Em curso a restauração do Parque das Esculturas, símbolo da vocação ultramarina do Recife. Nenhuma cidade do mundo tem monumento tão singular, como o que o Mestre Francisco Brennand presenteou a capital de Pernambuco, na passagem do milênio.
O Parque das Esculturas é um instigante museu a céu aberto que celebra os 500 anos de descobrimento do Brasil. Integrado à Praça do Marco Zero, harmônico com ela, sob a inspiração da Rosa dos Ventos de Cícero Dias, com sua frase seminal: "Eu vi o mundo, ele começava no Recife".
De rara beleza, é motivo de encanto para os moradores da cidade e os turistas que passeiam os olhos, atônitos, dos edifícios que circundam a praça até a Torre de Cristal, peça principal entre as 90 esculturas que transportam a mística da Várzea para iluminar o local onde a cidade nasceu.
O limite entre o sagrado e o profano é invisível. Essa foi a sensação que tive a primeira vez que vi a Oficina Brennand. Cada milímetro daquele lugar ativa uma emoção diferente. O impacto estético é assombroso. Pássaros míticos, colunas inclementes, o ovo da criação, o cisne da noite negra, a magia do mistério, "as ruínas circulares". Adão e Eva e sua pecaminosa descendência, o desejo, o amor, a solidão, a natureza, a caça, o barro que se amassa para dar vida ao que estava adormecido. Lugar místico, mágico, delirante, mas, ao mesmo tempo, sóbrio, enigmático, provocativo, esplêndido, o reino de um artista único, o grande duende. Aquele templo sob o sol é uma metáfora da beleza, do sublime que habita em cada homem sobre a terra, do quanto temos de caminhar, ainda, para desvendar o caroço das coisas. Francisco fez um templo para adorar os deuses, mas entregou-o aos nossos olhos pagãos.
A importância da obra de Brennand faz do Parque das Esculturas um acervo que impõe a todos nós, poder público e sociedade, moradores do Recife, em especial, o dever de zelo com esse pequeno-grande tesouro, que magnifica, simboliza e embeleza a nossa cidade. À altura da sua história libertária, em reverência às bandeiras azuis que guarnecem as suas líquidas fronteiras e a esse povo guerreiro, que extrai da lama dos manguezais o alimento para resistir às adversidades de cinco séculos. Destinei R$ 3 milhões em emendas parlamentares para ajudar ao Prefeito João Campos a executar a restauração desse inestimável patrimônio e, claro, como garimpeiro dos encantos dessa velha aldeia de pescadores, sempre que posso, tomo um barquinho e perco-me no molhe dos arrecifes, entre tartarugas, pelicanos, ovos, maçarico, pássaros roca, tendo a certeza de que "é dos sonhos dos homens que uma cidade se inventa".
Tadeu Alencar, procurador da Fazenda Nacional e deputado federal (PSB)
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