As pressões insistentes da Ucrânia para receber os tanques alemães Leopard deram resultado e, nesta quarta-feira (25), a Alemanha cedeu. Além de prometer enviar 14 tanques para a Ucrânia, autorizou que os países europeus que possuem estoques possam transferi-los para o Exército ucraniano.
"Da entrega de 5.000 capacetes pesados (de combate, NDR) ao envio do Leopard para a Ucrânia: em menos de um ano, a Alemanha desfez sete décadas de política pacifista. Pode ter sido com reservas, mas se trata de um importante ponto de inflexão", comentou no Twitter o especialista Bruno Lété, do "think tank" German Marshall Fund, com sede em Washington.
O Reino Unido já ofereceu uma dezena de tanques Challenger 2. França e Estados Unidos se comprometeram a entregar blindados de reconhecimento e de infantaria, enquanto estudam a possibilidade de enviar carros de combate pesados.
Essa frente unida de apoio à Ucrânia é um novo revés para os russos, que, desde o início do conflito, apostam no esgotamento do suporte dos ocidentais.
Com esta ajuda de outra gama entregue à Ucrânia, os ocidentais correm novamente o risco de serem acusados de serem “cobeligerantes” pela Rússia. A questão é que, de fato, alguns tabus já foram quebrados desde o início da guerra na Ucrânia.
“Os obuses e os lançadores de foguetes múltiplos entregues em 2022 são equipamentos tão, ou mais sérios, do que os tanques, já que a artilharia é mais potente", disse o analista militar Mykola Bielieskov.
Os Estados Unidos superaram sua relutância e acabaram aceitando a entrega para a Ucrânia de seu sistema de mísseis terra-ar de médio alcance Patriot, considerado um dos melhores dispositivos de defesa aérea dos exércitos ocidentais.
Como Moscou vai reagir?
Nesta quarta, o embaixador russo na Alemanha, Sergei Nechaev, criticou a decisão, classificando-a de "extremamente perigosa", e disse que "ela levará o conflito para um novo nível de confrontação".
Uma fonte do bloco europeu observou que os tanques "não são uma ferramenta de escalada, dado seu provável uso pelos ucranianos" apenas em seu território, não além.
Em resposta, Moscou pode ficar tentada a mobilizar pela primeira vez no terreno seu tanque T-14, uma nova geração de armamento que não foi utilizada em combate.
Mas existem apenas cerca de 20 tanques fabricados, observa Andras Racz, do Conselho Alemão de Relações Internacionais.
Assim, "na ausência de uma resposta militar simétrica, pode-se esperar uma intensificação da ofensiva de informação por parte da Rússia, que pode se ver estimulada a lançar uma segunda onda de mobilizações".
O especialista disse, no entanto, que "os russos sabem muito bem que uma dúzia de tanques ocidentais não vão mudar o curso do conflito. Não espero uma escalada imediata por parte de Moscou".
Um trunfo para Kiev
Desde dezembro, a Ucrânia pede a entrega de cerca de 300 tanques ocidentais para lançar contraofensivas, depois de meses de relativa estabilidade no "front" e ante o temor de que a Rússia lance uma vasta ofensiva no Donbass, no leste, com a chegada da primavera (boreal).
Os tanques e veículos blindados podem permitir às forças ucranianas ganhar dinamismo e dar esperança na hora de romper as linhas de defesa russas com o apoio da artilharia. Com isso, sairiam da guerra de trincheiras que impera no leste do país.
"Os tanques são parte integrante da guerra conjunta desde a Segunda Guerra Mundial. Nenhuma operação defensiva, nem ofensiva, é possível sem um arsenal de carros de assalto", disse o especialista ucraniano Mykola Bielieskov.
O analista frisou que esses tanques não são uma solução milagrosa.
“Somente se forem usados em conjunto com a infantaria mecanizada, o uso de artilharia, defesa aérea e mísseis, os tanques podem trazer resultados”, advertiu.
Comentários