*Por Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
Para Cortella, são forças distintas o conflito e o confronto. O primeiro é bom: remete ao cotejo de pontos de vista divergentes; o segundo é mau: alude a uma tentativa de anular o outro. Por sua vez, Rubem Alves dizia que o ato de ouvir exige a humildade de quem ouve, ou seja, o saber, não com a cabeça, mas com o coração, ser possível que o interlocutor veja mundos que nós não vemos. A confluência de ambos ajuda a entender o homem público Marco Maciel.
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Formado em Direito, foi quase tudo na seara política em mais de cinco décadas, inclusive Presidente da República, nas interinidades dos dois mandatos de FHC. Nunca, porém, feriu o decoro, protagonizou vexames, violentou o vernáculo ou perdeu a discrição. Sempre soube ser um conciliador e como tal foi personagem da história, nunca seu coadjuvante.
Em tempos de intolerância, nos quais, para alguns, divergir é o mesmo que declarar guerra, avulta-se a falta que faz um homem como Marco Maciel.
Não é sábio demonizar a Política, pois sem ela não existe a Democracia plena. Disso já sabiam os gregos na antiguidade. Política não com a conotação pejorativa de hoje, mas enquanto sinônimo de governo da pólis
(cidade) para o bem comum dos cidadãos, permitindo que a coletividade participe das tomadas das decisões e se sinta corresponsável pelo próprio destino.
Marco Maciel encarnou tal arte como poucos. Concorde-se ou não com algumas das suas opções, nunca tratou os adversários como inimigos.
A grande obra dos seus oitenta anos, consolidada ao despedir-se da ribalta da vida pública, abriga-se na sensibilidade de entender que dois monólogos não fazem um diálogo. Seu caminhar pode ter sido interrompido fisicamente pelo Alzheimer, mas prossegue e se eterniza no exemplo ético que legou às gerações futuras.
*Gustavo Henrique de Brito Alves é advogado
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