Os dados do Censo do Ensino Superior de 2020 revelam uma verdadeira metamorfose no ensino superior brasileiro.
O primeiro fato que nos chama a atenção é a predominância, pela primeira vez, do número total de ingressantes no ensino superior através da modalidade do ensino a distância (EaD) em relação ao presencial.
Enquanto no EaD o número de ingressos foi de 2.008.979, no presencial esse número foi de 1.756.690. O crescimento no EaD, de 2019 para 2020, ocorreu tanto na rede pública como na privada. Na pública o crescimento foi de 48,8%, enquanto na privada, de 25,7%.
No que se refere aos concluintes, considerando ambas as modalidades, presencial e EaD, de 2019 para 2020 houve um aumento de 7,6% na rede privada e uma queda de 18,8% na pública. Em números absolutos, isso corresponde, respectivamente, a um crescimento de concluintes na rede privada de 75.735 e a uma queda de 47.219 no setor público.
É interessante salientar que esse número do setor público é, na verdade, a diferença da queda no ensino presencial de 52.860 concluintes e do aumento de 5.641 concluintes no EaD.
Na rede privada, 64,4% dos alunos concluíram um curso presencial, enquanto 35,6% o fizeram via cursos na modalidade EaD. Mas essa diferença já foi bem maior! Por exemplo, há dez anos, em 2010, 83,2% dos concluintes eram do ensino presencial, enquanto pelo EaD esse percentual foi de apenas 16,8%. A força do EaD se faz cada vez mais presente, tanto para os ingressantes como para os concluintes.
No que se refere às matrículas, houve um aumento de 0,9% de 2019 para 2020: aumento de 3,1% na rede privada e queda de 6% na pública. Em 2020, o Brasil tem 8.680.945 alunos matriculados no ensino superior; desses, 77%, ou seja, 6.724.339, estão no ensino privado.
Mais uma vez se confirma aqui a tendência de queda no ensino presencial, tanto no setor púbico como no privado, e um crescimento notável do EaD no setor privado. Nos cursos presenciais, o número de matrículas caiu 9,4%: queda de 10,8% na rede privada e de 6,4% na pública.
No EaD, houve um aumento significativo de 28,6% de matrículas na rede privada, o que equivale, em números absolutos, a 655.823 matrículas a mais no EaD de 2019 para 2020.
A diferença do ensino presencial para o EaD, no setor privado, vem caindo substancialmente na última década. Em 2010, o percentual de matrículas no ensino presencial da rede privada era de 83,2%, e de 16,8% no EaD; em 2020, esses percentuais são, respectivamente, de 56,2% e 43,8%. Como os ingressantes no EaD já superam aqueles do presencial, em breve as matrículas no EaD irão superar àquelas no presencial.
Essa tendência forte de crescimento no EaD decorre, na minha opinião, da conjugação de dois fatores: a quase extinção do Fies e a pandemia, que aumentou o desemprego e a perda relativa de renda. Em 2014, 21,3% dos alunos estudavam com apoio do Fies; hoje esse percentual é de apenas 1,2%. Sem Fies e sem renda, o caminho mais viável para cursar o ensino superior tem sido através do EaD.
Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados
da USP de Ribeirão Preto.
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