Deputados franceses derrubam o governo e pedem renúncia de Macron

Blocos políticos derrubam governo de Barnier na França; Macron enfrenta desafios para estabilizar o cenário político e econômico do país

Publicado em 04/12/2024 às 17:33 | Atualizado em 04/12/2024 às 21:34
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Os deputados de esquerda e de extrema direita derrubaram o governo do primeiro-ministro francês, Michel Barnier, nesta quarta-feira (4), com pedidos de renúncia para o presidente Emmanuel Macron, em meio a uma crise política na segunda maior economia da União Europeia (UE).

O primeiro-ministro apresentará sua renúncia ao chefe de Estado nesta quinta-feira, no Palácio do Eliseu, às 10h locais (6h em Brasília).

Por 331 votos a favor, acima da maioria absoluta de 288, a Assembleia Nacional (câmara baixa) pôs fim ao governo de Barnier, que durou menos de 100 dias, rejeitando, ainda, seu orçamento para 2025.

Embora a censura não afete Macron, cujo mandato termina em 2027, ela o enfraquece ainda mais, especialmente após ele ter decidido nomear Barnier, de 73 anos, como primeiro-ministro em setembro, em nome da "estabilidade".

"Para sair do beco sem saída no qual o presidente colocou o país, resta uma solução: pedimos agora a Emmanuel Macron que saia", declarou a deputada Mathilde Panot, do partido da esquerda radical A França Insubmissa (LFI).

Sem pedir diretamente sua renúncia, a líder do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), Marine Le Pen, desafiou Macron, com quem disputou a presidência em 2017 e 2022, a refletir se pode continuar no cargo.

"Cabe à sua consciência decidir se pode sacrificar a ação pública e o destino da França por seu orgulho. Cabe à sua razão decidir se pode ignorar a evidência de um repúdio popular maciço", destacou.

Macron, que chamou de "ficção política" a ideia de renunciar antes do fim de seu segundo mandato, fará um pronunciamento ao país em um discurso televisionado na quinta-feira à noite, anunciou seu gabinete.

Le Pen aparece com força nas pesquisas para a Presidência, mas a Justiça pode frustrar seu sonho se, em 31 de março, decidir inabilitá-la por cinco anos, como solicitou o Ministério Público em um caso de desvio de fundos da União Europeia.

'Orçamento aceitável'

O sucesso da moção de censura tornou o governo de Barnier o mais breve da Quinta República francesa, iniciada em 1958, e no segundo a cair, após o de Georges Pompidou em 1962, quando Charles de Gaulle era presidente.

Sem poder convocar novas eleições legislativas até julho, o presidente Macron parece disposto a nomear um novo primeiro-ministro "rapidamente", antes mesmo da cerimônia de abertura da catedral de Notre Dame, prevista para o fim de semana, segundo seus interlocutores.

Mas, "ainda não há nada decidido", afirma o entorno de Macron, que demorou dois meses para nomear Barnier, cujo partido conservador Os Republicanos (LR) deixou a oposição par governar juntamente com sua aliança centrista, no poder desde 2017.

Em uma Assembleia Nacional sem maioria clara e dividida desde julho em três blocos irreconciliáveis -- esquerda, centro direita e extrema direita --, o jogo parece mais aberto.

Socialistas e ecologistas, membros da NFP, abriram a porta a acordos com a aliança de Macron, mas o ex-primeiro-ministro de centro-direita Gabriel Attal convocou os primeiros a "se libertarem" antes de seus aliados do LFI.

Le Pen garantiu que deixará o próximo chefe de governo "trabalhar" e pediu para que o escolhido esteja disposto a "construir junto" com o RN e a Assembleia "um orçamento aceitável para todos".

Advertência

A negativa de Barnier ao adiamento de janeiro para julho da revalorização das pensões em seu projeto de orçamento de 2025 motivou a extrema direita a finalmente apoiar a moção de censura, apesar das muitas concessões obtidas.

Com um orçamento focado em reduzir os gastos públicos e aumentar temporariamente os impostos para grandes empresas, o governo procurava reduzir o déficit (projetado em 6,1% do PIB em 2024) e a dívida pública (112% do PIB no final de junho).

"Esta moção de censura piora tudo e torna tudo mais difícil", disse Barnier ao final do debate, após ter apelado à "responsabilidade" em um momento econômico tenso, com o prêmio de risco da dívida francesa equiparado ao da Grécia.

O clima social também é tenso. Na quinta-feira está prevista uma greve de funcionários públicos, enquanto prossegue a mobilização dos agricultores, especialmente contra um acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.

A instabilidade na França e a crise de governo na Alemanha, que precisou antecipar as eleições legislativas para 23 de fevereiro, podem afetar a UE, a poucas semanas do retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.

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