"Nós te amamos, princesa", escreveram no cimento ainda fresco no túmulo de uma menina de três anos, que morreu arrastada pelo deslizamento que soterrou a cidade venezuelana de Las Tejerías e matou ao menos cinquenta pessoas.
Uma comissão da ONU visitou nesta sexta-feira (14) a cidade, encravada nas montanhas do estado de Aragua (centro-norte), para colocar à disposição provisões e capacidade técnica para apoiar as autoridades.
"De imediato, temos provisões que vamos colocar à disposição", disse a jornalistas Abubacar Sultan, representante do Unicef perante a delegação.
Os trabalhos de limpeza e restabelecimento da eletricidade continuam na cidade. Grande parte dos escombros e da lama foi retirada das ruas principais, embora algumas pessoas ainda retirem água de suas casas.
Funcionários dos serviços de energia elétrica e telefonia trabalham para restabelecê-los por completo, enquanto caminhões-pipa levam água para a região. Algumas lojas que não foram afetadas começaram a abrir as portas.
E no cemitério, continuam os sepultamentos de vítimas da tragédia ocorrida há seis dias, quando uma enxurrada de lama, pedras e árvores após horas de chuvas intensas.
Dos 50 mortos até agora confirmados pelas autoridades, 16 já foram sepultados, segundo trabalhadores do cemitério.
"Isto foi triste", disse um dos operários, que pediu para não ser identificado, enquanto retirava ervas daninhas.
"Esta é uma menina de três anos, que caiu dos braços da mãe quando a tragédia aconteceu", acrescentou, apontando para o nicho de azulejos azuis onde a pequena foi sepultada na quinta-feira.
A poucos metros dali, uma montanha de terra com um pequeno buquê cobre o túmulo de um casal de idosos. Um de seus familiares continua desaparecido.
"DAR TEMPO"
O ministro do Interior, Remigio Ceballos, disse nesta sexta à AFP que o número de 56 desaparecidos pode ser menor.
"Mantemos o números de 56 desaparecidos porque foi o que recebemos da comunidade" nos "momentos iniciais da tragédia", explicou.
"Passaram seis dias e estamos neste processo de desinformação, neste processo de conversa com a população, com todas as pessoas e, efetivamente, só há 12 denúncias de desaparecidos; no entanto, nós mantemos esse número para dar tempo".
O presidente Nicolás Maduro já falou de "uma centena de vítimas fatais".
Os dois enterros que estavam previstos para esta sexta ainda não foram realizados, pois dependiam da identificação dos cadáveres no instituto médico legal.
Raúl Borges, por exemplo, não sabe o que fazer, nem a quem recorrer. Ele encontrou sua esposa morta no rio e foi retirar o cadáver no necrotério e lhe disseram que já tinha sido entregue.
"Eles dizem que foi entregue e não está com eles", conta o homem de 67 anos, com os olhos avermelhados e inchados pelo choro. As autoridades tampouco souberam informá-lo a quem o corpo foi entregue.
ESFORÇO ARTICULADO
Apesar dos avanços, ainda há locais inacessíveis. De helicópteros, militares lançaram na quarta-feira caixas de comida com pequenos paraquedas para atender, por exemplo, pessoas em áreas isoladas.
O governo venezuelano habilitou refúgios e anunciou que realocará famílias em complexos de residências sociais em outros estados. Também anunciou a construção de 420 casas em Maracay para quem perdeu a moradia.
Sultan, que visitou a cidade com a vice-presidente, Delcy Rodríguez, e outros ministros, informou que estão "aportando o apoio técnico e todos os elementos que forem possíveis para contribuir".
Ele esteve acompanhado de representantes da Organização Pan-americana da Saúde (Opas) - que já doou medicamentos e pílulas purificadoras -, da Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e do Escritório das Nações Unias para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
"É um esforço articulado, coordenado (...), onde tudo vai estar muito organizado para que todos estes mecanismos que estão sendo estabelecidos para a recuperação de Las Tejerías sejam reforçados pelas Nações Unidas", disse Rodríguez, agradecendo o apoio do organismo multilateral.
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