Combates intensos em Gaza apesar do alerta dos EUA sobre risco de 'caos'
Os correspondentes da AFP e várias testemunhas observaram confrontos violentos entre soldados israelenses e combatentes do Hamas
Os combates entre o Exército israelense e o movimento palestino Hamas prosseguem nesta segunda-feira (13) na Faixa de Gaza, principalmente em Rafah, apesar das advertências dos Estados Unidos contra uma ofensiva nesta cidade superpopulosa, algo que poderia gerar um cenário de "caos".
Os correspondentes da AFP e várias testemunhas observaram confrontos violentos entre soldados israelenses e combatentes do Hamas em diversos pontos de Gaza.
"Nossa guerra de independência ainda não acabou. Continua até hoje (...) Estamos determinados a vencer esta luta", afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante o Dia da Memória, que todos os anos homenageia os mortos em conflitos.
OPERAÇÃO EM RAFAH
Quase uma semana depois do início da operação do Exército israelense em Rafah, cidade fronteiriça com o Egito no sul da Faixa de Gaza, onde 1,4 milhão de palestinos estão aglomerados, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, declarou que uma ofensiva nesta localidade não alcançará o objetivo anunciado por Israel de eliminar o Hamas.
Netanyahu ameaça lançar uma grande ofensiva terrestre para atacar os últimos batalhões do Hamas, que, alega ele, estão refugiados em Rafah.
Nos últimos dias, foram registrados combates entre as forças israelenses e milicianos palestinos no norte da Faixa, onde, segundo um porta-voz do Exército, o Hamas está "tentando reconstituir as suas capacidades militares".
Também ocorreram confrontos em Zeitun e Jabalya, respectivamente no centro e norte da Faixa, segundo correspondentes da AFP e testemunhas.
Na semana passada, as forças israelenses ordenaram à população que abandonasse o leste de Rafah e 300.000 palestinos seguiram a instrução, segundo o Exército.
Blinken, no entanto, afirmou em uma entrevista ao canal NBC que uma grande operação em Rafah pode provocar "caos", "anarquia" e "enormes danos" para a população civil, "sem resolver o problema" do Hamas.
"Vimos o Hamas voltar às áreas que Israel libertou no norte, inclusive em Khan Yunis", uma cidade em ruínas perto de Rafah, declarou.
"Um inferno"
A pé ou em veículos, milhares de palestinos continuam fugindo de Rafah em uma tentativa de encontrar refúgio em outros pontos de Gaza.
"Vivemos um inferno durante três dias e as piores noites desde o início da guerra", disse à AFP Mohamed Hamad, 24 anos, que fugiu do leste de Rafah após as ordens de evacuação do Exército israelense.
Outros habitantes, que não puderam deixar o lugar por falta de meios, descrevem uma "cidade fantasma".
"Desde que amanheceu estou em busca de pão para alimentar meus filhos, em vão. Meus filhos estão na rua e não sei para onde levá-los", contou Mostafa Dib.
"Falar de áreas seguras é falso e enganoso. Nenhum lugar é seguro em Gaza para os quase 2,4 milhões de habitantes", escreveu na rede social X o diretor da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini.
O Hamas acusou no domingo Israel de querer "inviabilizar" as negociações sobre uma trégua e a libertação dos reféns mantidos em Gaza, até agora sem resultados, com a ofensiva em Rafah.
A guerra foi provocada pelo ataque de 7 de outubro de milicianos do Hamas, infiltrados a partir de Gaza no sul de Israel, que deixou mais de 1.170 mortos, a maioria civis, segundo o balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Mais de 250 pessoas foram sequestradas durante o ataque e 128 permanecem em cativeiro em Gaza, das quais 36 teriam sido mortas, segundo o Exército israelense.
Em resposta, o Exército iniciou bombardeios, seguidos por uma ofensiva terrestre em 27 de outubro, que devastou Gaza, provocou o deslocamento da maior parte da população e resulto em um desastre humanitário, com uma ameaça iminente de fome, segundo a ONU.
De acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, 35.091 pessoas morreram desde o início da guerra, a maioria civis.
O movimento islamista nunca deu um balanço dos mortos ou feridos entre seus integrantes, mas o presidente turco Recep Tayyip Erdogan afirmou que "mais de 1.000 membros do Hamas", que classifica como uma "organização de resistência", estão hospitalizados na Turquia.
O Hamas alertou nesta segunda-feira que o sistema de saúde no território palestino está "a poucas horas do colapso" devido à falta de combustível necessário para operar os geradores nos hospitais, as ambulâncias e os meios de transporte dos funcionários.