá acontecer, na melhor das hipóteses, dentro de algumas semanas, depois de passado o trauma da morte de Elizabeth II.

Ela mesma foi coroada na Abadia de Westminster em 2 de junho de 1953 diante de mais de 8.200 convidados, 16 meses depois de ser proclamada rainha.

- O príncipe ativista -

Em dezembro de 2016, Charles denunciou a ascensão do populismo e a hostilidade aos refugiados, justo no ano em que seu país deixou a União Europeia e Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos.

"Estamos vendo a ascensão de muitos grupos populistas em todo o mundo crescentemente agressivos em relação aos que professam uma fé minoritária".

"Tudo isso tem ecos profundamente inquietantes dos dias obscuros dos anos 1930", sentenciou.

Seu "ativismo" deu lugar a manchetes como: "Tensão no palácio, Charles se nega a ser um rei mudo" (Sunday Times), ou "a rainha teme que o país não esteja preparado para aceitar Charles e seu ativismo" (The Times).

As duas manchetes respondiam a uma biografia polêmica, "Charles: o coração de um rei" (Charles: Heart of a King), cuja autora, Catherine Mayer, apresentou um homem "sem entusiasmo" para substituir sua mãe, por medo de ter que abandonar seus interesses, e cercado de muita gente disposta a servi-lo.

- Camilla, a rainha consorte -

Uma campanha de relações públicas vigorosa o ajudou a virar a página de sua impopularidade no momento da morte trágica de sua ex-esposa Diana em 1997, de quem havia se divorciado, e a gerir seu novo casamento com Camilla, sua amante de toda a vida, em 2005.

Apesar de carregar o rótulo de ser a mulher por trás do divórcio, Camilla, extrovertida e risonha, terminou ganhando a simpatia da maioria dos britânicos.

Camila tornou-se automaticamente rainha consorte nesta quinta-feira, por desejo expresso de Elizabeth II, que disse isso durante um discurso em fevereiro de 2022 por ocasião de seus 70 anos de reinado. É o título que sua mãe e sua avó tiveram.

No entanto, devido à trágica morte de Diana, primeira esposa de Charles, o tratamento dado a Camilla foi sensível para muitos britânicos a ponto de, após se casar com ele em 2005, ela mesma decidir não assumir o título de princesa de Gales.

Agora, o novo rei assume as rédeas de uma instituição com um papel reduzido no mundo, numa época e idade que representam um duplo desafio para este príncipe de personalidade singular.

Desde seus primeiros compromissos oficiais na década de 1970, o papel do príncipe de Gales tem sido até agora de "apoio", recebendo dignitários, participando de jantares de Estado e viajando para uma centena de países, especialmente depois que Elizabeth II ficou com a saúde mais frágil.

No entanto, este aristocrata idoso tem pouca popularidade. Seria por sua idade, sua falta de jeito ou suas paixões que às vezes se confunde com interferência política?

Charles teve apenas 54% de opiniões favoráveis em agosto de 2021, de acordo com uma pesquisa do YouGov, muito atrás da rainha (80%), seu filho príncipe William (78%), sua nora Catherine (75%) e sua irmã, a Princesa Anne (65%).

Desde a morte de seu pai, Philip, em abril de 2021, e enquanto a rainha estava menos presente por motivos de saúde, Charles estreitou o círculo real para sua comitiva mais próxima: Camila, William e seu irmão mais novo Edward.

Ninguém sabe como Charles Philip Arthur George vai encarnar a monarquia britânica, mas uma coisa já é certa: seus anos no trono estão contados.

A morte da rainha Elizabeth

A rainha Elizabeth II, morreu após sete décadas de reinado em que enfrentou inúmeras crises em uma monarquia que agora se abre a um novo capítulo.

"A rainha faleceu pacificamente em Balmoral esta tarde. O rei e a rainha consorte permanecerão em Balmoral esta noite e retornarão a Londres amanhã", informou o Palácio de Buckingham em comunicado.

A saúde de Elizabeth II piorou consideravelmente nos últimos dias.

Na terça-feira, ela recebeu o primeiro-ministro demissionário, Boris Johnson, e sua sucessora, Liz Truss, em seu castelo escocês em Balmoral, para evitar uma viagem de 800 km até Londres.

Dois dias depois, a casa real anunciou que seus médicos estavam "preocupados com a saúde de sua majestade e recomendaram que ela permanecesse sob vigilância médica" em Balmoral, para onde seus filhos e netos viajaram imediatamente.

Isso incluiu o príncipe Harry e sua esposa Meghan, que estavam em Londres para um evento de caridade, apesar de residirem na Califórnia desde que deixaram a monarquia britânica em 2020, causando um duro golpe na instituição.

A viagem à Escócia para o casal, que não está em boas relações com a família real, agravou as preocupações levantadas por uma declaração já incomum de Buckingham.

A saúde da rainha, que, apesar da idade avançada, mantinha até então uma agenda bastante movimentada, começou a preocupar o país quando, em 20 de outubro, depois de cancelar uma viagem oficial à Irlanda do Norte, aceitou "com relutância o conselho médico de descanso", passando uma noite internada para exames médicos cuja natureza nunca foi especificada.

A notícia só veio a ser conhecida quando, diante de um vazamento para a imprensa, o palácio real teve que admitir que ela não estava simplesmente descansando como havia sugerido.

