FUNERAL

Emoção e raiva contra a violência policial no funeral de Tyre Nichols nos EUA

Também estava presente outro símbolo forte, um irmão de George Floyd - homem negro que morreu asfixiado em 2020 sob o joelho de um policial branco

Filipe Farias
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Filipe Farias
Publicado em 01/02/2023 às 21:05 | Atualizado em 01/02/2023 às 21:06
POOL / AFP
Tyre Nichols, morto após um brutal espancamento policial, foi enterrado nesta quarta-feira (1°) nos Estados Unidos - FOTO: POOL / AFP

Da AFP

Participantes do funeral de Tyre Nichols, o afro-americano que morreu após um brutal espancamento policial, condenaram a violência institucional que tirou a vida de "uma boa pessoa (...) que partiu cedo demais".

Depois de abraçar a mãe de Nichols por um longo tempo na igreja de Memphis onde a homenagem foi realizada, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, atacou os policiais negros que o espancaram enquanto ele gritava por socorro.

"Ele não tinha o direito de estar seguro?", questionou Harris. "Aqui está uma família que perdeu seu filho e seu irmão em um ato violento" perpetrado por "pessoas encarregadas de protegê-los", e "esse ato violento não visava garantir a segurança pública", declarou à multidão.

Nichols era "uma boa pessoa, uma bela alma, um filho, um pai, um irmão, um amigo, um ser humano que partiu cedo demais", disse o reverendo J. Lawrence Turner em seu discurso de abertura na Igreja Cristã Mississippi Boulevard.

"Mas no final venceremo", acrescentou, referindo-se à violência policial que afeta particularmente a população negra nos Estados Unidos.

Também presente estava outro símbolo forte, um irmão de George Floyd - homem negro que morreu asfixiado em 2020 sob o joelho de um policial branco, o que desencadeou enormes manifestações antirracistas nos EUA.

Compareceu ainda a mãe de Breonna Taylor, mulher negra de 26 anos, morta a tiros pela polícia em seu apartamento no Kentucky em 2020, que virou um ícone do movimento "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam).

O reverendo Al Sharpton, uma figura da luta americana pelos direitos civis, fez a oração fúnebre.

Calvário

Nichols, de 29 anos, foi detido em Memphis no dia 7 de janeiro por membros da unidade especial SCORPION, que o acusou por uma infração de trânsito.

Todo o procedimento policial foi gravado pelas câmeras acopladas nos uniformes do agentes e pelas câmeras de segurança pública da cidade.

Os vídeos deixam evidentes a violência brutal com socos, chutes, golpes de cassetetes, gás de pimenta e uma arma de choque. Em nenhum momento Nichols parece tentar agredir os policiais. Ele tenta fugir e é pego. Sua morte ocorreu três dias depois.

Os cinco policiais envolvidos - todos negros - foram demitidos e enfrentam acusações por homicídio doloso. Dois outros agentes foram suspensos, assim como três bombeiros.

Após o ocorrido, a polícia de Memphis desmantelou a unidade SCORPION, criada em novembro de 2021 com a intenção de reduzir a atividade ilegal em pontos críticos da cidade.

Clamor por mudanças

Após a morte de Nichols, foram registrados protestos exigindo mudanças drásticas nas forças policiais nos Estados Unidos. As autoridades temem que as manifestações adquiram caráter violento, como após a morte de George Floyd, embora tenham sido pacíficas até o momento.

A presença da vice-presidente Harris enfatiza o impacto político deste novo caso de brutalidade policial. O próprio presidente americano, Joe Biden, se declarou "indignado e profundamente triste" pelas imagens da abordagem dos agentes e falou com a família de Nichols para saudar sua "valentia e força".

Biden planeja se reunir com os membros da Coalização Negra do Congresso americano na Casa Branca para debater uma legislação que permita uma reforma policial, segundo um porta-voz da Casa Branca.

"O presidente Biden está decidido a fazer tudo o que estiver ao seu alcance (...) para garantir que o nosso sistema judicial atenda às expectativas de imparcialidade (...) e dignidade para todos", acrescentou o funcionário.

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