Líder supremo do Irã afirma que seus aliados 'não retrocederão' ante Israel
Ali Khamenei defendeu o segundo ataque do Irã contra Israel, que aconteceu neste mês de setembro; os mísseis atingiram principalmente Tel Aviv
O líder supremo do Irã defendeu, nesta sexta-feira (4), em um sermão incomum, o ataque com mísseis de seu país contra Israel e prometeu que seus aliados no Oriente Médio seguirão lutando, dias antes do primeiro aniversário da guerra em Gaza.
Esse discurso, pronunciado em árabe e não em persa - idioma mais falado no Irã - é o primeiro do aiatolá Ali Khamenei desde que a República Islâmica lançou o segundo ataque de sua história contra Israel.
Também é o primeiro desde que a violência transfronteiriça entre o movimento islamista Hezbollah e o Exército israelense desembocou em uma guerra no Líbano.
Quase um ano depois do mortífero ataque do movimento palestino Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, que desencadeou o conflito em Gaza, o Estado israelense anunciou que o "centro de gravidade" se deslocou para o norte, na fronteira libanesa.
O ataque do Hamas foi "um ato internacional lógico e legítimo, e os palestinos tinham razão", afirmou Khamenei, cujo país não reconhece o Estado de Israel, em razão da oração da sexta-feira. "A esse regime malévolo (...) não lhe resta muito tempo".
"A resistência na região não retrocederá ante esses martírios e vencerá", acrescentou, referência aos assassinatos de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah morto em 27 de setembro em um bombardeio israelense perto de Beirute, e de Ismail Haniyeh, chefe do Hamas, em um ataque atribuído a Israel em 31 de julho em Teerã.
Israel "não consegue prejudicar seriamente" o Hezbollah e o Hamas, afirmou, destacando que a luta do Hezbollah é um "serviço vital para toda a região".
Na terça-feira, Irã lançou 200 mísseis contra o território israelense, afirmando que se tratava de um resposta pela morte de Nasrallah e Haniyeh.
Segundo uma fonte próxima ao Hezbollah, Nasrallah foi enterrado "provisoriamente" em um local secreto por temor que seus funerais sejam alvo de outro ataque de Israel.
"A operação de nossas forças armadas há alguns dias foi totalmente legítima", declarou o aiatolá, indicando que foi "a menor" das represálias.
O ataque iraniano gerou uma série de ameaças cruzadas entre Israel e Irã, países arqui-inimigos.
O presidente americano, Joe Biden, declarou na quinta-feira que estava "falando" com Israel de possíveis ataques contra instalações petrolíferas do Irã, país que fazem parte dos dez maiores produtores de petróleo.
No Líbano, o Exército israelense realizou um bombardeio contra a região de Masnaa, no leste, provocando o corte da principal rodovia que conecta o país com a Síria.
Israel acusa o Hezbollah de utilizar essa rodovia para enviar armas a partir da Síria. Cerca de 310.000 pessoas fugiram nos últimos dias a partir do Líbano para a Sítia por Masnaa.
Em meio a todos esses ataques, Beirute recebeu nesta sexta-feira a visita do chanceler iraniano, Abbas Araqchi, que prometeu que Teerã está "firmemente ao lado dos amigos libaneses".
Durante a noite, intensos bombardeios israelenses tiveram como alvo o subúrbio do sul de Beirute, bastião do Hezbollah, devastado e agora desértico.
Segundo o site americano Axios, que cita responsáveis israelenses, Hashem Safieddine, possível sucessor de Nasrallah à frente do Hezbollah, era o alvo desses bombardeios. O Exército israelense não confirmou a informação.
Cinco prédios foram destruídos nos bombardeios e o Hezbollah proibiu o acesso ao local. "O chão tremeu sob nossos pés. O céu se iluminou", contou Mohammed Sheaito, um taxista de 31 anos.
O movimento libanês acusou Israel de ter realizado um ataque que "teve como alvo equipes da defesa civil que estavam retirando escombros e tentando recuperar feridos, matando um deles".
No dia seguinte ao início da guerra em Gaza entre Israel e Hamas, o Hezbollah abriu uma frente contra Israel em apoio de seu aliado palestino.
Após trocar disparos na fronteira diariamente durante quase um ano, Israel intensificou seus bombardeios no Líbano desde 23 de setembro e, na segunda-feira, iniciou uma ofensiva terrestre no sul do país, onde nove de seus soldados morreram em combates contra o Hezbollah.
Nesta sexta-feira, a milícia islamista afirmou ter disparado obuses contra militares israelenses na região libanesa fronteiriça de Marun al Ras.
O Exército israelense afirmou que seguiria infligindo "duros golpes" ao Hezbollah para permitir o retorno de 60.000 residentes fronteiriços deslocados pelos constantes disparos de foguetes do movimento libanês contra o norte de Israel.
Segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais, quase 2.000 pessoas morreram no Líbano desde outubro de 2023, entre elas pelo menos 1.110 desde 23 de setembro. O governo libanês calcula que cerca de 1,2 milhão de pessoas foram deslocadas.
Apesar dos apelos à moderação terem se multiplicado nos últimos meses, Israel e Hamas não conseguiram alcançar um cessar-fogo em Gaza.
O ataque do Hamas contra Israel de 7 de outubro deixou 1.205 mortos em Israel, em sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseado em números oficiais israelenses.
A ofensiva de represália israelense em Gaza causou a morte de pelo menos 41.802 pessoas, também civis em sua maioria, segundo números do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.