
Muito já se disse sobre o estilo dos escritores. A frase clássica e imortal é de Buffon: O estilo é a pessoa.
A poesia brasileira, para ficar somente nela, atravessou, como as de outros países, diversas escolas, entre elas o romantismo, o parnasianismo, o simbolismo e o modernismo, assim como o indianismo, na prosa, com José de Alencar e Machado de Assis, que, se na sua primeira fase, com Ressurreição, A Mão e a Luva, Iaiá Garcia e Helena, ainda sentia a influência do romantismo, foi-se libertando dele, aos poucos, para tornar-se um livre atirador, se assim podemos dizer, a partir de Dom Casmurro, sem se prender aos cânones de qualquer movimento literário.
Na poesia, o romantismo teve em Gonçalves Dias seu primeiro representante, seguido por outros. Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá. O melhor deles, o condoreiro Castro Alves, que Manuel Bandeira e Marcus Accioly consideravam o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Sua boca era um pássaro escarlate. Auriverde, pendão de minha terra, que a brisa do Brasil beija e balança. Quanta musicalidade! Adoro Casimiro de Abreu, com as saudades de sua infância, que os anos não trazem mais, Álvares de Azevedo e, sobretudo, o genial Fagundes Varella, mas meu coração tende para o simbolista Cruz e Sousa, o Cisne Negro de broquéis.
A CEPE acaba de lançar, em boa hora, um livro importantíssimo, João Cabral de Ponta a Ponta, de Antônio Carlos Secchin. A primeira versão da obra, com o título João Cabral: a poesia do menos, sugerindo as afiadas peixeiradas pernambucanas nas gorduras melosas, prolixas, verborrágicas, sentimentalóides dos versos, foi publicada em 1985 pela livraria Duas Cidades. Agora, em comemoração ao centenário de nascimento de Cabral, esse livro de Secchin é uma homenagem ao vate menino de engenho. Segundo o autor, o tomo procura interpretar a poesia de João Cabral de Melo Neto a partir da hipótese de que ela se constrói sob o prisma do menos, eis que seu texto é deflagrado por uma ética de desconfiança frente ao signo linguístico, sempre visto como portador de um transbordamento de significado. Penso que Secchin esgota o inesgotável, intrincado e polêmico assunto cabralino, referindo-se ainda à ética do corte, o controle do discurso. A polêmica entre Drummond e Cabral e outras considerações. (...) a forma atingida como a ponta do novelo que a atenção, lenta, desenrola. (Psicologia da composição). Imperdível.
Arthur Carvalho - Academia Pernambucana de Letras - APL
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