Retrato deste país "deitado eternamente em berço esplêndido", e sempre "o país do futuro". Entre 2011 e 2020, o PIB nacional cresce a uma média anual quase nula (0,3%). O pior feito em mais de 100 anos. Em 2019, pré-pandemia, o Brasil - que poderia ter feito obra muito melhor - manteve o pífio padrão de 1,0%. A crise sanitária agrava esse cenário e impõe, em 2020, recessão de -4,1%. Não fossem programas emergenciais de renda (desempregados e estratos sociais mais pobres) e de crédito (para pequenas e médias empresas), a retração teria sido mais severa. Ademais, em 2021, o alívio poderia ser maior - se sem interrupção do auxílio emergencial. E se não fossem negacionismo, omissão e cálculo político do presidente, que deixa a tarefa a cargo de governadores e prefeitos, faltando uma diretriz nacional competente. Repetiu-se, no início de 2021, o costumeiro otimismo destes últimos anos, e alguns economistas anunciaram "o pior já passou" e "forte crescimento econômico". Mais uma vez, impõe-se necessidade de revisão das previsões. A nova onda viral traz ao país caos inimaginável. Desemprego, pobreza e prejuízo na educação dão magnitude inédita à crise social. Difícil de engolir é essa estranha "normalidade" de cidadãos em fanfarra de aglomeração. Não só isso. Aglomerações no transporte público diariamente superlotado, resultado de ação não-coordenada de restrições e reabertura de atividades econômicas, e insuficiente oferta desse serviço. Somos caso ímpar de ausência de testes em massa e de rastreamento do contágio, além de atrasada e lenta vacinação. Assumimos o posto de epicentro da pandemia global. Catástrofe perfeita. "Saiba como age o vírus em ambiente favorável: visite o Lab Brasil".
E a política? Intragável arranjo governo-Centrão. Conveniências, cimentadas por interesses aparentemente nada republicanos. Alguns frutos: tentativa de sagrar a PEC da impunidade parlamentar; acordo para mudar a Lei da Ficha Limpa, aliviando-se a situação eleitoral de alguns parlamentares que respondem à Justiça; a deputada Bia Kicis já é presidente da Comissão de Constituição e Justiça; Carla Zambelli, na Comissão de Meio Ambiente. E Aécio Neves na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Os três, sob investigação, e Aécio com processos se arrastando na Lava-Jato. Até o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, sob investigação de corrupção. Mas vem aí a "a salvação nacional", Lula. Reage-se buscando alternativa democrática, antídoto à polarização nascida com "nós e eles" e agora revestida de "povo contra as elites". O desafio: recusa a sagrar o dito popular "Não existe nada tão ruim, que não possa piorar".
Roberto Alves e Tarcísio Patrício, professores aposentados da UFPE.
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC
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