ARTIGO

A Lava Jato, campeã de popularidade no seu apogeu, amargou um fim melancólico

"O combate à corrupção sistêmica e a qualquer outra criminalidade será sempre viciado na sua origem, porque inconstitucional, se travado com o atropelo das premissas de defesa que são orgânicas ao Estado Democrático". Leia a opinião de Gustavo Henrique de Brito Alves Freire

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
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Gustavo Henrique de Brito Alves Freire
Publicado em 25/02/2021 às 6:03
Tomaz Silva/Agência Brasil
Objetivo da operação Lava Jato é o combate à corrupção - FOTO: Tomaz Silva/Agência Brasil
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O corpo estendido no chão. Há um provérbio chinês que ensina que "quem abre o coração para a ambição, fecha-o para a tranquilidade". Vale sempre refletir a respeito. Há no ar, de saída, silêncio constrangedor. Uma bruma de catatonismo.

Discordantes a pregar no deserto. E, à luz do Sol, um corpo estendido no chão.

"Fofocada produzida por criminosos", disse um Ministro do STF. "Maior escândalo judicial da história da humanidade", afirmou em rebate outro.

Quem será que tem razão na casa chamada Brasil, onde falta tanto o pão? O resultado da atuação da Polícia Federal em investigação ordenada a pedido da autoridade maior à frente da Lava Jato, Sérgio Moro, visando apurar o hackeamento em 2019 dos celulares de diversas autoridades, incluindo-se o do próprio Moro, o que ensejou a Operação Spoofing, está aí. Não é miragem.

A Lava Jato, campeã de popularidade no seu apogeu, amargou um fim melancólico, sem o povo nas ruas, como reflexo da outrora referenciada "colega" Spoofing, palavra que, no linguajar tecnológico, remete ao termo que designa o ataque consistente em falsificar informações e credenciais seja para facilitar o acesso a um sistema ou para ganhar a confiança da vítima na tentativa de extrair dela informações confidenciais. O contexto é grave.

Para além do que já se sabe, resta a certeza de que a persecução penal a qualquer preço, inclusive à base de sussurros, é um bumerangue capaz de voltar-se contra o cidadão comum.

O combate à corrupção sistêmica e a qualquer outra criminalidade será sempre viciado na sua origem, porque inconstitucional, se travado com o atropelo das premissas de defesa que são orgânicas ao Estado Democrático. A principal lição deixada da passagem do tsunami que engolfou a Lava Jato parece essa. Se será ou não compreendida, só o tempo dirá.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado

  *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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