Opinião

Viva a demagogia

"Um dos truques mais eficientes na história da malandragem universal é usar a desinformação e a demagogia para virar herói ou lucrar com a ignorância alheia". Leia a opinião de Márcio Chaer

MÁRCIO CHAER
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MÁRCIO CHAER
Publicado em 22/03/2021 às 6:31
Foto: Antônio Cruz / ABr
Ex-ministro Antonio Palocci - FOTO: Foto: Antônio Cruz / ABr
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Um dos truques mais eficientes na história da malandragem universal é usar a desinformação e a demagogia para virar herói ou lucrar com a ignorância alheia. Em todas as épocas e países, da Alemanha nazista às "revoluções" comunistas ou golpes militares, oportunistas e vigaristas de sempre saem pelas ruas gritando "pega ladrão".

O fenômeno foge da esfera racional. O segredo do sucesso é provocar emoções, faturar a imagem de paladino da justiça e, quando a farsa é desmontada, sair de fininho, pela porta dos fundos da história.

Recentemente, o advogado José Paulo Cavalcanti Filho publicou aqui que o então presidente do Superior Tribunal de Justiça trancou, em 14 de janeiro de 2010, no recesso forense, processo que levou o apelido de "castelo de areia". No equivocado fundamento invocado por José Paulo, a decisão teria se valido do "argumento pífio" de que a origem da "denúncia" era anônima. Mais: que o ex-ministro Antonio Palocci teria confessado que comprou a decisão.

Na vida real, quem encerrou o processo da denominada "castelo de areia" foi a Sexta Turma do STJ (em julgamento que o então Presidente do STJ não participou, pois dessa Turma jamais foi integrante), sendo relatora a Ministra Maria Thereza de Assis Moura, cuja decisão foi, posteriormente, confirmada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. O fundamento real: o juiz de primeira instância, em face de denúncia anônima, determinara a quebra do sigilo telefônico de todos os usuários de todas as operadoras do Brasil. Pior: o que o Ministério Público colhera com isso era material imprestável. Não havia, portanto, "prova de nada".

Palocci, criminoso confesso, condenado e preso, para comprar a sua liberdade fez uma delação que a própria "força tarefa" do Ministério Público Federal de Curitiba recusou por não existirem elementos de corroboração para o que foi dito.

Sobre a tal "castelo de areia", Palocci disse que "ouviu dizer" que alguém teria pago para obter essa decisão sem, contudo, nunca dizer quem pagou.

José Paulo é um homem de coragem. Diz que a decisão atrasada de Edson Fachin sobre a incompetência de Curitiba, nos processos de Lula, foi mutreta. Segundo ele, o fato de os famosos sítio e apartamento, mais o Instituto Lula ficarem em São Paulo, significa que a competência judicial é de Curitiba ou Brasília. Claro.

O autor do artigo em questão, certamente, é um atento leitor dos processos que comenta. Bom para seus leitores. Ruim seria se ele formasse juízo de valor com base em notícias falsas, plantadas pela camarilha de Curitiba para emparedar ministros do Supremo. Até porque, quem fizer isso, corre o risco de ser chamado de vigarista.

Márcio Chaer, jornalista e lê os processos que comenta

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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