A amizade entre Jarbas e o eleitor

Joaquim Falcão
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Joaquim Falcão
Publicado em 29/08/2020 às 2:00
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O que é um voto senão um ato de confiança? Votar evidencia laço entre eleitor e político, tecido por várias identidades: ideologia comum, empatia, interesses econômicos, crença religiosa, carisma, opção partidária e tantas outras. Qualquer gesto, sorriso, fala, a distância entre pensamento e a ação, são tecnologicamente captados, visualizados e traduzidos pelo eleitor. Para o bem ou para o mal. A personalidade conta.

Vejam a eleição nos EUA. Donald Trump passa a mensagem de agressivo e onipotente. Enfatiza perigos, competições, medos, armas. O egocentrismo pessoal fundamenta o unilateralismo americano. A exclusão - você está demitido! (you're fired!) - em vez da inclusão. Para Trump, conviver com o outro é risco. Biden não busca a agradabilidade entre eleitor e político, diria Cláudio Souto.

Nesta semana, Jarbas Vasconcelos fez aniversário. Perguntei-me o que liga o eleitor a Jarbas? Lembrei então do laço da amizade, empatia e pertencimento. O PMDB viabilizou a amizade. Jarbas é PMDBista, quase obsessão. A amigo certo nas horas incertas. Pelo partido, fez-se e é amigo dos eleitores. Amizade exige certa permanência.

Foi candidato em 12 eleições: deputado estadual, deputado federal, senador, prefeito e governador. Só perdeu 2 vezes: em 1978 e 1990. Amizade de quase 50 anos na vida pública. Amizade vai além da confiança eleitoral. É convergência com a cultura pernambucana. Coleciona arte popular e artesanato como o ar que respira. Sabe tudo sobre esses seus amigos. Todos entram em sua casa. J. Borges, Maria Amélia ou Zezinho de Tracunhaém.

Amigos em nossa comida. Não na gastronomia de refinamentos e elegâncias. Na comida de verdade. No cozido dionisíaco temperado pelo próprio entusiasmo. Sarapatel, pitu e caju, cabrito, dobradinha, buchada. E cartola. Nélida Piñon, famosa escritora da Academia Brasileira de Letras, diante de um chucrute alemão com salsichas, repolhos, defumados e Barolo, no jantar, se suspirou quase exaurida: "Só gosto de comida que mata!". Como Jarbas.

Amigos no frevo e carnaval. Não esqueço espanto de turista carioca em prévia do Eu Acho é Pouco, em Olinda, apontando: "Mas aquele ali, em pé, balançando em cima da mesa, é o prefeito?". Era Jarbas. Em francês, un homme à femmes.

Não é amizade imprevisível ou fugaz. O eleitor espera inclusive rompantes de coragem, pessoal e política. Cara braba às vezes. De enfezado. De silêncios enigmáticos.

A amizade entre Jarbas e o eleitor nos educa na democracia. "Oi, amigo!". É assim que responde no celular. E na vida.

Joaquim Falcão, é jurista e membro da Academia Brasileira de Letras

 

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