PROTESTO NA FRANÇA

Sindicatos intensificam protestos contra reforma da Previdência na França

A mobilização superou a de 31 de janeiro, até então considerada a maior manifestação contra uma reforma social em três décadas no país

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 07/03/2023 às 17:03
ARNAUD FINISTRE / AFP
Macron enfrenta resistência de setores trabalhistas - FOTO: ARNAUD FINISTRE / AFP

AFP

Os protestos contra a reforma da Previdência defendida pelo presidente liberal, Emmanuel Macron, entraram em uma nova fase nesta terça-feira (7), com a retomada das manifestações multitudinárias e o início de uma greve prorrogável em setores-chave.

Segundo o Ministério do Interior, a manifestação foi a maior contra a reforma da Previdência na França, com 1,28 milhão de manifestantes.

O sindicato CGT estimou, por sua vez, que 3,5 milhões de pessoas protestaram contra o projeto de adiar a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030.

A mobilização superou a de 31 de janeiro, até então considerada a maior manifestação contra uma reforma social em três décadas no país, quando se registrou a maior mobilização contra uma reforma social e que em todo o país reuniu entre 1,27 e 2,8 milhões de manifestantes.

"Conseguimos mostrar a determinação do mundo do trabalho", o governo "não pode continuar a se fazer de surdo", disse o líder do sindicato CFDT, Laurent Berger, que comemorou a "mobilização histórica" no início da manifestação em Paris.

A segunda maior economia da União Europeia (UE) tem a sexta jornada de greve convocada pelos sindicatos desde 19 de janeiro para protestar contra o endurecimento das condições de acesso a uma pensão integral, defendida de maneira inflexível pelo governo Macron.

"Não vamos desistir... Temos que impactar o governo para que ceda", disse Patrick, um aposentado ferroviário de 61 anos, que se manifestou sob a chuva com cerca de 6.000 outras pessoas, segundo os sindicatos, em Calais (norte).

A frente sindical unitária deve se reunir à noite para definir os próximos passos. Após protestos na quarta-feira (8) por ocasião do Dia Internacional da Mulher e no dia seguinte, por convocação dos estudantes, os sindicatos podem estabelecer um novo dia de manifestações no sábado.

Diante dos acontecimentos, Macron joga uma parte importante de seu crédito político, depois que a pandemia o obrigou a abandonar uma reforma anterior durante seu primeiro mandato, também marcado pelo protesto social dos "coletes amarelos".

De acordo com pesquisas, dois em cada três franceses são contrários ao projeto de elevar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e de antecipar para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos (e não 42, como atualmente) para receber a pensão integral.

Cortes de eletricidade

Após semanas de protestos pacíficos sem sucesso desde 19 de janeiro, os sindicatos intensificaram sua luta contra o governo no final das férias escolares de inverno na França, com o objetivo de "paralisar" a economia.

O dia amanheceu com estradas bloqueadas de Rennes (oeste) a Perpignan (sul), com a suspensão do envio de combustível de todas as refinarias, uma greve dos lixeiros, com escolas fechadas, além de trens e voos cancelados, entre outros.

Em Annonay (sudeste), cidade do ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, mais de 2.000 casas ficaram sem eletricidade, informou a empresa Enedis. Outros possíveis cortes de energia "selvagens" foram registrados em Boulogne-sur-Mer e Neuville-en-Ferrain (norte).

Na segunda-feira, os grevistas paralisaram três de quatro terminais de metano por "sete dias" e, desde sexta-feira, derrubaram a produção de eletricidade no setor nuclear.

Apesar da forte mobilização nas ruas, que registrou incidentes com a polícia em Paris e outras cidades como Rennes, o percentual de grevistas era menor do que o registrado no início do movimento, principalmente entre ferroviários (39% ao meio-dia, segundo os sindicatos) e professores (um terço, segundo o governo).

Após fracassar na tentativa de convencer a população sobre a necessidade da reforma para evitar um futuro déficit no fundo de pensões, a primeira-ministra, Élisabeth Borne, tenta agora desacreditar o movimento de oposição e, na segunda-feira, qualificou a nova estratégia sindical como "irresponsável".

A última vez que os franceses conseguiram evitar uma reforma da Previdência aconteceu em 1995. Os sindicatos paralisaram os serviços de trens e metrô por três semanas e conseguiram manter um grande apoio da opinião pública.

Mas o tempo urge. Na ausência de maioria oficial no Parlamento, o governo optou por um controverso procedimento que lhe permite aplicá-lo, caso as duas câmaras não se pronunciem nos mesmos termos até o final de março.

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