TRAGÉDIA

Morre em acidente de helicóptero o ex-presidente do Chile Sebastián Piñera

Em Santiago, nos arredores da sede de seu partido Renovação Nacional (RN) e de sua casa na comuna de Las Condes, dezenas de admiradores se aproximaram para deixar flores e mensagens

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AFP

Publicado em 06/02/2024 às 21:56
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O ex-presidente do Chile Sebastián Piñera morreu nesta terça-feira (6) em um acidente de helicóptero em Lago Ranco, um balneário situado 920 km ao sul de Santiago, onde ele passava as férias ao lado de filhos e netos.

"Com profundo pesar comunicamos o falecimento do ex-presidente da república do Chile, Sebastián Piñera Echeñique" aos 74 anos, depois que seu helicóptero caiu, por volta das 15h (hora de Santiago e Brasília), em Lago Ranco, região de Los Ríos, enquanto viajava junto com outras três pessoas que sobreviveram, disse seu escritório.

CORPO DO EX-PRESIDENTE

Funcionários do Serviço Médico Legal (SML) entraram em um escritório da Polícia de Carabineros em Lago Ranco, onde estava o corpo do ex-presidente, entre algumas pessoas que se aproximaram para expressar mensagens de condolências à família, observou uma equipe da AFP.

Em Santiago, nos arredores da sede de seu partido Renovação Nacional (RN) e de sua casa na comuna de Las Condes, dezenas de admiradores se aproximaram para deixar flores, mensagens e acender velas em sua memória.

"A grande herança que ele deixará é mostrar que a direita também tem um grande respeito pela democracia", destacou Orlando Toledo, um vizinho do exclusivo bairro residencial onde o ex-presidente vivia.

O ex-ministro da Educação de seu governo e morador de Lago Ranco, Gerardo Varela, disse a veículos chilenos que "não se sabe se (o ex-presidente) sofreu um infarto ou não, mas ele não teria conseguido soltar o cinto (de segurança) e, consequentemente, teria afundado com o helicóptero" em um lago de águas profundas e turbulentas.

Piñera, que governou o Chile em duas ocasiões (2010-2014 e 2018-2022), foi o primeiro presidente de direita a chegar ao poder por eleição popular após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), acabando com duas décadas de hegemonia de governos de esquerda.

BORIC LAMENTA

O governo do presidente de esquerda Gabriel Boric, que o sucedeu no poder em março de 2022, lamentou profundamente sua morte.

"O presidente Piñera contribuiu, desde sua visão, para construir grandes acordos pelo bem da pátria. Ele foi um democrata desde o primeiro momento, e buscava genuinamente o que ele acreditava ser o melhor para o país", destacou Boric, que decretou três dias de luto e um funeral de Estado na quinta ou sexta-feira.

Segundo amigos que estavam em Lago Ranco, o ex-presidente estava passando alguns dias na casa de veraneio da família com sua esposa, Cecilia Morel, e alguns de seus quatro filhos e nove netos.

Os governos da América Latina e da Espanha expressaram seu pesar pela morte do ex-presidente Piñera, surpreendidos pelo acidente que tirou a vida de uma pessoa jovial, hiperativa e que sempre buscou o diálogo, destacaram.

CONDOLÊNCIAS DE LULA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva escreveu na rede social X: "Surpreso e triste com a morte de Sebastián Piñera, ex-presidente do Chile. Convivemos, trabalhamos pelo fortalecimento da relação dos nossos países e sempre tivemos um bom diálogo, quando ambos éramos presidentes, e também quando não éramos. Muito triste seu falecimento de forma tão abrupta. Meus sentimentos aos seus familiares e amigos de Piñera por esta perda".

Às mensagens de luto dos presidentes do Peru, Uruguai, Colômbia e Argentina, juntou-se o chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez. Ele destacou que, durante o mandato de Piñera, os laços entre Espanha e Chile se estreitaram: "Juntos, tornamos possível a COP 25 em um momento crucial para a luta contra a emergência climática. Que descanse em paz".

Piñera, que era doutor em economia pela Universidade americana de Harvard, foi um empresário astuto que acumulou uma fortuna no setor bancário e em empresas de diversos setores.

Ele completou 74 anos em 1º de dezembro passado e era conhecido por pilotar seu próprio helicóptero.

ÚLTIMO MANDATO

Durante seu último mandato (2018-2022), Piñera enfrentou a convulsão social de outubro de 2019, quando protestos multitudinários provocados pelo aumento da passagem do metrô acabaram por se transformar em uma grande manifestação contra um modelo de livre mercado com ausência do Estado na educação, na saúde, na Previdência e sem bem-estar social.

À onda de protestos somou-se a pandemia de covid-19, aumentou a polarização política pelo debate sobre a mudança da Constituição e fez-se sentir uma crise econômica que o Chile não vivia em 30 anos.

Quando os indícios de recuperação davam uma trégua, a publicação dos 'Pandora Papers', sobre a venda da Mineradora Dominga, em 2010, por uma empresa de seus filhos, voltou a salpicar sua imagem.

Piñera encerrou seu último mandato com grande desaprovação popular.

Nos últimos meses, reapareceu em momentos-chave para dar sua posição conservadora a respeito dos principais problemas dos chilenos.

"Sempre valorizei o compromisso do ex-presidente Piñera com nosso país e com a democracia, assim como seu trabalho incansável e seu serviço à nação. Que descanse em paz", lamentou a ex-presidente Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018).

Nesta terça, a notícia de sua morte disparou mensagens de respeito de líderes políticos de todos os matizes, do Partido Comunista à extrema direita ou a Democracia Cristã, e diferentes países.

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