Morte do líder do Hezbollah empurra Oriente Médio para terreno desconhecido
Morte de Nasrallah, considerado o homem mais poderoso do Líbano, deve aumentar o risco de desestabilização do país, sendo grabde vitória para Israel
Israel matou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um bombardeio em Beirute nesta sexta-feira (27). O ato representa um duro golpe para o grupo pró-Irã e empurra o Líbano e todo Oriente Médio para um terreno desconhecido.
A morte de Nasrallah, considerado o homem mais poderoso do Líbano, deve aumentar o risco de desestabilização do país, sendo uma grande vitória para Israel contra o inimigo Irã e seus aliados na região.
"Sayed Hassan Nasrallah se uniu a seus companheiros mártires (...) cuja marcha liderou durante quase 30 anos", anunciou o Hezbollah, aliado mais próximo do Irã, quase 20 horas após o bombardeio israelense. Nasrallah morreu ao lado de outros integrantes do grupo armado.
"Um dos maiores inimigos"
"Nasrallah era um dos maiores inimigos de todos os tempos do Estado de Israel [...]. Sua eliminação torna o mundo um lugar mais seguro", afirmou o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari.
Hassan Nasrallah, de 64 anos, era um homem muito influente e venerado entre a comunidade xiita no Líbano. Líder do Hezbollah desde 1992, ele vivia escondido e fez raras aparições públicas nos últimos anos.
Após o anúncio da morte, gritos foram ouvidos em vários bairros de Beirute que abrigam os deslocados das áreas xiitas. O Exército afirmou que a "maioria" dos líderes do Hezbollah foi "eliminada" nas operações israelenses dos últimos meses.
"Ultrapassou todas as linhas vermelhas"
Para o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, Israel segue "uma política de genocídio desde 7 de outubro", cujo novo objetivo é "o Líbano e o povo libanês".
Ao matar Hassan Nasrallah, Israel "ultrapassou todas as linhas vermelhas", afirmou o primeiro-ministro do Iraque, Mohamed Shia al Sudani. O grupo islamista palestino Hamas, em guerra contra Israel na Faixa de Gaza, chamou o assassinato de Nasrallah de "ato terrorista covarde".
Os bombardeios
O Exército israelense iniciou na segunda-feira uma campanha de bombardeios em larga escala contra o Hezbollah no Líbano, após um ano de confrontos na fronteira com o movimento pró-Irã.
O Hezbollah abriu uma frente contra Israel no início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque contra o território israelense de seu aliado Hamas em 7 de outubro de 2023. Desde então, prometeu continuar "até o fim da agressão israelense em Gaza".
Israel afirma que, com os bombardeios no Líbano, pretende restabelecer a segurança no norte do país, alvo dos ataques do Hezbollah, e permitir o retorno de dezenas de milhares de habitantes que foram obrigados a fugir de suas casas.
O bombardeio israelense de sexta-feira na periferia sul de Beirute destruiu dezenas de edifícios, obrigou centenas de pessoas a abandonar suas casas e deixou pelo menos seis mortos, segundo um balanço provisório divulgado pela autoridades libanesas.
Luto de cinco dias
O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, decretou cinco dias de luto nacional pela morte de Nasrallah. A morte provocará "a destruição" de Israel, declarou o primeiro vice-presidente do Irã, Mohamad Reza Aref.
O Hezbollah, financiado e armado pelo Irã, foi criado em 1982 por iniciativa da Guarda Revolucionária iraniana. "O caminho glorioso do líder da resistência, Hassan Nasrallah, continuará e seu objetivo sagrado será realizado com a libertação de Quds (Jerusalém)", afirmou a diplomacia iraniana.
Apesar dos bombardeios israelenses contra os redutos do Hezbollah, o movimento xiita anunciou que disparou foguetes contra o norte de Israel. Mas a maioria dos projéteis foram interceptados.
Pedido de suspensão de voos
O Exército israelense anunciou neste sábado que bombardeou 140 posições do Hezbollah desde sexta-feira à noite. Horas depois, anunciou um novo novo ataque de "precisão" contra um reduto do Hezbollah em Beirute.
Diante da situação, as autoridades europeias recomendaram que as companhias aéreas evitem o espaço aéreo do Líbano e de Israel pelo menos "até 31 de outubro". Várias companhias anunciaram a suspensão dos seus voos para Beirute e Tel Aviv. A companhia aérea Iran Air anunciou o cancelamento das conexões com Beirute.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que está "profundamente preocupado" com a "dramática escalada" em Beirute nas últimas 24 horas, segundo seu porta-voz.
Desde segunda-feira, os bombardeios israelenses deixaram mais de 700 mortos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde libanês. Mais de 50 mil pessoas fugiram do Líbano para a Síria devido aos bombardeios israelenses e "mais de 200 mil estão deslocados" dentro do país, segundo a ONU.
Um ano de confrontos entre Israel e o Hezbollah deixou mais de 1.500 mortes, um número de vítimas superior ao provocado pela última guerra entre os dois lados em 2006.