O imaginário em Kamala

DAYSE MAYER
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Publicado em 22/11/2020 às 2:00
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O País estava epopeico naquela manhã de outono: temperatura amena, sol em cumplicidade com a eleição presidencial, avenidas repletas de pessoas. O dia iniciou frio, mas foi esquentando na medida em que os resultados das urnas beneficiavam os democratas norte-americanos. A certa altura, com o sorriso a bailar com a vida, Kamala telefona para Biden: "Ganhamos, Joe! ". Frase e imagem já ingressaram na história.

Kamala, filha de uma indiana pesquisadora de câncer, de um economista jamaicano e neta de um diplomata indiano, é produto de uma sociedade fértil em tradições. Por isso ela recebeu um nome derivado do sânscrito Kamalã ou flor do lótus. A flor, quando branca, tem o significado de sabedoria e pureza espiritual. Não é sem razão - embora outras interpretações sejam difundidas - que ela usou, na celebração pública da vitória nas urnas, um terninho branco. A Vice de Joe Biden representa o pensamento sem preconceitos, a luta sempre acirrada das mulheres pela liberdade, a desconstrução do pensamento hegemônico, a superação individual, o direito de representar-se nos diferentes meios políticos e intelectuais, a mulher convicta dos seus direitos e deveres.

Mas é preciso ser perspicaz em tudo isso: as mulheres inteligentes também carecem de patronos. Dificilmente contam com a ajuda de figuras ilustres do mesmo sexo. Nascida de uma família de intelectuais, Kamala foi primeiríssima em diferentes funções públicas e políticas, mas teve o apadrinhamento do namorado Willie Brown - Presidente da Associação do Estado da Califórnia. Foi ele que a apresentou aos poderosos do establishment político e a conduziu, com expertise, na subida da montanha. Os homens possuem talentos borrados: são pragmáticos, locupletam-se da aptidão das mulheres e têm uma enorme capacidade para a negociação com outros homens. Kamala sabe que o caminho que escolheu é íngreme. Deverá, a certa altura, participar da batalha contra a iniquidade.

Enquanto o combate não ocorre, louvemos a beleza, charme e carisma de Kamala. Tais qualidades assomam no momento em que ela dança, num afago às suas origens, ao som do canto do jamaicano Bob Marley. Letra e música retratam a cartilha política da Vice: paz, ciência, educação, igualdade, preservação ambiental, resistência, preocupação com os oprimidos. Vamos esperar pelo amanhã de Kamala. Também das mulheres ainda invisíveis e marginalizadas.

Dayse de Vasconcelos Mayer, doutora em ciências jurídico-políticas.

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