Um dos maiores ícones da cultura pernambucana é alvo do descompromisso que acompanha há quase uma década a gestão pública no Estado. O que Capiba representa para a nossa música, e para a alma popular, mereceria um pouco mais de respeito. A casa onde morou o mestre do frevo, no Espinheiro, foi desapropriada com mil promessas, pelo governo Paulo Câmara, em 2017. E já se vão quatro anos sem que nada tenha sido feito para, sequer, preservar o patrimônio material contra a deterioração do tempo. A casa de Capiba é mais um exemplo de como as promessas da atual gestão no Palácio do Campo das Princesas caem no esquecimento.
O abandono é gritante. O lixo acumulado revela a completa falta de zelo, verdadeira afronta à memória e à importância do grande compositor. Onde se aguarda o cuidado com a história cultural para disseminação da arte e da poesia, vê-se a ausência de portões e janelas, mofo nos muros, cupins nos móveis, folhas e galhos espalhados nos pisos, paredes rachadas e descascadas, fiações expostas, buracos no teto e telhas caindo. É a própria cultura que se acha em ruínas quando o poder público estadual assume uma missão de preservação e difusão, sem fazer nem uma coisa, nem outra. Se a questão é falta de recursos, por que não foram atrás de parcerias com a iniciativa privada, com o objetivo de resgatar e valorizar um dos principais nomes do frevo e do Carnaval no Brasil? O pior é que nem a administração básica do imóvel foi realizada, deixando-se o legado simbólico de Capiba ao relento, em triste silêncio. Os vizinhos reclamam não ver nem uma varrição.
Quatro anos depois da desapropriação, o governo do Estado lançou protocolar nota, reiterando a promessa de fazer do espaço um destino turístico, afirmando que estão sendo procedidos estudos internos para a reforma da casa. A lentidão de um governo no gerúndio, que tem no atraso a marca registrada, não chega a causar surpresa. Basta lembrar outras obras que se arrastaram, como o Teatro do Parque e o Ginásio Geraldão, estas pela Prefeitura do Recife, também ocupada pelo PSB.
O processo de tombamento em curso não é empecilho para que providências de gestão sejam tomadas, com a responsabilidade que cabe ao poder estadual, após o lance de propaganda da desapropriação. Desapropriar não é abandonar, e sim, apropriar-se, em nome da população, de um bem privado, para uso público. Pernambuco espera que Capiba seja logo retirado do esquecimento a que foi submetido, voltando a ter o tratamento devido pelos representantes da coletividade.
Priscila Krause, deputada estadual.
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