Agência da ONU demite funcionários e países suspendem o seu financiamento após denúncias de envolvimento com Hamas

Agência da ONU para os Refugiados Palestinos demitiu vários supostos envolvidos no ataque do Hamas em 7 de outubro

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AFP

Publicado em 30/01/2024 às 14:16
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Os Estados Unidos suspenderam nesta sexta-feira (26) o financiamento à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), depois que este órgão, há muito tempo na mira de Israel, demitiu vários supostos envolvidos no ataque do Hamas em 7 de outubro.

"Decidi rescindir com efeito imediato os contratos desses funcionários e iniciar uma investigação para estabelecer a verdade sem demora", declarou o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, após ser informado por Israel sobre a suspeita.

"Qualquer funcionário que tenha envolvimento em atos de terrorismo terá que prestar contas, inclusive mediante ações legais", acrescentou Lazzarini em comunicado. Pouco depois, os Estados Unidos anunciaram que suspenderiam "temporariamente o financiamento adicional" à agência da ONU.

Acusações

Washington está "extremamente preocupado" com as acusações de que 12 funcionários da UNRWA teriam envolvimento no ataque, indicou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, em comunicado.

O titular da diplomacia americana, Antony Blinken, destacou a "necessidade de uma investigação rápida e exaustiva sobre esta questão", em uma conversa com o secretário-geral da ONU, António Guterres.

O ministro das Relações Exteriores israelense exigiu, por sua vez, uma "investigação interna exaustiva das atividades do Hamas e outras organizações terroristas" na UNRWA.

Duro golpe à UNRWA

Israel já havia acusado a agência da ONU de corrupção e conivência com o Hamas, o que a UNRWA sempre negou. As informações desta sexta representam um duro golpe para a agência, que já vinha tendo dificuldades para financiar suas operações nos últimos anos.

Os Estados Unidos, os principais contribuintes, haviam cancelado seu financiamento durante o mandato do ex-presidente Donald Trump, que considerou que suas atividades não eram neutras.

ANWAR AMRO/AFP
Refugiados palestinos reúnem-se em frente aos escritórios da agência da ONU para refugiados palestinos, UNRWA, em Beirute, em 30 de janeiro de 2024, para protestar contra a decisão de alguns países de parar de financiar a organização - ANWAR AMRO/AFP

A chegada de Joe Biden à Presidência representou um respiro, com o anunciado restabelecimento de ajudas pelo valor de 340 milhões de dólares em 2021 (quase R$ 2 bilhões, em valores da época).

As relações entre Israel e UNRWA pioraram depois que a agência atribuiu, na quarta-feira, a tanques israelenses os disparos contra um de seus centros de acolhimento de deslocados em Khan Yunis, no sul de Gaza.

Pelo menos 13 pessoas morreram e 56 ficaram feridas nesse ataque segundo a agência, que denunciou uma "flagrante violação das regras fundamentais da guerra".

Investigação

O Exército israelense afirmou que vai abrir uma "investigação exaustiva" de suas operações na área, mas não descartou a responsabilidade do Hamas no ataque.

O Exército israelense é a única força a ter tanques destacados em Gaza, que é bombardeada sem descanso desde o ataque do Hamas em Israel em 7 de outubro, que causou a morte de aproximadamente 1.140 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP realizado com base em dados oficiais israelenses.

A ofensiva militar lançada por Israel em resposta deixa, até o momento, 26.083 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Hamas, que governa o território palestino.

A UNRWA lembrou nesta sexta que "mais de 2 milhões de pessoas" dependem em Gaza da ajuda que proporciona desde o início da guerra.

Suspensão

A Nova Zelândia somou-se nesta terça-feira (30) aos países que suspenderam o financiamento da agência da ONU de assistência aos refugiados palestinos (UNRWA) após acusações de Israel de que alguns funcionários da agência participaram do ataque do Hamas em 7 de outubro.

O primeiro-ministro Christopher Luxon anunciou a suspensão do financiamento até que as acusações sejam investigadas. Segundo ele, a Nova Zelândia aportava mais de US$ 600 mil anuais na agência.

Habitantes da Faixa de Gaza lamentaram, nesta segunda-feira (29), que vários países doadores suspenderam seu financiamento à agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) e afirmaram que esta é sua única fonte de acessar suprimentos no território assolado pela guerra.

Demissões

A agência despediu 12 de seus empregados acusados por Israel de terem participado dos ataques do Hamas de 7 de outubro e prometeu uma investigação exaustiva.

Na cidade de Rafah, no sul de Gaza, onde 1,5 milhão de pessoas deslocadas encontraram abrigo, vários habitantes explicaram à AFP que a ajuda da agência era para eles uma verdadeiro salva-vidas.

"Se parar, morreremos de fome e ninguém virá nos socorrer", disse Sabah Musabih, de 50 anos. Amal Abdel Moneim, que fugiu da Cidade de Gaza (norte), afirmou que "ninguém ajuda os civis, salvo a UNRWA". Sem ela, "nosso povo morrerá".

Vários países, incluindo Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Japão, anunciaram que suspenderão seu financiamento à agência.

Israel comprometeu-se a proibir que a agência siga operando em Gaza depois da guerra.

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