Enviado do Papa à Ucrânia se reuniu com comissária russa sob ordem de prisão do TPI
O cardeal Zuppi, que chegou a Moscou na terça-feira, também se reuniu com o chefe da Igreja Ortodoxa russa, patriarca Cirilo I, em um encontro pouco comum entre autoridades do clero de ambas as confissões
Da AFP
O enviado do Papa para a paz na Ucrânia, cardeal Matteo Zuppi, reuniu-se nesta quinta-feira (29), em Moscou, com a comissária russa para a Infância, Maria Lvova-Belova, alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por suposta "deportação ilegal" de menores ucranianos.
"Conversamos sobre questões humanitárias ligadas às operações militares e à proteção dos direitos das crianças", escreveu a autoridade russa no Telegram, que incluiu em sua mensagem várias imagens com o cardeal italiano. "Tenho certeza de que o amor cristão e a misericórdia ajudarão o diálogo e a compreensão recíproca", acrescentou.
Tanto ela quanto o presidente Vladimir Putin estão desde março sob mandado de prisão do TPI, que os considera suspeitos do "crime de guerra de deportação ilegal" de menores ucranianos durante a ofensiva russa no país vizinho.
Moscou rejeita essas acusações e diz que "salvou" essas crianças dos combates e implementou procedimentos para reuni-las com suas famílias.
- Na França, cidade impõe toque de recolher por tumultos após morte de adolescente pela polícia
- Policial que matou adolescente na França pede perdão a família da vítima
- Otan está pronta para se defender de 'Moscou ou Minsk', diz Stoltenberg
- Líder do grupo Wagner nega que quisesse tomar o poder na Rússia
O cardeal Zuppi, que chegou a Moscou na terça-feira, também se reuniu com o chefe da Igreja Ortodoxa russa, patriarca Cirilo I, em um encontro pouco comum entre autoridades do clero de ambas as confissões. "No momento em que as relações entre a Rússia e o Ocidente enfrentam problemas graves, é muito importante que se unam todas as forças que desejam preservar a paz e a justiça", declarou o patriarca, um aliado de Putin.
Cirilo também se referiu a uma "ameaça real de conflito armado mundial de grande envergadura" e convocou as duas Igrejas a empreenderem "esforços conjuntos para impedir uma evolução negativa" da situação, segundo um comunicado. O cardeal Matteo Zuppi acrescentou que, "como cristãos", eles deveriam se ajudar mutuamente com o objetivo de agir, diz o texto.
O cardeal Zuppi é membro da comunidade católica de Santo Egídio, que serve como canal diplomático informal do Vaticano, e visitou Kiev de 5 a 6 de junho.
Libertação de prisioneiros de guerra
A visita não permitiu avançar na resolução do conflito, mas o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, estimou que "a Santa Sé pode dar uma contribuição efetiva" para a libertação dos prisioneiros de guerra ucranianos e para o retorno das crianças "deportadas" — segundo Kiev — para o território russo.
A Ucrânia considera que pelo menos 20.000 menores foram levados ilegalmente para a Rússia.
“A missão que o santo padre Francisco confiou a sua eminência, o cardeal Zuppi, é identificar e encorajar iniciativas humanitárias que permitam trilhar um caminho que, esperamos, possa levar à tão ansiada paz”, disse o núncio apostólico na Rússia, Giovanni D'Aniello, citado no canal Telegram da Santa Sé.
Em Moscou, Zuppi se reuniu ontem com o assessor diplomático do Kremlin, Yuri Uchakov. Na noite de hoje, presidiu uma concelebração eucarística na catedral católica da capital russa.
A visita de Zuppi, que retorna a Roma amanhã, é a primeira de um funcionário da alta hierarquia do Vaticano a Moscou desde o início da ofensiva russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022.