Diz a máxima que nem Cristo agradou a todos. Pode-se facilmente estendê-la ao lockdown, estrangeirismo vocabular que se popularizou graças à pandemia.
De tanto que o termo é falado e repetido, mesmo quem não domina a língua inglesa faz ideia do que ele significa. Lockdown é a versão mais rígida do distanciamento social. É uma imposição do Estado que remete à noção de bloqueio total. No cenário pandêmico, é a mais rigorosa a ser tomada e serve para desacelerar a propagação do novo coronavírus (a curva epidêmica), quando as medidas de isolamento e de quarentena não são suficientes e os casos de contágio aumentam vertiginosamente.
É notório que o lockdown não alcança e está longe de alcançar a unanimidade. O que parece não tão polêmico é que ele deve ser limitado a situações extremas e que precisa estar acompanhado de um planejamento governamental claro. É essencial saber o que fazer para dar sustentação material às pessoas, desde o pequeno ao micro ao médio ao grande empresário. Não pode existir antagonismo entre saúde e economia. Lockdown não é ilusão coletiva, palpite, intuição, nem teoria.
Se medidas assim podem diminuir substancialmente a taxa de infecção não somente por casos importados, mas também por contaminação local, não devem ser infinitas, nem desacompanhadas da preocupação de amparar o empregador e proteger o emprego.
Não dá para suspender um lockdown e deixar que o vírus se espalhe sem controle, o que acarretará em consequências econômicas desastrosas, nem se pode transferir para o mercado a tarefa de regenerar-se e refazer-se dos ferimentos sozinho.
Salvar vidas, bem assim a economia, é o grande desafio. Vencê-lo, a grande incógnita. Ignorá-lo, o supremo equívoco. O vírus não dorme em serviço. Nem existe civilização sem atividade econômica.
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado
*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC
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