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Professora está sendo convocada a "prestar esclarecimentos" à PF pela colocação de outdoors contra Bolsonaro

"Já que se trata apenas de prestar "esclarecimentos", comunico humildemente à Superintendência da PF que eu mesmo posso prestá-los, sem que haja nenhuma necessidade de constrangimentos morais ou embates ideológicos desnecessários com nossas universidades". Leia a opinião de Flávio Brayner

Flávio Brayner
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Flávio Brayner
Publicado em 16/03/2021 às 6:08
Cortesia/WhatsApp
Outdoors contra o presidente Jair Bolsonaro foram colocados no Recife, em 2020 - FOTO: Cortesia/WhatsApp
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A professora da Universidade Rural, Erika Suruagy (atual vice-presidente da ADUFERPE) está sendo convocada a "prestar esclarecimentos" à Polícia Federal pela colocação de outdoors em algumas cidades do Estado chamando o Presidente de "Senhor da Morte" (o fato se deu em 2020 quando nossas mortes pela Covid chegavam a 120 mil). Já que se trata apenas de prestar "esclarecimentos", comunico humildemente à Superintendência da PF que eu mesmo posso prestá-los, sem que haja nenhuma necessidade de constrangimentos morais ou embates ideológicos desnecessários com nossas universidades. Não que eu me arvore em porta-voz de quem quer que seja, muito menos de uma Universidade a qual nem sequer pertenço: mas já que se trata de simples "esclarecimentos", como diria um personagem de Agildo Ribeiro, "- Possxo esclalhecer?". "- Esclalhecelhei!

Na verdade, "SENHOR DA MORTE" não é uma desonra nem agravo moral para Jair, pelo contrário, trata-se de um encômio: ao elogiar torturadores e responsáveis pela morte e desaparecimento de militantes de esquerda dos anos 70, ele chamou para si o apoio e a cumplicidade moral por aqueles abomináveis atos. Mas ali ele ainda não tinha sido alçado a condição de "Senhor": era ainda simples "ASPIRANTE". Ao ser perguntado pelas mortes da Covid, respondeu "-E daí? Eu não sou coveiro!". E tinha razão, já que a morte mata e são os vivos que enterram: estava dizendo, claramente, que sua função era outra: a primeira! Ali, ele passava de Aspirante a "ADJUNTO". Perguntado novamente sobre a compra de vacinas, mandou seu interlocutor comprar na "casa da mãe", sem designar exatamente de qual Mãe se tratava. Mas ali, ele galgava mais um degrau: de "Adjunto" a "FILHO DA MORTE", longe ainda da condição suprema de "Senhor"! Mas é no momento em que a morte é tratada como "frescura" e "mimimi", Senhora Superintendente, rebaixando a "indesejável das gentes" a um desprezível patamar de banalidade e indiferença, que eu acho que ela alcança uma superioridade inaudita: agora sim, colocando-se acima da "Inevitável", para além da "Irrecorrível", olhando de cima a "Incontornável", é que ele se alça à condição descrita no outdoor: SENHOR!

A professora Erika não fez nada mais do que louvar a ascensão irresistível daquele simples "ASPIRANTE" à condição superior de "SENHOR". Vistos com isenção ideológica, convenhamos que estes outdoors são uma representação estética - aliás, de muito boa qualidade- daquilo que Nietzsche chamaria de "TORNAR-SE AQUILO QUE SE É!".

-"Tá esclalhecido?".

Flávio Brayner, professor da UFPE.

 *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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