Desde então, a rainha teve que abrir mão de eventos como a conferência climática da ONU, realizada em novembro de 2021 em Glasgow, as habituais celebrações de Natal e o tradicional discurso do trono, com o qual inaugurava a nova sessão parlamentar todos os anos, sendo uma das suas funções constitucionais mais importantes.

- Decana dos monarcas -

Entregue de corpo e alma ao cargo de rainha, Elizabeth II havia resistido à pandemia de covid-19, à morte devastadora de seu marido Philip - falecido em abril de 2021 com quase 100 anos - e a várias crises na família real.

Entre elas, o "Megxit", o exílio de Harry e Meghan para os Estados Unidos, de onde acusaram a realeza de ser pouco solidária e racista, questões que a soberana prometeu tratar "em privado".

Também o escândalo protagonizado por Andrew, considerado seu filho predileto, que teve que deixar a vida pública por conta de sua amizade com o financista americano Jeffrey Epstein, acusado de exploração sexual de menores.

Inclusive, uma das vítimas, Virgina Guiffre, alegou ter sido forçada anos antes a manter relações com Andrew e o processou por abuso sexual nos Estados Unidos, acusações que sempre negou, mas que lhe valeram ser privado pela rainha de suas honras militares e do título de Alteza Real. O caso foi resolvido com um acordo confidencial de vários milhões de dólares.

Elizabeth II era a decana de todos os monarcas do mundo e a que mais tempo ocupou o trono britânico, ao qual ascendeu em 6 de fevereiro de 1952.

"Toda a minha vida, longa ou curta, será dedicada ao seu serviço e ao serviço do nosso grande país imperial", disse ela em seu aniversário de 21 anos, em um discurso interpretado como um manifesto descartando a abdicação.

Nascida em Londres em 21 de abril de 1926, "Lilibet", como sua família a chamava, não estava inicialmente destinada a ser rainha.

Mas o curso de sua vida mudou após a abdicação, por amor a uma americana divorciada, de seu tio Edward VIII em 1936.

Elizabeth II subiu ao trono quando tinha apenas 25 anos, quando seu pai, George VI, faleceu em fevereiro de 1952.

Mas precisou esperar até junho do ano seguinte para ser coroada a quadragésima soberana da Inglaterra desde William I, o Conquistador em 1066, na primeira e única cerimônia de coroação britânica televisionada.

A partir de então, ela dedicou sua vida incansavelmente aos seus deveres essencialmente cerimoniais e visitas oficiais como chefe de Estado, Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, Chefe da Comunidade Britânica e Chefe da Igreja da Inglaterra.

- Da morte de Diana a James Bond -

Casada aos 21 anos com seu primo distante Philip Mountbatten, a rainha teve quatro filhos: Charles, herdeiro do trono nascido em 1948; Anne, nascida em 1950; Andrew, em 1960; e Edward em 1964, que lhe deram oito netos e doze bisnetos.

Ao longo de seu reinado, Elizabeth II se esforçou para manter o prestígio da monarquia.

Quando a princesa Diana, divorciada há alguns anos do príncipe Charles, morreu tragicamente em 1997, os britânicos, chocados, criticaram sua frieza.

Esse episódio foi um duro teste para a instituição, que viveu suas piores horas.

Mas os Windsor aprenderam com seus erros e aos poucos foram recuperando a credibilidade, demonstrando sua capacidade de renovação, principalmente com o suntuoso casamento do príncipe William, filho mais velho de Charles e Diana, com a jovem plebeia Catherine e depois o de seu irmão Harry com a atriz americana Meghan Markle.

Quando Elizabeth celebrou seu Jubileu de Diamante em 2012, sua popularidade estava em alta novamente.

A cereja do bolo veio quando ela concordou em atuar ao lado do ator Daniel Craig como James Bond em um curta-metragem filmado para a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Londres.

Durante seu Jubileu de Platina em junho, mais uma vez mostrou seu senso de humor com um vídeo em que aparecia tomando chá com o famoso urso Paddington e batendo colheres de prata contra xícaras de porcelana ao som de "We Will Rock You" do Queen.

- Quinze primeiros-ministros -

A morte de Elizabeth II deixa órfãos 130 milhões de súditos no Reino Unido e nos 14 outros ex-domínios do Império Britânico: Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Jamaica, Antígua e Barbuda, Belize, Papua Nova Guiné, São Cristóvão e Nevis, São Vicente e Granadinas, Tuvalu, Granada, Ilhas Salomão, Santa Lúcia e Bahamas.

Durante seu reinado de mais de 70 anos, Elizabeth II lidou com 15 primeiros-ministros britânicos, embora a última, Truss, tenha se encontrado com ela apenas uma vez.

Os historiadores consideram que quem teve maior influência sobre ela foi Churchill, que serviu como seu mentor.

Quase sempre respeitou o princípio de não interferir na política, mas nos referendos sobre a independência escocesa em 2014 e sobre o Brexit em 2016 foram reveladas suas declarações feitas em privado, e nunca negadas, que apontavam para a sua preferência por manter os escoceses dentro da Coroa e o país deixar o bloco europeu.

No entanto, numa ocasião deu sinais que sugeriam apoio à União Europeia e apelou a "respeitar os diferentes pontos de vista" e "procurar uma base de entendimento", no que foi interpretado como um apelo à superação da divisão criada no país devido ao Brexit.

Em outubro de 2021, antes da COP26, considerou "realmente irritante", em uma conversa privada, que os líderes mundiais "falem, mas não atuem" contra o aquecimento global.

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