É assim que não acaba: inteligência, Mossad e o Hezbollah

É arriscado determinar os próximos eventos no Oriente Médio, enquanto estamos próximos de completar um ano de guerra entre Israel e Hamas

Publicado em 21/09/2024 às 15:14

*Por Antonio Henrique Lucena Silva e Gregorio Noya Sampaio de Sá

Na última terça-feira, 17 de setembro, vários pagers explodiram no Líbano. Os dispositivos eletrônicos, muito populares nas décadas de 1980 e 1990, que precederam os atuais celulares, eram considerados obsoletos como mecanismo de comunicação.

Os smartphones contemporâneos são utilizados para diversos serviços, além da comunicabilidade. No entanto, os aparelhos atuais, além de facilitar a troca de informações, são rastreáveis por um aparato de inteligência robusto e com capacidade tecnológica para tal.

Por esta razão, o líder do grupo Hezbollah, Hassan Nasrallah, após crescentes perdas decorrentes do contra-ataque israelense, desde o 8 de outubro do ano passado, deliberou que os seus militantes abandonassem o emprego de celulares. Para que a troca de mensagens ainda ocorresse, os pagers entraram em cena.

Autoria da detonação atribuída ao Mossad

A ação de detonação foi atribuída a Israel e executada por uma das suas agências, o Mossad. Oficialmente, o “Instituto de Inteligência e Operações Especiais” (transliteração do hebraico ha-Mosádle-Modiín u-le-TafkidímMeyuadím) é responsável por ações externas, cujos movimentos são reportados ao Primeiro-ministro, junto com as outras agências como AMAM (inteligência militar) e o Shin Bet (segurança interna).

Geralmente existem quatro maneiras que os institutos ao redor do mundo consigam adquirir informações. A primeira é por meio da inteligência humana, na sigla HUMINT. Nessa, os agentes “no terreno” buscam conseguir planos, intenções e capacidades dos adversários estrangeiros.

A por sinais, ou SIGINT, tem como meta a interceptação e exploração das comunicações e outros sistemas do inimigo.

Já a por imagens (IMINT), consegue informações por meio de satélites, fotografias, eletro-óptica, radar ou sensores infravermelhos.

A última, popularmente conhecida como OSINT, ou Open Source (fontes abertas), é bastante usada porque coleta, traduz e analisa transmissões internacionais, mídia, redes sociais e websites da internet. Ou seja, todas as pessoas podem estar vulneráveis a serem rastreadas através dos mecanismos acima.

E como se deu a execução da atividade de inteligência no Líbano?

Apesar de não ter reivindicado oficialmente a autoria do ataque, Israel nem nega nem afirma que deflagrou a ação. A dinâmica dos acontecimentos aponta para o Mossad, já que a organização possui um histórico de ações desse tipo.

Tomando como base as definições do parágrafo anterior, os agentes do serviço secreto de inteligência coordenados por David Barnea utilizaram um misto daqueles instrumentos.

Primeiro, empregaram a BAC Consulting KFT como terceirizada na compra dos pagers da Gold Apollo, uma empresa taiwanesa. A companhia de fachada, que tinha sede em um edifício residencial, é a que, alegadamente, teria contribuído para a instalação de pequenas bombas que variavam de 20 a 57 gramas.

No dia seguinte (18), walkie-talkies do Hezbollah também explodiram. O tamanho da rede pessoas que conseguiu infiltrar os mecanismos, driblando a segurança ou do porto ou aeroporto de Beirute é incerta.

É provável que agentes infiltrados no grupo extremista libanês tenham alertado o escritório central de que membros do Hezbollah desconfiavam dos pagers. Por essa razão, os movimentos foram antecipados.

As explosões resultaram em 37 mortos e 3.000 feridos, incluindo pessoas que não eram diretamente ligadas ao grupo. O Irã, que é um patrocinador do Hezbollah, teve o seu embaixador, o MojtabaAmani, ferido no ataque.

Escalada das tensões entre Israel e Hezbollah

A escalada de tensões entre Israel e Hezbollah ocorre em um momento delicado da política interna. Após uma semana de grande comoção nacional, coma recuperação de 6 corpos de reféns assassinados pelo Hamasna Faixa de Gaza, promoveram em meio à revolta e tristeza grandes manifestações em todo o país, em especial, Tel Aviv, que chegou a ter cerca de 500 mil manifestantes exigindo a volta dos reféns.

Cenário este que resvala diretamente no premiê Benjamin Netanyahu, numa situação delicada com a população, bem como no seu próprio governo sob a possibilidade de troca do atual ministro da defesa, Yoav Gallant (Likud), que enfrentou outros momentos de altos e baixos durante sua gestão.

Gideon Sa’ar pode assumir a defesa de Israel?

O nome ventilado é o de Gideon Sa’ar (Nova esperança), do campo da direita, sendo uma medida que envolve mais a garantia de sobrevivência para o governo do atual primeiro-ministro do que por uma decisão tática buscando mais eficácia nos resultados da guerra.

Tais medidas ocorrem neste turbilhão que se mostra o cotidiano político, militar e social israelense. É arriscado determinar os próximos eventos no Oriente Médio, enquanto estamos próximos de completar um ano de guerra entre Israel e Hamas. O que observamos é que não está nem perto de acabar, mostrando que, por enquanto, as coisas estão longes de esfriar.

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