EM BUSCA DE PAZ

Enviado do Papa à Ucrânia se reuniu com comissária russa sob ordem de prisão do TPI

O cardeal Zuppi, que chegou a Moscou na terça-feira, também se reuniu com o chefe da Igreja Ortodoxa russa, patriarca Cirilo I, em um encontro pouco comum entre autoridades do clero de ambas as confissões

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Filipe Farias

Publicado em 29/06/2023 às 21:49
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Da AFP

O enviado do Papa para a paz na Ucrânia, cardeal Matteo Zuppi, reuniu-se nesta quinta-feira (29), em Moscou, com a comissária russa para a Infância, Maria Lvova-Belova, alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por suposta "deportação ilegal" de menores ucranianos.

"Conversamos sobre questões humanitárias ligadas às operações militares e à proteção dos direitos das crianças", escreveu a autoridade russa no Telegram, que incluiu em sua mensagem várias imagens com o cardeal italiano. "Tenho certeza de que o amor cristão e a misericórdia ajudarão o diálogo e a compreensão recíproca", acrescentou.

Tanto ela quanto o presidente Vladimir Putin estão desde março sob mandado de prisão do TPI, que os considera suspeitos do "crime de guerra de deportação ilegal" de menores ucranianos durante a ofensiva russa no país vizinho.

Moscou rejeita essas acusações e diz que "salvou" essas crianças dos combates e implementou procedimentos para reuni-las com suas famílias.

O cardeal Zuppi, que chegou a Moscou na terça-feira, também se reuniu com o chefe da Igreja Ortodoxa russa, patriarca Cirilo I, em um encontro pouco comum entre autoridades do clero de ambas as confissões. "No momento em que as relações entre a Rússia e o Ocidente enfrentam problemas graves, é muito importante que se unam todas as forças que desejam preservar a paz e a justiça", declarou o patriarca, um aliado de Putin.

Cirilo também se referiu a uma "ameaça real de conflito armado mundial de grande envergadura" e convocou as duas Igrejas a empreenderem "esforços conjuntos para impedir uma evolução negativa" da situação, segundo um comunicado. O cardeal Matteo Zuppi acrescentou que, "como cristãos", eles deveriam se ajudar mutuamente com o objetivo de agir, diz o texto.

O cardeal Zuppi é membro da comunidade católica de Santo Egídio, que serve como canal diplomático informal do Vaticano, e visitou Kiev de 5 a 6 de junho.

Libertação de prisioneiros de guerra

A visita não permitiu avançar na resolução do conflito, mas o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, estimou que "a Santa Sé pode dar uma contribuição efetiva" para a libertação dos prisioneiros de guerra ucranianos e para o retorno das crianças "deportadas" — segundo Kiev — para o território russo.

A Ucrânia considera que pelo menos 20.000 menores foram levados ilegalmente para a Rússia.

“A missão que o santo padre Francisco confiou a sua eminência, o cardeal Zuppi, é identificar e encorajar iniciativas humanitárias que permitam trilhar um caminho que, esperamos, possa levar à tão ansiada paz”, disse o núncio apostólico na Rússia, Giovanni D'Aniello, citado no canal Telegram da Santa Sé.

Em Moscou, Zuppi se reuniu ontem com o assessor diplomático do Kremlin, Yuri Uchakov. Na noite de hoje, presidiu uma concelebração eucarística na catedral católica da capital russa.

A visita de Zuppi, que retorna a Roma amanhã, é a primeira de um funcionário da alta hierarquia do Vaticano a Moscou desde o início da ofensiva russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022.

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