ARTIGO

Assistimos a um desfile de estupidez sobre a pandemia

"Em 12 meses, assistimos a um desfile de estupidez em grupos de WhatsApp sobre a pandemia, que foi de 'criação da mídia', passou por uma 'gripezinha' até chegar a remédios milagrosos". Leia a opinião de Paulo Dalla Nora Macedo,

Paulo Dalla Nora Macedo
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Paulo Dalla Nora Macedo
Publicado em 20/03/2021 às 6:04
RICARDO WOLFFENBUTTEL/GOVERNO DE SC
ESTUDO Esse é o primeiro relato de vírus respiratório a se replicar na boca - FOTO: RICARDO WOLFFENBUTTEL/GOVERNO DE SC
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Muitas pessoas inteligentes, bem-sucedidas e bem-intencionadas ainda não perceberam o tamanho do desafio em que estamos metidos. Viram e veem amigos, colegas, sócios e conhecidos, que também podem ser inteligentes e bem-sucedidos, atacando o isolamento social, as máscaras e até a vacina. Em 12 meses, assistimos a um desfile de estupidez em grupos de WhatsApp sobre a pandemia, que foi de "criação da mídia", passou por uma "gripezinha" até chegar a remédios milagrosos.

Ao serem bombardeadas por dantesca insanidade de pessoas que conhecem, as quais até podem admirar em alguns aspectos, é natural que floresça um sentimento de tentar convencê-las, afinal, se confrontadas com fatos e lógica, iriam convergir para uma visão racional. No entanto, sinto dizer que esse esforço é inútil e, se não entendermos isso, vamos cair na inação, que na nossa situação atual significa a possiblidade de morrer ou perder um ente querido.

Huval Harari, um dos maiores pensadores do nosso tempo e autor de Homo Deus, foi preciso em seu diagnóstico em uma entrevista em fevereiro para a Editora-Chefe da revista The Economist: "lembre que era perfeitamente compatível para várias pessoas inteligentes e técnicas assistirem aos discursos de Otto Eichmann, chefe da SS Nazista, com as mais fajutas alegações sobre a superioridade ariana, e depois voltarem para as suas funções que exigiam grande precisão e conhecimento". Recentemente tivemos uma prova inequívoca dessa realidade em relação a nossa batalha contra o COVID: a cardiologista Ludhmila Hajjar, que foi sondada para o cargo de Ministra da Saúde - e seria o quarto nome a ocupar a posição em menos de 12 meses -, deu uma entrevista à rede CNN e à Globo News. Nela, relatou que em 24 horas recebeu ameaças nas redes sociais e até uma tentativa de invasão de seu quarto de hotel em Brasília; tudo isso por concordar com as medidas de grande convergência no mundo para o combate à covid-19.

O que devemos fazer então se queremos aumentar nossas chances de não sucumbir à doença e não perder familiares e amigos? Devemos isolar essas vozes, tendo o entendimento de que se trata de uma ação para preservarmos nossa própria saúde. Em todo espaço em que lhes é permitido professar o tipo de credo que Yuval Harari detectou como imune à razão, elas vão fazer e isso vai custar vidas. Concretamente, estou me referindo a grupos de WhatsApp, conversas informais etc. Infelizmente ficou claro que não vamos ganhar essa guerra pela vida através do convencimento ou com medo de ferir suscetibilidades: não podemos dar espaço ao vírus e não podemos dar espaço as vozes do negacionismo. Se você ocupa uma posição de liderança, mesmo como administrador de um grupo de WhatsApp, a responsabilidade também é sua.

Paulo Dalla Nora Macedo, economista e vice-Presidente da Associação Política Viva

 *Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

 

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