Da AFP
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou nesta quarta-feira (21) uma "mobilização parcial" dos russos em idade de combater na Ucrânia e advertiu o Ocidente que o país está disposto a utilizar "todos os meios" em sua defesa.
"Isto não é um blefe", declarou Putin, que acusou os países ocidentais de querer "destruir" a Rússia e por uma "chantagem nuclear" contra seu país, dando a entender que suas forças estariam dispostas a utilizar armamento nuclear.
Diante das contraofensivas relâmpago das forças ucranianas, que provocaram o recuo do exército russo, Putin optou por uma escalada no conflito, com uma medida que abre o caminho para o envio de mais militares à Ucrânia.
"Estamos falando apenas de uma mobilização parcial", insistiu o presidente russo em um discurso gravado e exibido nesta quarta-feira na televisão, antes de explicar que a ordem envolve cidadãos que "já serviram (...) e que têm experiência pertinente".
O ministro da Defesa do país, Serguei Shoigu, explicou que a ordem envolve 300.000 reservistas, o que, em suas palavras, representa apenas "1,1% dos recursos que podem ser mobilizados".
A ordem é efetiva a partir desta quarta-feira, segundo o presidente russo. O decreto foi publicado pouco depois da exibição do discurso no portal do Kremlin.
O opositor russo detido Alexei Navalny criticou a decisão, por considerar que levará a "uma enorme tragédia e uma enorme quantidade de mortos".
Mikhailo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ironizou a medida.
"Tudo isto continua seguindo de acordo com o plano, certo? A vida tem um grande senso de humor", escreveu no Twitter.
"210º dia da 'guerra de três dias'. Os russos que pediam a destruição da Ucrânia acabaram com: 1. Mobilização. 2. Fronteiras fechadas, bloqueio das contas bancárias. 3. Prisão por deserção", acrescentou Podolyak.
- Sinal de fraqueza? -
A embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Bridget Brink, afirmou que a medida representa um "sinal de fraqueza" de Moscou e o secretário britânico de Defesa, Ben Wallace, afirmou que a decisão de Putin mostra que sua ofensiva "está falhando", antes de destacar que "a comunidade internacional está unida, enquanto a Rússia está virando um pária global".
Para a Alemanha, esta é uma medida "grave e ruim", destacou o vice-chaneler Robert Habeck.
A União Europeia considerou os anúncios sobre a mobilização e os referendos "apenas outra prova de que Putin não está interessado na paz" e um sinal de seu desespero", afirmou Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell.
A China voltou a pedir um "cessar-fogo por meio do diálogo".
A mobilização pode provocar uma intensificação da violência.
Em Kharkiv (nordeste), segunda maior cidade da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia, Svetlana, 63 anos, pediu aos russos que ignorem a ordem e "acordem finalmente".
Galina, 50 anos, criticou os russos que afirmam desejar "libertá-la". "Querem nos libertar do quê? De nossas casas? De nossos parentes? De nossos amigos?", questionou.
As forças russas sofreram diversos reveses nas contraofensivas ucranianas nas regiões de Kherson (sul da Ucrânia) e de Kharkiv onde os russos foram obrigados a ceder muito território.
Shoigu anunciou que o exército russo registrou as mortes de 5.937 soldados desde o início da ofensiva, um balanço oficial muito superior ao anterior, mas que continua muito abaixo das estimativas ucranianas e ocidentais, que citam dezenas de milhares de baixas.
- "Não é um blefe" -
Os combates e bombardeios prosseguiam nesta quarta-feira e as autoridades ucranianas acusaram a Rússia de atacar novamente o complexo da central nuclear de Zaporizhzhia, no sul do país, a maior da Europa.
O discurso de Putin também representa uma escalada na retórica contra os países ocidentais, que acusou de querer "destruir" a Rússia.
"Também fizeram chantagem nuclear [...] Gostaria de recordar aos que fazem este tipo de declaração que nosso país também possui vários meios de destruição, alguns deles mais modernos que os dos países da Otan", declarou o presidente russo.
"Utilizaremos todos os meios disponíveis para proteger a Rússia e o nosso povo", destacou. "E estou dizendo 'todos os meios' [...] Isto não é um blefe", insistiu.
O ministro da Defesa afirmou que Rússia "não luta tanto contra a Ucrânia quanto contra o Ocidente".
Na terça-feira, as autoridades das regiões separatistas ou que estão sob ocupação na Ucrânia anunciaram "referendos" de anexação à Rússia de 23 a 27 de setembro.
As votações, parecidas com a que formalizou a anexação da península da Crimeia pela Rússia em 2014, acontecerão nas regiões de Donetsk e Lugansk, que formam a bacia do Donbass (leste), e nas regiões ocupadas de Kherson e Zaporizhzhia, no sul.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, minimizou os anúncios e chamou as votações de "pseudoreferendos".
- Dólar em alta -
No plano econômico, o dólar registrou a maior cotação em duas décadas, em um cenário de tensão, graças ao status de valor refúgio e com as especulações sobre uma política monetária estrita, antes de um anúncio sobre as taxas do Federal Reserve (Fed, banco central americano).
O Dollar Index, que compara a moeda americana com outras divisas como o iene, o euro e a libra, alcançou 110,87 pontos, um recorde desde 2002.
Na Rússia, as autoridades revisaram as estimativas sobre a evolução do PIB e projetam uma contração de 2,9% em 2022, abaixo da previsão anterior de 4%, anunciou o ministro do Desenvolvimento Econômico, Maxim Reshetnikov.
O Fundo Monetário Internacional prevê uma contração de 6% da economia russa em 2022.
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